Sinceramente, eu não esperava muito de Shirobako, um anime do qual eu nem sequer ouvi falar na época em que lançou. Além disso, sabe aquele sentimento “nunca ouvi falar disso aqui, logo não deve ser tão bom assim”?
Pois é. Essa foi minha primeira impressão.
Certamente, em quase todas as vezes, tal pensamento está relativamente certo. Mas eu disse quase.
O gosto das pessoas tende a ser genérico.
Existem até estudos que comprovam isso. Não pretendo aprofundar aqui, mas se você é uma pessoa que costuma consumir qualquer tipo de mídia relacionada à cultura pop, você não precisa de estudos estatísticos te evidenciando que de fato existem fórmulas que auxiliam um título à obter notoriedade no mercado.
Contudo, Shirobako é um título que definitivamente não segue tais fórmulas. Pelo menos não de maneira cliché genérica.
O anime trabalha principalmente a sensação de “realidade”, e isso é um fator que talvez acabe por chatear aqueles que busquem histórias fantasiosas e surrealistas.
Aquele pessoal que só assiste desenhos para fugir da realidade nua e crua do mundo, sabe?
Por ser um slice-of-life, ressalto que Shirobako não conta com um plot cheio de reviravoltas e atos grandiosos.
Tudo bem que alguns animes de dia a dia, como Bakuman, podem acabar sendo pontos fora da curva já que também são shounen. Cara, eu odeio usar “shounen” como gênero, mas você me entendeu.
Não quero entrar no mérito aqui qual obra é melhor, porque eu amo os duas.
Embora, acho importante termos tipos diferentes de animes no mercado: aqueles que nos fazem sonhar alto demais, como Bakuman, e aqueles que nos fazem sonhar com os pés no chão, como Shirobako.
Na verdade, a categoria “pés no chão” poderia ser facilmente liderada por Shirobako.
O sonho que bateu de frente com a dura realidade em Shirobako
O núcleo principal do anime é formado por 5 jovens mulheres que querem realizar um sonho: fazer um anime juntas. Este sonho já as acompanha desde a época que elas regiam o clube de animação do colegial.
Apesar da existência do grandioso sonho, a história de Shirobako é focada em passar o dia a dia de um estúdio de animação japonesa, onde é mostrado todo o passo a passo da produção de maneira bem didática e interessante, enquanto, claro, desenvolve a motivação das protagonistas.
Em especial, acompanhamos a protagonista Miyamori Aoi (uma das 5 garotas), que começa a história como assistente de produção em um estúdio “fundo de quintal”, chamado Musashino Animation.
Apesar de ser um estúdio pequeno, a Musashino passa a sensação de “lar”.
Provavelmente porque todo mundo ali era muito gente boa, ou talvez porque todo mundo praticamente morava lá. As rotinas de trabalho dos colaboradores são INSANAS.
Pode-se dizer que a história segue com alguns altos e baixos, mostrando com perfeição a vida de um adulto comum. Ou seja, dias de luta, dias de glória.
Temos momentos tristes e desesperadores, onde os personagens conseguem passar essa insegurança e todas as suas dificuldades através de expressões, muitas vezes nem precisando de falas para mostrarem quão complicada está a situação.
Também temos horas em que o anime mostra que o trabalho duro é compensador.
Em outro artigo aqui da Cúpula eu citei um artista francês chamado Thomas Romain, onde ele diz algo como: no Japão, você só é reconhecido se você se esforçar igual todo mundo. E lá todo mundo se esforça para um caralho.
Em Shirobako, a rotina é retratada com fidelidade
A rotina do trabalhador da área de produção de animes é mostrada à risca, como antes eu comentei.
O anime mostra os momentos de devaneio, de inspiração, de fracasso, de sucesso, de redenção… enfim, temos muitos momentos realisticamente marcantes.
Na verdade, ficou tão real que talvez aqui surja talvez o único ponto negativo que encontrei na obra: uma narrativa um pouco lenta. Tinham episódios em que realmente não acontecia muita coisa. Eu sei que se trata de um slice of life, mas, mesmo assim, ficavam massantes.
Com “realisticamente marcantes” eu quis dizer que, assim como na vida real, em Shirobako, os personagens as vezes só querem um reconhecimento ínfimo por parte de um superior ou de uma figura que você admira dentro de seu ambiente de trabalho.
O elenco é tão humano que ao terminar o dia você pensa “Aoi-chan, você trabalhou muito bem hoje. Pode dormir feliz e tomar uma gelada”.
Eu, por exemplo, se não consigo me sentir “produtivo” no dia a dia, acabo dormindo mal por estar insatisfeito. Claro, fora toda a ansiedade acumulada que a nossa vida põe nos nossos ombros e tal. Você pode me acompanhar falando esse tipo de coisa no twitter, aliás.
