Uma das piores coisas que se tem é ir com muita sede ao pote. Por muito esse desejo de se surpreender com o novo ou mesmo de criar fortes expectativas acaba sendo a ruína de muitas experiências. E Palavras que Borbulham como Refrigerante acabou não sendo o que eu esperava.
Claro que isso não tem nada a ver com a obra em si, mas com as minhas intenções de ver algo não estabelecido. E às vezes nem sabemos ao certo o que esperar, mas esperamos algo.
Aliás, outro ponto que surpreende é o fato dele ser vendido como do gênero musical. Tomei conhecimento disto somente quando comecei a produzi este texto, que tive que buscar algumas informações.
Tudo bem que tem uma ideia, de forma muito remota, mas tem, na música, porém ainda assim, poucos são os trechos onde isto de fato é utilizado pelo filme. Contudo, esta é a definição dada pelo MAL (MyAnimeList). Como é um modelo de fonte segura para os otakus, seguimos confiando.
Sobretudo, Palavras que Borbulham como Refrigerante não é totalmente ruim. Na verdade, ele não é ruim. Embora tenha causada decepção, é detentor de pontos muito fortes que fazem valer o tempo investido na animação.
- Estúdio: Signal.MD , Sublimation
- Data de lançamento: 22 de julho de 2021
- Gêneros: Música (discordo um pouco disso daqui, mas ok)
- Direção: Kyouhei Ishiguro
Quando o universo causa um ponto de convergência entre personagens, já era
O filme, em suma, é bastante clichê. Desde o início ao final. Contudo, em um determinado ponto da história, o curta dá um pequeno, mas passageiro indício de que teria uma quebra no óbvio e iria apresentar algo um pouco mais forte. Mas fica por isso mesmo e acaba entregando um final perfeito, com todos felizes.
Em Palavras que Borbulham como Refrigerante acompanhamos a jornada de dois personagens focais: Cerejinha e Sorrisinho. Claramente são apelidos que estão ligados de forma intrínseca a quem eles são e embora seja abordado com uma sutileza, a narrativa denota isto.
Por mais distantes que os dois possam parecer no que tange a personalidade ou estilo de vida, ainda assim ambos são conectados por algo maior e possuem similaridades.
Enquanto Cerejinha é um jovem tímido que anda constantemente com fones de ouvido, Sorrisinho é um jovem que não tira sua máscara do rosto. E este é um ponto de suma importância neste filme.
Timidez, imagem e aceitação
No decorrer do longa, torna-se perceptível que nossos protagonistas possuem aversão a determinadas coisas. Enquanto Cerejinha busca sempre estar em total introspecção com seu fone de ouvido, a fim de evitar barulhos externos, Sorrisinho não tira sua máscara por vergonha de seus enormes dentes.
O problema do garoto é bem mais fácil de ser resolvido, porém não deixa de ser um problema. Agora no tocante a garota, aceitar a si mesmo, gostar daquilo que se vê, é um pouco mais complexo. Dizem que imagem é tudo. O que fazer quando essa imagem te desagrada?
Todo o desenvolvimento do filme preocupa-se em enfatizar a ideia de que a jovem precisa aceitar quem ela é. E diferente de algumas outras obras, não há uma insistência por partes de personagens em insinuar esse ponto. O longa deduz que já devemos saber isto por simples lógica.
Ao término do filme, chegamos ao clímax desse arco de desenvolvimento dos personagens, quando enfim ambos abrem os braços e se jogam contra seus medos. Ademais, por meio de mensagens subliminares, a história vai evidenciando a ideia de se aceitar.
Uma dessas formas foi através dos haikus que Cerejinha escrevia. O haiku é uma forma curta de poesia japonesa. Por meio dele, Cerejinha escreveu uma mensagem de aceitação para Sorrisinho, mas claro, não era uma mensagem direta dizendo “aceite-se”.
Ele usa o significado de algumas palavras e interliga com seus devaneios, mas que fazem total sentido, tanto para nós quanto para Sorrisinho, a quem a mensagem é destinada.
