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Análise

Yagate Kimi ni Naru (Bloom into You) é bom? Vale a pena ver o anime? | Crítica

É meu 1º shoujo-ai e eu gostei muito de Bloom into You
18 minutos para leitura

Você já se sentiu estranho(a) por não conseguir se sentir atraído por outras pessoas? Chegou a passar por aquele “desabrochamento sentimental” que costuma ocorrer na adolescência? 

Sabe, aquela fase onde dizem que as garotas amadurecem antes dos garotos. Você teve algum tipo de angústia/decepção/conquista amorosa durante ela? 

Ou, talvez, você já tenha se encontrado sendo incapaz de corresponder os sentimentos de uma pessoa porque você ainda não consegue afirmar o que de fato te atraí? 

Tendo vivenciado alguma das situações antes citadas ou sentindo interesse em acompanhar a vida de duas garotas que vivem tal realidade confusa, insegura e desprovida de sentimentos em alguns casos, Yagate Kimi ni Naru (Bloom Into You) é um anime para você.

Yagate Kimi ni Naru conquistou sua adaptação para anime, sendo lançado na segunda metade de 2018. O anime foi produzido pelo estúdio Troyca (mesmo de Aldnoah.Zero, Re:CREATORS), dirigido por Makoto Katou e teve o roteiro construído por Jukki Hanada.

Sendo franco, foi a primeira obra de shoujo-ai (romance homossexual feminino) que assisti. Ou melhor, que me atraiu a ponto de me fazer clicar o “play” no primeiro episódio.  

Sempre tive um pouco de medo de adentrar nos gêneros shoujo-ai e shounen-ai, pois a internet está lotada de takes retratando a quantidade elevada de fan services forçados presentes nestes gêneros (eu sei que não é o caso de todas, mas mesmo assim me sentia afugentado). 

Que bom que eu resolvi dar uma chance para a adaptação do mangá da senhorita Nio Nakatani.

Antes de prosseguir com a análise, é bom deixar algo bem claro por aqui: Bloom Into You, mais do que uma simples história de amor entre um casal de garotas, é a história do processo de autoconhecimento das protagonistas.

Protagonistas de Yagate Kimi ni Naru
“À esquerda, a mascarada. À direita, a flor ainda não desabrochada”

A história

Tratando-se de um anime slice of life, e por trazer personagens pertencentes ao âmbito colegial, não há de fato uma história cheia de reviravoltas e fatos interessantes em Yagate Kimi ni Naru.

Em outra postagem aqui da Cúpula, comentamos um pouco sobre a fórmula utilizada dos animes megahits. Em Bloom Into You, a fórmula presente seria a citada bem no começo do artigo, que fala sobre shoujos normalmente se manterem na safezone.

Ou seja, trabalham dentro do que já é senso comum quanto a “dar certo” quando o assunto é drama/romance adolescente.

A história compreende o padrão clássico de animes colegiais: tem o arco onde os protagonistas e suas ânsias são introduzidos, o arco do evento cultural; o arco onde eles vão para uma casa de campo passar a noite juntos (neste caso foi a própria escola, mas dá no mesmo) e episódios esporádicos de drama e encontros no aquário. 

Felizmente, hoje em dia entendo que não vale a pena problematizar demais roteiros clichés se a proposta do anime não é trabalhar a uma história profunda ou um ambiente enigmático, mas sim focar nos personagens e seus problemas. Todavia, ainda acho que um pouco mais de originalidade traz só benefícios a qualquer obra. 

Nesses animes, a falta de um climáx grandioso é perfeitamente normal, já que a proposta deste gênero é acompanhar o desenvolvimento, amadurecimento e o dia-a-dia de um ou mais personagens. 

Comentei sobre isso na minha parte 1 de recomendação de slice of life, mas o objetivo é o drama dos personagens, que ora é medíocre, ora é justo.

É importante que o(a) mangaká consiga criar personagens carismáticos a sua maneira, para que o público sinta empatia enquanto lê/assiste a obra. Afinal, os bons seres humanos são movidos por empatia.

A protagonista incapaz de amar, porém carinhosa

Em Yagate Kimi ni Naru, acompanhamos a protagonista, Koito Yuu, em sua jornada para encontrar o amor. 

Yuu sempre foi uma consumidora ávida de conteúdo shoujo. Sendo assim, ela tinha uma ideia “idealizada” de romance. Para ela, amar alguém seria se sentir flutuando, se sentir leve, como se ficasse com os pés fora do chão.

No ensino fundamental, Yuu tinha um melhor amigo que a fazia se sentir bem só estando perto dela, e, influenciada por seus mangás, ela começa a achar que gosta do rapaz.

No dia da formatura do fundamental, o garoto se confessa. Mas nossa heroína não sente nada. Ela fica com os pés presos no chão. Fixos, como raízes. Sem chance de flutuar. Não há amor.

Yuu pede então tempo ao garoto para responder, e é aí que começa a história que nós telespectadores acompanharemos.