A história conseguiu transmitir para mim tais sentimentos com sucesso, por isso simpatizei muito com o desenho japonês.
Evolução profissional e pessoal!
Ver a evolução da protagonista e de suas colegas com o passar dos episódios é de tirar o folego, ainda mais quando a história faz questão de deixar bem claro que se virar nessa indústria não é uma tarefa trivial.
As garotas, após formadas, sentiram na pele que não seria tão simples assim conseguir realizar o sonho do falecido clube de animação.
Na verdade, perceberam que já é bem difícil sequer conseguir um emprego na área.
A narrativa e os eventos dão tempo para as meninas irem digerindo os acontecimentos e irem evoluindo, tudo com o passar de tempo aceitável e plausível, elevando o teor realista da obra a outro patamar.
Além disso, o amor fraternal presente no grupo delas é cativante e caloroso, também.
O apoio constante das amigas com certeza foi o ponto chave para elas segurarem as pontas e darem um jeito em suas vidas, na medida do possível, logicamente.
Personagens marcantes de Shirobako
Falando de forma geral, o design dos personagens é, em poucas palavras, sensacional.
Nunca vi tantos personagens bem vestidos por metro quadrado, e sempre com roupas diferentes! O padrão de animes desse tipo costuma fazer o núcleo principal estar sempre com o mesmo look.
Os personagens que fazem suporte ao elenco principal também são carismáticos à beça.
Lembrar o nome de todos é difícil, já que são de outra nacionalidade e tal, mas na boa, se fossem nomes brasileiros eu conseguiria apontar para eles e nomeá-los um a um, de tão bem trabalhados e marcantes que eles são.
Por meio das relações dos personagens também são mostradas as adversidades que as pessoas costumam enfrentar no dia a dia, como ter de aturar profissionais não qualificados ou preguiçosos demais.
Ninguém gosta de gente assim. E Shirobako conseguiu passar muito bem esse sentimento de “dia a dia do trabalhador”.
Parte técnica de respeito, hands down
Se já não bastasse ser satisfatório demais poder acompanhar tudo isso, fica ainda melhor com uma animação completamente hipnotizante de tão boa e consistente, acompanhada de uma trilha sonora envolvente e caprichada.
Uma pena as aberturas e encerramentos não terem sido igualmente excepcionais.
A paleta de cores adotada no anime é cheia de vida e deixa quem assiste para cima, apesar de que, nos momentos de tensão e tristes, a direção de arte optou sabiamente por cenas chuvosas e cinzentas, para passar uma maior sensação de aflição ao telespectador.
Ao meu ver a parte técnica é impecável.
Chega a ser irônico o fato de Shirobako ser um “anime sobre fazer animes”, que mostra que o mundo da animação é algo muito, mas muito complexo e inconsistente, onde as vezes, quando tudo parece que vai dar certo, não dá, e você realmente pode acabar no fundo do poço.
Entretanto, mesmo assim, os produtores de Shirobako entregaram um anime com uma qualidade atordoadora de tão foda!
Finalizando…
Shirobako foi uma experiencia similar à de Bakuman, porém Bakuman remete mais a um shounen mesmo, onde temos mais ou menos uma Jornada do Herói.
Já em Shirobako, as personagens são seres humanos comuns, vivendo o dia a dia comum. Mas não há nada de anormal ou ruim nisso. Somos todos comuns, afinal.
A diferença, é que o elenco de Shirobako passa a sensação de “vida real de verdade”, realidade essa onde o impossível é impossível, mas, com o devido esforço, o possível certamente será alcançado.
Sendo assim, Bakuman me admirou. Mas Shirobako? Shirobako me inspirou.
Lá na introdução, mencionei algo sobre Shirobako ter sido ofuscado por outras obras em seu ano de lançamento, e além disso muitos nem sequer ouviram falar dele.
Apesar de ter parecido um ponto negativo, isso foi um ponto super positivo para a minha experiencia para com o anime, porque Shirobako me pegou desprevenido, de surpresa.
Sua bomba de qualidade, roteiro e narrativa perfeita me explodiram com emoções que fazia tempo que não sentia!
Angústia, tristeza e felicidade são os sentimentos predominantes que passam pelo seu peito à medida que você avança nos episódios desse anime original do estúdio P.A. Works (mesmo de Angel Beats, Another, Charlotte).
O anime ainda trabalha com diversas referencias à outros animes e mangás. Além disso, cara, eu ADOREI aquela musiquinha do Andes Chucky!
Sendo assim, por favor, assista Shirobako. Além de aprender sobre a incrível indústria da animação japonesa, veja, porque você terá uma experiencia única que um anime do gênero slice of life “pés no chão” pode te oferecer.
Adorei. Então dou um…
Nota
/10
Eu achei incrível, de verdade. Me comoveu, me ensinou e me entreteve de uma maneira bem única e legal. E você?