Recentemente me vi num bloqueio de leitura de mangás. Num dos maiores que já vivenciei nos últimos tempos. Os motivos para tais bloqueios eu desconheço, porém ao ver a capa de O Cão que guarda as Estrelas na minha estante, eu senti vontade de ler.
E como eu não me arrependo.
O Cão que guarda as Estrelas ou Hoshi Mamoru Inu (no original) é um mangá criado por Takashi Murakami, um influente artista japonês que em 2009 chegou até a ter a revista TIME definindo-o como o mais influente representante da cultura japonesa contemporânea.
O Cão que guarda as Estrelas é de 2008, então, foi bem na época em que esse artista estava em alta! No volume que eu tenho aqui em casa, ele aponta que seu mangá vendeu mais de 400.000 cópias (na época) no Japão, e até mesmo uma adaptação para filme ele teve.
Eu não assisti o filme, mas li que passou longe de passar o mesmo sentimento que o mangá passa.
Mas bem, do que se trata Hoshi Mamoru Inu, então? E o que ele “passa”?
“O melhor amigo do homem”
O Cão que guarda as Estrelas é uma história narrada por Happy, um cãozinho da raça akita que foi encontrado na rua por uma criança e então levado para um novo lar.
Neste lar, temos uma família convencional típica: um pai, uma mãe e uma filha. E agora, eles tem um novo cachorrinho que os acompanhará.
E é isso a história. Deu.
Brincadeira.
Apesar de a história começar parecendo que teremos “apenas” um slice-of-life normal que levantaria uma reflexãozinha aqui e ali, a história toma um rumo completamente inesperado quando, com o passar do tempo, aquela família começa a se desmembrar.
Isso não é spoiler, porque não é nem de perto o grande foco de O Cão que Guarda as Estrelas.
Com sua família desmembrada, Happy e o “Papai” (como o cãozinho narrador chama seu dono) partem em uma jornada sem rumo, onde encontrarão alguns desafios. Uns pequenos, outros nem tanto.
Juntos, homem e cão, vão desenvolver ao máximo a mais pura forma da amizade; aquela que só quem já teve um cachorro sabe.
Desculpa se você é uma “cat person”
Nada contra gatos, de verdade. Eu os amo também.
Porém cachorro tem uma vibe muito diferenciada. A inocência deles é tão pura, mas tão pura, que você fica com pena só de olhar para a carinha dele. Não consigo explicar. Pelo menos é assim que eu me sinto quando penso em cães.
Então, eu amo gatos. Mas eu amo ainda mais os cachorros.
Sempre tive cachorros ao meu lado em minha vida, então talvez seja por isso que Hoshi Mamoru Inu pegou tão forte em mim.
Nessa história, entre preparado(a), porque como a capa sugere, você não terá um “final feliz”. Bem, mas isso depende do ponto de vista, né?
Aqui, toda a inocência, companheirismo e carisma de um doguinho é explorado ao máximo (dentro do possível), por meio de cenas do cotidiano (ou de uma aventura) que quem já viveu vai ler e pensar “nossa, é muito assim!”.
Gostosa demais a leitura. E mesmo que você já saiba o que está por vir (porque está, literalmente, na primeira página), você não consegue largar devido à curiosidade, mas, principalmente, devido ao carisma que Takashi Murakami conseguiu dar ao Happy.
Cachorro > Gato. Fim do tópico.
O tema de O Cão que guarda as Estrelas
O grande tema aqui é amizade. A mais pura e sincera delas.
Sendo bem sincero, a amizade canina é mostrada com tamanha precisão que assusta. Temos diversos momentos em que a identificação para com aqueles que já cuidaram de cachorros é acionada instantaneamente, sejam estes momentos felizes, ou tristes.
Com foco nos tristes, porque, como já dito, você sabe o que está por vir. Então você lê a história inteira com uma certa ansiedade inquietante no peito, ansiando por um final diferente, que aquilo não aconteça.
Mas vai acontecer. E você vai desabar.
Ou será que não?
“O Cão que guarda as Estrelas” consiste em, basicamente, 4 histórias
Dentro do mesmo volume único que a editora JBC comercializou aqui no Brasil, nós começamos com a história intitulada Hoshi Mamoru Inu, que, em tradução significa o mesmo nome do volume.