Agora, no ensino médio, Yuu se encontra numa situação triste e melancólica. Será ela incapaz de amar? Será ela desprovida de sentimentos amorosos? Existiria algo mais triste do que isso?

Você talvez possa estar pensando: “ah, lá vem, ela não sentia nada por homens, mas ela vai descobrir que é lésbica na verdade, e aí vai desabrochar. Que cliché”. Há um pingo de razão em tal pensamento, mas Bloom Into You não é tão simples assim. Chegarei lá.  

Yuu, de Bloom into You
“Yuu também quer poder sentir o sentimento caloroso de amar alguém”

A protagonista forte, porém fraca

Nanami Touko, a outra protagonista, é um ano mais velha que Yuu. Ela é uma estudante exemplar e uma belíssima senpai com quem todos os estudantes podem contar. 

Touko exala uma aura de segurança e confiança, diferente de Yuu, que passa mais a sensação de amizade e carinho. 

Apesar de toda a popularidade devido sua forte personalidade tipo “pode contar comigo”, tudo é apenas uma máscara que Touko veste. A senpai de Yuu na verdade se odeiam. A garota não suporta ser quem ela é realmente é, pois, na verdade, ela é uma garota insegura, fraca e ansiosa. 

Após um traumático acidente envolvendo sua irmã mais velha, Touko resolve começar a viver como sua irmã (acredito que em forma de negação ao acontecimento). Ou seja, Ela decide abandonar sua personalidade “fracassada” e assume a de sua querida e admirada irmã.

Então, pensando estar resolvendo um problema, Touko resolve se tornar o exemplo que sua irmã aparentava ser para todos: um porto-seguro que esbanjava confiança. 

Daí vem a “máscara” que Touko veste em seu dia-a-dia, mesmo que por dentro tenha uma personalidade insegura.

Cá entre nós, todo mundo um dia já tentou ser quem não é. Seja para atrair um amor, para pertencer a um grupo específico ou para conquistar uma vaga de trabalho, sei lá. Estou errado? 

Máscaras não duram para sempre

Contudo, algumas máscaras podem até durar mais do que outras, mas todas elas caem um dia. Você precisa ser quem você é. Se não gosta de quem você é, precisa mudar por dentro. Evoluir espiritualmente, digamos assim. 

Thich Nhat Hanh, um dos mestres do zen-budismo mais respeitado da atualidade, afirmou certa vez: “Ser belo significa ser você mesmo. Você não precisa ser aceito por outros. Você precisa aceitar a si mesmo. “ 

Apesar dos apesares, Touko ainda tem forças para manter sua falsa imagem, porém isso está corrompendo-a por dentro. Infelizmente, ela já detesta sua personalidade original, a ponto de declarar sentenças como: “Eu preferia morrer a voltar a ser quem eu era antes”.

Sinceramente, eu achei um pouco de exagero neste drama. Afinal, não é como se ser inseguro fosse motivo para alguém morrer. Mas não vou entrar no assunto “depressão” aqui. Não sofro dessa doença psicológica, então vou ser o cara babaca que vai dizer: se tem depressão, basta sorrir para vida! 

Nanami Touko com um livro na cara, de Yagate de Kimi ni Naru
“Será que essa parte da openning representa uma máscara? ”

A formação do casal

Como então uma protagonista encontrou o aconchego na outra, já que ambas são meio que “problemáticas” e não tem nada a ver entre si? Bom, se parar para analisar, ficará bem simples entender.

Yuu quer se tornar capaz de ter sentimentos amorosos, mas não consegue. Ela quer se sentir com os “pés fora do chão”. Para isso, ela precisa entrar em uma profunda jornada de autorreflexão para se conhecer melhor. Ainda, ela precisa de um gatilho; alguém que a provoque de forma amorosa. 

Touko, por outro lado, se odeia. A rejeição de todas as confissões amorosas feitas a ela se dá pois ela acha que alguém como ela não merece ser amada, já que por dentro ela não é quem ela mostra ser. E ela odeia o “eu” dela verdadeiro. Ou seja, ela tem que aprender a se amar.

Touko viu a perfeição em Yuu, já que com Yuu, ela pode ser ela mesma, sem máscaras, já que Yuu será incapaz de amá-la, independente dela ser forte ou fraca, confiante ou não. 

Yuu então decide por aceitar as doses de amor de sua senpai, para que, um dia, quem sabe, ela consiga sentir algo.

Protagonistas de Yagate Kimi ni Naru conversando
“Eu gostei muito da divertida relação das duas”

Realidade aproximada

Além de trabalhar a jornada da autorreflexão e um romance gostoso de acompanhar, um outro ponto que chama atenção no anime é a atmosfera realista em que a história se passa. 

Os personagens secundários têm seu próprio desenvolvimento dentro do possível. Ou seja, foi dada a profundidade necessária para eles se tornarem carismáticos e participativos na trama principal.

Vale destacar aqui a melhor amiga de Touko, Sayaka Saeki. Ela, juntamente com Touko, formam a dupla mais respeitada do colégio.

Saeki esconde sentimentos amorosos por Touko, porém seu tipo de amor é mais do tipo suporte e admiração. Ela opta por ficar nos bastidores, apoiando a amiga.

