Fadas da Limpeza tem todos os clichês que um dorama poderia ter. Você já conhece: o cara ricaço, a menina pobre, um contrato que com certeza vai acabar em namoro e bastante drama que poderia ser resolvido com uma conversa.
E isso poderia ser o resumo de Fadas da Limpeza, mas não é.
O dorama me trouxe algumas concepções diferentes que eu gostaria de compartilhar. Na verdade, fiquei pensando se valia a pena trazê-lo para cá. Por fim, concluí que sim, porque fala sobre algo que para mim é importante demais: limpeza.
Apesar de já ter sido finalizado desde 2019, o dorama é uma ótima opção para quem curte algo mais novo, mais moderno. Ainda que eu não veja muitos doramas, minha mãe costuma assistir a alguns antigos que são péssimos em trilha sonora, fotografia e até mesmo em roteiro.
Aliás, um disclaimer: por que será que os doramas em geral são tão ruins no quesito trilha sonora? Indiquem aí doramas com boas trilhas sonoras! Antes disso, contudo, vamos conversar sobre Fadas da Limpeza.
- Estúdio: JTBC
- Data de lançamento: 2018-2019
- Gêneros: Comédia Romântica
- Roteiro: Hee-Jung Han (O Rei de Porcelana)
- Episódios: 16
- Onde assistir: Netflix
Um homem com germofobia
É na premissa de Fadas da Limpeza que o diferencial aparece. Germofobia, em sua acepção wikipédica, é “o medo patológico de germes“. Nesse caso, o termo “germes” refere-se amplamente a qualquer micro-organismo que cause doenças – por exemplo, bactérias, vírus, fungos ou outros parasitas”. É também chamada de misofobia.
Ver esse dorama neste momento, após uma crise pandêmica com resultados desastrosos em todo o mundo, é poder se identificar, de alguma forma, com o protagonista. Um texto do National Geographic fala sobre uma mulher com um filho de 7 anos que se recusava até mesmo a tocar em seus irmãos. Esses sintomas se intensificaram durante a pandemia em muitas pessoas.
A germofobia faz parte do TOC (transtorno obssessivo-compulsivo), que se caracteriza por pensamentos e atitudes irracionais e compulsivas. Bem, neste caso, Jang Sun-Gyeol, o CEO de uma empresa de limpeza, é terrivelmente germofóbico.
E adivinha com quem ele se cruza? Sim, exatamente. Com a pessoa que iria arruinar seus sonhos. Gil Oh-Sol não tem quase noção nenhuma de limpeza (de verdade), e passa o tempo todo apenas tentando arranjar um trabalho.
A garota desempregada tem o sonho de trabalhar em um escritório, e faz 1000 provas diferentes, mas nunca passa em nenhuma. É claro que, em uma dessas provas, ela se candidata a um emprego na empresa do germofóbico, e acaba passando.
Todos os testes foram feitos especialmente para ela: anteriormente uma atleta do salto de obstáculos, sentia falta de correr. E foi exatamente isso o que pediram para ela fazer no exame de admissão.
Frente a frente com o seu maior desafio (uma mulher cheia de germes), Jang Sun-Gyeol parece estar à beira da loucura. Ou à beira do amor – a gente sabe que essa segunda seria mais provável.
A limpeza vista de modo positivo
Eu não me lembro de já ter visto alguma mídia que tratasse a limpeza de forma positiva. Todos os doramas, séries ou animes que falam sobre algum personagem gari (ou semelhantes) tentam transformá-lo em um personagem “bem-sucedido” posteriormente.
Para Jang Sun-Gyeol, a limpeza não é só mais “qualquer trabalho”, ou algo de menor importância. A limpeza faz parte da vida dele, e essencialmente de quem ele é. É exatamente por causa de sua germofobia que decidiu dar início à empresa.
Por outro lado, o pai de Gil Oh-Sol, já muito humilhado por trabalhar como gari, não quer de forma alguma que sua filha se envolva nesse ramo. Estas percepções tão simples e tão cotidianas são a cereja do bolo deste dorama.
