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Análise

Hometown Cha-Cha-Cha é bom? Vale a pena ver o dorama? | Crítica

Hometown Cha-Cha-Cha: amar o que é simples profundamente.
10 minutos para leitura

Hometown Cha-Cha-Cha alugou um triplex na minha cabeça. Eu fui tentar assistir porque achei que fosse algo leve. Não que não seja, mas não vá achando que vai ser assim 100% do tempo.

Falando assim, parece até que achei ruim. Não. Na verdade, é muito bom. Tão bom que eu roubei o espacinho da Amanda para falar sobre mais um dorama que eu assisti. Já não é mais o primeiro, porque Uma Advogada Extraordinária foi meu dorama inaugural.

Até agora, na verdade, eu tenho uma experiência total de quatro doramas. O que não é muito. Mas não preciso ser uma perita na área para identificar uma ótima obra, o que Hometown Cha-Cha-Cha é, sem dúvidas.

O dorama me fez rir, me fez chorar, me fez até mesmo ficar com raiva. E é por isso que eu estou aqui, para não só recomendá-lo, mas te convencer de que você deve assisti-lo. Se você não for de dorama, dê uma chance.

Sem mais delongas, Hometown Cha-Cha-Cha!

Moradores da cidade de Gongjin reunidos em uma mesa no dorama Hometown Cha Cha Cha
  • Gêneros: Comédia Romântica, Slice of life, Drama
  • Direção: Yu Je-won
  • Episódios: 16
  • Material de origem: filme “Mr. Handy“, de 2004
  • Ano de lançamento: 2021

Tudo começa com uma mudança de cidade

Yoon Hye-Jin é uma dentista em Seul, mas nem sempre é fácil se acostumar a trabalhar no ritmo da cidade – não sendo autônoma. Após tratarem-na mal em seu trabalho recomendando um tratamento mais caro à sua paciente (que não seria o melhor), ela decide se demitir.

yoon hye jin, protagonista com a mão no queixo e cabelo preto preso em um coque baixo

Mas não sem antes arranjar um barraco, daqueles que todo brasileiro gosta. Por causa do barraco, Hye-jin não consegue mais arranjar emprego NENHUM na cidade, já que todo mundo sabe que ela é a dentista barraqueira.

Por isso, ela decide ir para Gongjin, uma pequena cidade litorânea, a fim de abrir um consultório. Quando chega pela primeira vez, tem alguns problemas financeiros, devido à falta de internet, então acaba conhecendo o Hong Du-sik, chamado por todos da cidade de “chefe Hong”.

Hong Du sik, interesse romântico da protagonista, que tem cabelos castanhos e veste uma blusa xadrez

Após conhecê-lo, vê que ele leva uma vida tanto quanto esquisita: ele faz TUDO dentro da cidade. Desde consertar chuveiro até descascar lulas e passar café. Ele trabalha em quase todos os estabelecimentos da cidade fazendo bicos, e ganhando o equivalente por hora do salário mínimo.

Além disso, todos na cidade não só o conhecem como também pedem para que ele faça todos esses trabalhos. E como isso é um dorama, Hometown Cha-Cha-Cha é o encontro destes dois mundos: uma dentista mimada de Seul e um faz-tudo pobre de Gongjin.

A história de Hometown Cha-Cha-Cha parece simples

E, à primeira vista, é mesmo. A proposta é simplória e pode não te chamar a atenção, mas existe muito mais dentro disso.

A pequena cidade de Gongjin esconde três grandes segredos: o que aconteceu durante os cinco anos depois que Du-sik terminou a faculdade (e não foi visto por ninguém); quem ganhou a loteria em Gongjin (com um bilhete premiado vendido em um mercado local) e a razão por trás do divórcio de dois líderes da comunidade local.

Por mais incrível que pareça, isso é mencionado logo no começo e toda a trama se desenvolve em torno desses mistérios. Ainda que tudo possa parecer insignificante, cada acontecimento irá te levar à solução desses problemas.

E é aí que entra outro elogio a Hometown Cha-Cha-Cha: contando aqui, há pelo menos uns 15 personagens que são desenvolvidos de forma profunda. Cada um deles tem a sua história, e não seria fácil de passar isso ao espectador, mas, de alguma forma, muitas delas se conectam e terminam todas bem fechadinhas.

moradores da cidade de gongjin, sendo cinco, todos sorrindo de forma animada

Ademais, os personagens são todos feitos para serem reais. O que significa? Se, na maioria dos doramas, temos personagens “perfeitos”, com a aparência impecável, Hometown Cha-Cha-Cha veio para fazer exatamente o contrário.