Entretanto, passada a metade das páginas, nós caímos numa segunda história chamada “Girassóis“, que conta a história de outro cãozinho, com outro dono, mas que está relacionada a primeira.
Essa história tem uma pegada diferente da primeira, porém, também não peca em entregar momentos de puro gatilho de tristeza. Na verdade, em certo ponto desta segunda, eu chorei mesmo, de soluçar. Provavelmente porque eu me coloquei muito no lugar do senhorzinho ali. Foi tenso.
Então esteja avisado: se você um dia teve um cachorro, e por algum motivo acha que não deu atenção o suficiente para ele (igual eu), você provavelmente vai achar Girassóis ainda mais impactante do que Hoshi Mamoru Inu.
Me arrepiei escrevendo esse parágrafo acima.
O Outro Cão Que Guarda As Estrelas: a continuação
Anos depois, após o sucesso estrondoso de O Cão que guarda as Estrelas, o autor decidiu fazer uma nova história. Uma espécie de “continuação”, mas que na verdade é meio que uma história única também.
Esse segundo volume único (que também foi trazido para cá pela JBC) traz mais 2 histórias, totalizando as 4 que antes mencionei.
Nesse aqui, nós acompanharemos o irmãozinho de Happy.
Sim! Ele tem um irmãozinho! Quando a menina lá na primeira história encontrou Happy na rua, ela resolveu pegar somente o Happy da caixinha, porque o outro estava doente e praticamente morto.
Porém, uma velhinha ranzinza que ali passava viu o cãozinho deixado para morrer.
Ela não se comove, pelo contrário, ela pega o cãozinho porque acredita que eles dois, juntos, podem morrer em paz. Que a morte será uma salvação.
Pesado, né?
Então, ela o leva para casa, e a vida dessa velhinha vai mudando aos poucos com a presença do “Pequeno” (como ela decidiu chamar o irmão doentinho).
Há um momento na primeira história [a do Happy] que o “Papai” encontra um menino de rua e o ajuda, porém, foi tapeado pelo garoto. Na segunda história do volume O Outro Cão Que Guarda As Estrelas, nós conhecemos a história desse garoto e do cachorrinho que ele furta para sobreviver.
É, é isso mesmo.
O garoto fora abandonado por sua mãe, e estava em condições precárias. Ele precisava ir para Hokkaido para encontrar seu amado avô que cuidou dele quando criança. Juntos, o garoto e o pug que ele rouba irão entrar nessa “aventura”.
A pegada dessas 2 histórias de O Outro Cão Que Guarda As Estrelas são diferentes das 2 de O Cão que guarda as Estrelas. Porém, ambas as 4 irão emocionar você.
E o tema permanece: a amizade mais pura e bela do mundo.
Finalizando a crítica sobre O Cão que guarda as Estrelas
Acredito que não faria sentido eu falar mais do que eu já falei. Afinal, o primeiro volume tem cerca de 120 páginas, e o segundo tem cerca de 170, então se eu falasse demais ia entregar tudo.
Na verdade, as 4 histórias de O Cão que guarda as Estrelas me parecem muito 4 one-shots diferentes, porém que acontecem dentro do mesmo universo. Na verdade, até mesmo dentro da mesma cidade ou região.
Ver os protagonistas de uma das histórias aparecendo nas histórias paralelas é muito legal e gratificante, porque você se sente mais próximo deles e entende melhor o ponto de vista de cada um.
Além disso, o grande tema, “a amizade mais pura e bela”, é retratado da maneira mais simples e direta possível, por meio de cenas onde você certamente vai oscilar entre dar uma risadinha boba no canto da boca, ou derramar rios de lágrimas.
Eu não sou de chorar tanto assim. Digo, choro fácil, mas não em muita quantidade. Mas se você é chorão ou chorona, se prepare bem antes de ler. Principalmente o primeiro volume, O Cão que guarda as Estrelas.
Se prepare ainda melhor se você ama cachorros e já cuidou de um.
Por fim, concluo que é uma leitura que valeu tanto meu investimento, quanto meu tempo.