Quanto valor você dá a quem limpa os locais que você usa? A rua pela qual você passa? Os espaços em que você come? Pessoalmente, aqui em casa, somos bem preocupados com limpeza. Sempre fomos.
Entramos sem sapatos em casa. Não sentamos com roupas de fora nem no sofá e nem na cama. Para deitar na cama, somente com roupas de casa/de dormir. Limpamos quase tudo com álcool (70º) e cloro (o bendito!) porque mata germes. Temos o cuidado de limpar cada item de mercado. E por aí vai…
Mas adivinhe? É, meus pais são enfermeiros. Então, para mim, limpeza tem um significado meio especial. Está relacionado à saúde e bem-estar, bem como prevenção de doenças.
A limpeza pode ser algo definitivamente transformador, em vários sentidos. E Fadas da Limpeza trouxe isso de forma muito sensível, valorizando todos os trabalhadores do ramo e demonstrando sua importância positiva na vida dos outros.
Nem tudo são flores… Fadas da Limpeza também erra
Como já falei acima, o dorama não foge em nada dos clichês. É interessante poder ver um protagonista que tem seus erros, apesar de ser rico e bonito. Afinal de contas, todo mundo tem algum defeito, e ele também terá.
No entanto, por vezes, me pareceu que o dorama poderia ter explorado alguns aspectos e não o fez. O final foi um dos mais apressados, e os três últimos episódios pareceram descer em nível de forma estrondosa.
Sim, estamos falando da trupe “vamos fazê-los terminar no penúltimo episódio para resolver as coisas aos 45 do segundo tempo!”. Se você não tem experiência nenhuma com doramas, acredite em mim: é um recurso narrativo amplamente utilizado.
O problema desse recurso é que ele faz sentido se estivermos falando de adolescentes, mas pode não fazer com relação a adultos. Todos sabemos que o casal vai ficar junto no fim, mas a JORNADA precisa ser, no mínimo, interessante/convincente.
Uma protagonista que se mostra extremamente decidida e mente para o seu pai a fim de ganhar dinheiro (ou mente sobre o namorado que arranjou), demonstra-se no final dependente de aprovação da sua família para reatar o tal namoro. Os últimos episódios não foram condizentes com a própria criação da personagem, e por isso o recurso narrativo é falho.
Os personagens secundários, apesar de suas rarefeitas aparições, são interessantes, e seria melhor se tivessem tempo de tela. Todos eles enfrentavam algo a seu modo, em especial um que tinha sido condenado na justiça e foi abraçado pelo CEO, mesmo sabendo que ele era um ex-presidiário.
Finalizando a crítica do dorama Fadas da Limpeza
Em suma, dá para dizer que Clean With Passion for Now é bem divertido na maioria de seus episódios! Eu não sei explicar exatamente o porquê, mas os doramas em geral têm cerca de 16 episódios, e muitas vezes há uma enrolação SEM FIM para terminar algo que poderia ser resolvido com uma conversa simples.
Doramas mais adultos e maduros existem, e eu iria encaixar Fadas da Limpeza nele, mas os últimos episódios me fizeram mudar de ideia. Ainda assim, eu o recomendo.
Acho que, apesar dos pontos que disse aqui, o dorama traz uma concepção muito diferente e aprofundada sobre como a limpeza pode tornar a vida das pessoas diferente. Como pode ser instrumento de transformação e mudança.
Minha mãe sempre me diz desde criança: “filha, somos pobres, mas somos limpinhos”. E isso sempre ficou gravado em mim. Um local limpo e arrumado faz parte da tradição e cultura da minha própria família, e nunca tinha visto isso sendo tratado em nenhuma mídia de uma forma tão cuidadosa.
Ou seja, apesar de toda a treta no meio de namorar um cara ricaço e de ficar dividida (em um possível triângulo romântico), que já é de praxe, não acho que Fadas da Limpeza possa ser desprezado. Os clichês acabam deixando mais espaço para falar do que é importante: a superação de traumas e a importância transformadora de limpar.
Limpar é um trabalho. É um trabalho honrado, difícil e muito recompensador. E, sim, transforma a vida de muitas pessoas. Por isso, Fadas da Limpeza marcou a minha experiência com doramas, e espero que possa marcar a sua também.