O Reino dos Gatos, no original Neko no Ongaeshi, é um dos filmes do estúdio Ghibli que a Netflix está disponibilizando para nós. De longe esta animação não é uma das mais conhecidas do acervo do Ghibli, porém isso não a torna um longa-metragem ruim.
Aliás, é um filme que ao meu ver poderia fácil, fácil se passar por um clássico da Disney. Na verdade, não sei até que ponto ser confundido com algo ocidental é bom para os japoneses.
Mas enfim, o que quis dizer com toda essa enrolação inicial, é que mesmo não sendo um dos top 5 do estúdio, O Reino dos Gatos é uma animação que vale muito a pena ser assistida.
O filme é de 2002, dirigido por Hiroyuki Morita, que entre outras participações, tem em seu portfólio Akira e Afro Samurai.
A trilha sonora é quase em sua totalidade orquestrada, sendo assim, ouvi-la avulsa a torna um pouco vazia. Porém, com a junção áudio-visual a obra fica excelente.
Talvez, essa parte musical seja algo que me fez lembrar os clássicos da Disney, afinal quem não lembra das músicas orquestradas, quando víamos Simba pelas savanas ou a Cinderela limpando a casa, não é?!
Um plot não tão mirabolante, que faz com que muitos julguem ser uma animação um pouco abaixo da expectativa que o estúdio Ghibli traz em seus títulos.
Essa simplicidade, ao meu ver, é onde este filme acerta a mão, pois além de ser agradável para ser assistido, também o torna uma ótima pedida para novatos nessa “pegada” Ghibli.
Mas porque falar de “O Reino dos Gatos“?
Falo dessa simplicidade, pois foi dessa forma, simples, que eu acabei caindo neste filme. Estava eu e minha esposa na quarentena (época tenebrosa em que esse artigo foi escrito) sem saber o que ver, quando nos deparamos com a capa de O Reino dos Gatos no catálogo da Netflix.
Minha digníssima, apaixonada por gatos, não pensou duas vezes e apertou play. Quando percebemos, estávamos rindo e perplexos com alguns detalhes que o diretor tomou cuidado em colocar na obra.
O filme nos apresenta de início Haru, uma jovem colegial muito avoada que sempre faz tudo correndo, sem perceber o que se passa ao seu redor.
Numa tarde comum, estava com sua amiga na rua e observou um gato atravessando a rua. Neste momento, um caminhão se aproxima e, por impulso, Haru se joga na estrada salvando o gato do atropelamento.
Quando ela se levanta e olha para o gato, ele está meio que antropomorfo, ou seja, com feições humanas, batendo a poeira do seu corpo e agradece a protagonista pelo seu feito.
Naquela mesma noite Haru recebe a visita do Rei do reino dos gatos, agradecendo por ter salvo seu filho, o príncipe, e lhe concede um presente: garante a menina a felicidade dali pra frente….
…Mas será que a felicidade para o Rei tem o mesmo significado de felicidade para a menina?
“Persogatos” muito bem elaborados em Neko no Ongaeshi
Como já é de se esperar, Haru acaba se tornando “apenas” a personagem principal do filme, sendo assim, o nosso ponto de vista do todo. De longe ela não é o personagem mais cativante da obra, e nem de perto aquele que toma as ações. Ela só responde essas ações.
Caso queira entender melhor a diferença entre Protagonista e Personagem Principal, aconselho a leitura da análise de Beastars feita aqui na Cúpula, onde André explica perfeitamente essa diferença, e de quebra você descobre mais uma obra perfeita com animais.
Passando os 15 segundos de propaganda obrigatória, voltamos a recomendação.
Aliás, se fossemos enumerar os ótimos personagens da obra, íamos longe, mas vamos nos ater aos principais.
Primeiramente a dupla dinâmica, Barão e Muta, que diga-se de passagem, apareceram anteriormente no filme Sussurros do Coração (Mimi wo Sumaseba), também do estúdio Ghibli.
Os dois, em Neko no Ongaeshi, roubam a cena de uma forma muito clássica: praticamente são os heróis que precisam salvar Haru da encrenca que se meteu.
Muta, o gato gordo, rabugento e engraçado, que em alguns momentos tirou gargalhadas de mim. Do outro lado, o Barão, quase o Batman da história, inteligente, boa pinta e sempre certeiro em tudo que faz.