Todos são, de alguma maneira, diferentes. Fora do padrão, com muitas peculiaridades, como pessoas de verdade são. Há tanto personagens muito jovens, como o I-jun, e personagens muito velhas, como a senhora Gam-ri (que é fofíssima). E, adivinhe, os dois são ótimos atores e ótimos personagens!

Tudo isso nos leva a um terceiro ponto:

Este dorama fala sobre a busca pela simplicidade

Se você já estudou sobre a escola literária Arcadismo alguma vez na sua vida, deve pegar bem rápido a ideia. Sinto inclusive que você deve estar tendo uns arrepios pelo corpo só de pensar nas aulas de Literatura…

Mas Hometown Cha-Cha-Cha é a integralização do lema árcade Fugere urbem (que trata da fuga do urbano). Também é do Carpe diem (“aproveite o dia”) e do Inutilia truncat (tirar aquilo que é inútil).

Ao chegar a um novo local, é difícil para Hye-jin se adaptar. Isso porque a vida dela até ali tinha sido uma tentativa constante de se reafirmar por meio do que ela tinha, e não por quem ela era. Os primeiros episódios são vergonhosos de assistir, porque a preocupação dela com bens materiais faz todos da cidade se sentirem desprezados.

Ao conhecer o famoso Chefe Hong, que parece tão despreocupado com o dinheiro e com as ambições da vida, Hye-jin parece se intrigar com ele, e com aquela estranha cidade. O embate é aquele que vivenciamos todos os dias: devo permanecer na cidade ou fugir dela?

Grande parte das pessoas não só decide como anseia estar em uma grande cidade para vivenciar experiências mais intensas ou ter melhores oportunidades de emprego. Outras desejam fugir da vida apressada que levam e recomeçar de um outro jeito, afinal, só se tem uma vida.

Meu namorado costuma me dizer que eu sou reflexiva demais. Depois que vemos algo, tudo o que eu aperto no TvShow Time é sempre “reflexiva” (haha).

Seja como for, Hometown Cha-Cha-Cha me fez pensar. Bastante. Sobre o futuro que eu quero e sobre o lugar em que quero estar. Só se tem uma vida, então por que gastá-la em função de um amanhã que talvez não virá?

E, por fim, a morte

Essa é a cadência do dorama, e é assim que eu organizo também os meus pensamentos. Em um determinado ponto, a discussão sobre como nossa vida é gasta também chega a um final. É mais do que ÓBVIO que não vou dar nenhum spoiler aqui.

Contudo, saiba que, para você, que já vivenciou o luto, serão delineados processos não só parecidos com os que você viveu, mas quase idênticos.

O luto pode envolver uma série de sentimentos: irritabilidade, culpa, aversão ao assunto, negação, e até mesmo a tentativa de se carregar todo esse peso sozinho. Vivenciar essas emoções também faz parte da vida, porque ela é constituída de ciclos.

Em um dorama como Hometown Cha-Cha-Cha eu não esperava que o luto fosse ser tratado de forma tão intimista, calorosa e dolorida ao mesmo tempo. Pensar sobre a morte (realmente, como ela é) dói, pois ela é um fim. E, se você for religioso, talvez seja um fim para um novo começo (que você desconhece).

Enfim, o que quero dizer é que eu nunca havia visto o luto sendo retratado de forma tão real, mas ao mesmo tempo de forma tão esperançosa. A mensagem é muito clara: Viva. Viva tão fortemente e tão intensamente que você não veja outra opção além de viver. É forte, e é um dos motivos de o dorama ser tão bom.

Finalizando a crítica sobre Hometown Cha-Cha-Cha

Casal protagonista sentado na praia em hometown cha cha cha

Após todas essas emoções, uma frase permaneceu em mim, e vou utilizá-la sempre que amar muito algo: “meu amor por você é como o Lago Baikal“. Aprendi que o lago russo é considerado o mais profundo da Terra, e também o mais antigo.

Hometown Cha-Cha-Cha parece ser assim: não é um mar, não é um rio. É um lago – parece superficial, você nem dá muito valor. Mas, quando você vê, já está bem fundo, em locais que você parecia não ter explorado antes.

A beleza da vida está em compreender a importância de compartilhar os pequenos momentos com quem se ama. Viver é acenar todos os dias aos mínimos detalhes que nos fazem felizes.

Esses momentos de contemplação e de ressignificação me fizeram trazer Hometown Cha-Cha-Cha até esse espaço; até você. Portanto, se você pensa em assistir um romance que te faça sorrir, repensar seus relacionamentos e refletir sobre a vida que se leva, pode confiar em mim.

Ame sua vida assim como o lago Baikal. Ame o que é simples com profundidade.

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Escrito por

Helena Nunes

Advogada | Professora | Concurseira triste

Máquina de spoiler | Jojofag

Campos - RJ

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