Temos um objetivo, mas só vamos entregar no final do filme
Parece que é isso que o diretor nos diz quando começamos a assistir Cider no You ni Kotoba ga Wakiagaru. O início é totalmente confuso. Mas claro, após alguns minutos tudo começa a fazer um certo sentido. Porém, esse início parece muito sem propósito, servindo apenas para juntar os personagens e mostrar que eles são um casal em potencial.
Fora isso, temos alguns eventos fora de contexto que, posteriormente, vão se encaixando na narrativa. Todavia, esse começo é um tanto maçante, tendo em vista o supracitado neste texto. Muita expectativa e pouca coisa acontecendo. O retorno não pareceu justo. Mas, novamente, o problema não é da obra.
E após uma série de coisas acontecerem, os personagens necessários serem consolidados, enfim chegamos ao grande objetivo do filme: encontrar um disco de vinil perdido.
Por mais pueril que pareça, a história encobre esta meta com um pano de sentimentalismo, quando um senhor já de idade avançada, aparentemente com alzheimer, novamente fica subentendido isso, busca esse disco de sua esposa falecida que era cantora para ouvir uma vez mais sua voz e não deixar que sua mente a esqueça completamente.
A partir deste ponto entramos nesse arco em busca do tão sonhado disco para “salvar a vida” do senhorzinho. É interessante este processo porque a resolução não é tão “UOU”. Ela é simples. Chega a ser até meio besta. Mas de certa forma, faz sentido, levando em consideração que o senhor tinha problema com esquecimento.
Além do mais, neste momento da história, temos um problema e uma outra resolução. A priori, pode parecer um grande deus ex machina, mas basta olhar atentamente e perceber que, na verdade, não é. Sempre esteve ali, só faltou um pouco mais de atenção.
A cena mais esquisita e nada a ver do filme
Nos primeiros minutos de filme nos deparamos com uma cena realmente bizarra e hilária. Aqui, você precisará utilizar do pacto ficcional, também conhecido como suspensão de descrença. E por incrível que pareça, essa é a ÚNICA cena “impossível” do filme.
Afinal, toda a ideia do longa é tranquila e normal. Mas do nada temos um começo simplesmente intenso e repleto de absurdos. Por mais que seja uma cena nada a ver, denota ali a boa cadência da animação. E isto é outro ponto positivo.
A beleza extremamente vendível de Palavras que Borbulham como Refrigerante
De longe o ponto mais forte deste filme. Dificilmente alguém olhará para ele e não se encantará com a paleta vibrante de cores ou a ambientação extremamente relaxante.
No que diz respeito ao visual, Palavras que Borbulham como Refrigerante, sem dúvida, se vende sem precisar dizer nenhuma palavra. Porém, também pode ser um problema, uma vez que apenas sua arte conquista, mas sua história nem tanto.
Também, sua trilha sonora é muito boa. Principalmente a música de desfecho, que faz com que tudo se encerre da forma mais harmoniosa e feliz possível.
Por fim, o filme não é ruim. E essas características dão vida a algumas partes que acabam pecando. Como uma espécie de suporte. Logo, o audiovisual de Cider no You ni Kotoba ga Wakiagaru é indubitavelmente maravilhoso.
Finalizando a crítica de Palavras que Borbulham como Refrigerante
Em síntese, assista ao filme. É esta a recomendação que fica. As problemáticas evidenciadas aqui não necessariamente são sobre o filme, como mencionado anteriormente.
Sendo assim, é possível que a narrativa consiga te prender e te agradar do início ao fim. E, reiterando, é um bom filme. É relaxante, agradável e muito bonito. Mas esperava que apresentasse algo a mais, que surpreendesse de alguma forma.
Contudo, por fim, serve perfeitamente para assistir com a família, filhos, amigos. Seja para desestressar ou mesmo para aliviar uma resseca de outros animes mais bem desenvolvidos no que tange a enredo.
Mas e você, o que achou de Palavras que Borbulham como Refrigerante? Deixe nos comentários.