Além deles temos o Rei, que num primeiro momento parece ser um personagem nada a ver, o típico rei que existe por existir e ponto. Mas com o passar da história acaba mostrando suas “garrinhas”.
E claro, fora todos os NPCs que chamam atenção por si só: a banda, os bobos da corte, os gatos agentes secretos e outros que eu poderia citar como exemplo.
Vejo coisas por todos os lados!
Os detalhes desta animação são esplendidos, não pesquisei a fundo sobre eles, mas irei citar aqui aqueles que mais me chamaram atenção.
Haru se parece muito com a Alice, de Alice no país das maravilhas. Digo isso, pois ela sempre está atrasada, possui problemas com relógios e se depara, no seu mundo, com um animal falante que a leva para uma outra dimensão.
Barão lembra muito o gato de botas, tanto na feição quanto no comportamento, aliás, de fato em um momento da obra ele utiliza botas.
E a cereja do bolo, os gatos parecendo agentes MIBs ou agentes secretos que roubam a cena sempre que aparecem.
Além das características do Reino dos gatos que deixam este mundo único, na verdade o reino é um local perdido no tempo.
Pois no momento da festa o que diverti o Rei e seu povo são bobos da corte, em outro momento, o Rei se diverte jogando golfe.
Enquanto existe subordinados para abanar e carregar a majestade, na mão do conselheiro do rei, temos binóculos modernos.
Sendo assim, não sabemos se o reino deveria ser um local contemporâneo, ou na era medieval. Mas deixando claro, isso oferece a obra um ar muito único e especial.
Nem tudo são petiscos para gatos, nem no Reino dos Gatos
Que ficou claro o quanto minha esposa e eu gostamos desse filme, acredito não terem ficado dúvidas.
Porém, como quase todas as obras, O Reino dos Gatos possui alguns (poucos) pontos que deixaram a desejar.
O primeiro ponto é a própria Haru, a personagem que deveria ser nossa guia neste mundo diferente, ao todo na história foi apenas nosso ponto de vista. Ao meu ver, não teve profundidade nem evolução acentuada na trama.
Tem momentos da obra que ela não parece estar nem um pouco preocupada com que está acontecendo em sua vida, já em outros parece totalmente desesperada. Ela é uma garota tão confusa que até confundiu os telespectadores.
Não é a pior “protagonista”, claro, mas faltou bastante para ser marcante, tanto é que no fim do filme, você com certeza irá lembrar muito mais do Barão e Muta, por exemplo.
Segundo ponto é a superficialidade da obra. Digo, o filme é um ótimo exemplar de Sessão da Tarde: uma pipoquinha, junto de um sofá para relaxar. E como já disse, é uma ótima porta de entrada para o mundo dos animes, igual alguns títulos que já comentamos por aqui.
E esse é o diferencial de Neko no Ongaeshi, só que, sabe quando você percebe que poderia ter algo a mais e fica aquele gostinho de poderia ser mais profundo?
Esse foi o gosto que ficou em mim e na minha esposa. Um universo tão rico, só que explorado tão superficialmente.
Finalizando…
O Reino dos Gatos (Neko no Ongaeshi) é uma ótima pedida para relaxar e curtir. A forma como o diretor resolve cada ponta que se abre na animação é exemplar.
Tudo tem o porquê de existir, e a obra vai se encaixando como um quebra-cabeça, em alguns momentos até rolou um “AHHHH, é isso!” no sofá aqui de casa.
Para se ter uma noção, é explicado até se todos os gatos do mundo vieram do reino dos gatos ou não. De forma rasa, mas é feito.
O tempo passa e você nem percebe, os personagens contam de forma muito divertida o enredo simples, porém bem fechado da obra.
O filme surpreende também no fato de parecer totalmente fofinho e tranquilo, porém ao longo da trama alguns personagens revelam sua real intensão, criando assim o famoso confronto entre o bem o mal.
Enfim, bora preparar a pipoquinha, sofazinho, chama a(o) gatinha(o) e bom divertimento.
Depois volta aqui e me diz o que achou de O Reino dos Gatos ou Neko no Ongaeshi, chame como quiser!