Sayaka e Touko, a dupla poderosa de Yagate Kimi ni Naru
“Sayaka talvez nunca atinja Touko com seu amor”

A dificuldade que romances homossexuais enfrentam é mostrada de maneira sutil, como no momento em que o pai da Yuu solta um comentário homofóbico durante o jantar, ou quando a primeira namorada da Saeki termina com ela porque “ser lésbica era só uma fase imatura”. 

O anime também trabalha uma relação lésbica bem madura, entre uma das professoras de nossas protagonistas e sua companheira barwoman. Elas foram duas personagens que elevaram o nível da obra, porque um romance maduro bem mostrado atesta a capacidade da mangaká em desenvolver algo mais próximo da realidade, bem como torna a obra num trabalho mais fiel ao dia-a-dia.

Ausência de fan-service

Outro ponto positivo para mim foi a ausência quase que total de fan services. Eles ainda existem, óbvio. Mas sabe aqueles relacionados a sensualização das personagens? Sendo franco, eu não lembro de nenhuma cena onde houve sensualização do corpo feminino.

Achei legal como Yagate Kimi ni Naru optou por não fazer todas as personagens do elenco serem lésbicas, com viés de forçar um possível harém envolvendo a Touko. 

Comentei brevemente lá no meu review de Banana Fish sobre como as vezes forçar demais um harém pode se tornar chato e acaba por tirar a seriedade da obra.

O fator harém-forçado pode facilmente fazer com que alguém “drope” o anime devido a tantas “coincidências amorosas”, onde tem uma porrada de personagem em cima de um só protagonista. Me considero uma pessoa anti-drop, mas até mesmo eu já dropei alguns títulos por este motivo. 

Bloom Into You não cometeu tal erro. Até onde a primeira temporada do anime adaptou, limitaram a somente duas personagens “disputando” a protagonista mascarada.

Traços comuns, mas a trilha sonora… 

A paleta de cores, o background e o traço dos desenhos contribuiu para o teor mais realista e leve que o anime quis trazer. 

Em momentos de drama, as cores fortes, mas mais frias, são utilizadas. Certas horas as cores mais quentes e vívidas davam aquele tom de felicidade e calor para o anime.

O grande destaque da parte técnica vai para a incrível soundtrack produzida pela digníssima Michiru Oushima. A artista já trabalhou em diversos jogos, filmes e séries da televisão. 

Os trabalhos da compositora são muitos, tais como: Full Metal Alchemist, The Tatami Galaxy, Rokka no Yuusha, Little Witch Academia, Zetsuen no Tempest, entre outros.

Em Yagate Kimi ni Naru, ela manteve seu padrão de qualidade, entregando uma trilha muito gostosa de ouvir, mesmo fora do anime.

Yuu e Touko, bem perto, com Touko corada
“O anime ficou bem bonitão!”

Finalizando…

O anime com certeza me marcou em alguns aspectos. Talvez, principalmente, por ter tido uma ótima experiência com meu primeiro anime de shoujo-ai.

Algumas câmeras lentas e dramáticas realmente chamaram minha atenção. A trilha sonora, por sua vez, foi de fato marcante. Me pegou de jeito. Ainda, a openning do anime é muito bem produzida também. 

Bloom Into You, para mim, só peca por ter utilizado tantos clichés presentes em animes colegiais. A ordem dos acontecimentos meio que ficou previsível, acabando com qualquer chance de “surpresa” que você pudesse ter assistindo.

Quando tinha recém terminado de assistir, eu me vi muito frustrado por não ter acontecido a maldita peça. Foi um final “abertaço”. Terminei com o pensamento de “é bom ter uma segunda temporada disso”! 

Concluindo, os personagens são carismáticos e bem trabalhados. Além disso, como o foco da obra era com certeza trabalhar seu elenco, com destaque para as protagonistas, posso dizer que foi muito bem-sucedido.

A lição de vida que é possível tirar de tal obra, seria o clássico: seja você mesmo. Se ame. Ou melhor, aprenda a se amar. Todos temos nossas manias e nossas próprias características. Aceite-se!

Após analisar e repensar sobre Bloom Into You, posso afirmar que o que resume bem a obra é: um belíssimo, puro e paciente romance baseado em evolução pessoal e psicológica. Com direito aos pés fora do chão, minha nota seria um…

Nota
8.0

/10

E você? Já deixou de assistir um anime por ele ser yaoi ou yuri? Esse aqui foi meu test drive, e eu gostei. Adoraria outras recomendações (que não seja Boku no Pico, por favor)

EXTRAS

Yuu conversando com o garoto esquisito manjador
“Ainda, minha querida. Ainda”
Yuu e Touko, chupando picolé na cama
“A cena que tinha tudo para ser um fan service pesadão, mas foi um bem levinho”
Touko desabafando 1
Touko desabafando 2
“O ensaio para a peça foi de arrepiar”
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Escrito por

André Uggioni

Co-Fundador

Host do CúpulaCast

Criciúma - SC

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