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Análise

Psycho-pass é realmente bom? Vale a pena ver a série de anime? | Crítica

Psycho-pass: um futuro onde avaliar saúde mental ficou fácil, será?
38 minutos para leitura

Psycho-pass é uma obra futurística que aborda a inteligência artificial avaliando a sua saúde mental e a justiça para os criminosos de plantão. Agora, imagine um sistema de inteligência artificial que decide toda a sua vida no seu lugar, o que você acharia?

Será que uma máquina consegue guiar melhor as suas escolhas de vida e avaliar com precisão seu estado de saúde mental? Você sairia ileso dessa ou se tornaria um criminoso em potencial?

Imagem dos personagens principais de Psycho Pass
Personagens principais da primeira temporada

Assistir Psycho-pass foi um acerto aleatório, mas uma das minhas melhores escolhas. Então, eu gostei tanto, que fui para além da primeira temporada do anime e consumi a obra completa, incluindo os filmes. Por isso, essa análise é sobre a obra como um todo.

O anime e os filmes abordam temas complexos como saúde mental, traumas, reabilitação, política, filosofia, sociedade, trabalho, justiça… Tudo isso acompanha a pegada futurista/cyberpunk que casa muito bem com toda a temática.

Então, pegue seu capacete, sente-se confortavelmente e venha comigo em uma jornada para entender, quase toda, a complexidade de Psycho-pass.

Aviso: este texto pode conter spoilers, não leia se não quiser comprometer sua experiência com a obra!

Imagem de capa de Psycho-pass
  • Gênero: Ação, Sci-Fi, Policial, Psicológico, Militar e Terror
  • Estúdios: Production I.G., Tatsunoko Production
  • Material fonte: Mangá
  • Episódios: 3 temporadas, 44 episódios e 4 filmes

Psychopass: uma visão técnica e geral da obra

Ao assistirmos Psycho-pass, é fácil visualizar que a humanidade parece estar seguindo para esse caminho fictício, talvez seja mais real do que imaginamos. Como disse William Gibson, “pai” do gênero cyberpunk, que teve grande influência para animações como Ghost in the Shell:

O futuro já chegou!

Kanshikan Tsunemori Akane (nome original da adaptação em anime Psycho-pass) foi escrita e composta por Gen Urobuchi e Hikaru Miyoshi. Em uma visão mais técnica e geral da obra completa, é inegável a animação bem acima da média que se alinha perfeitamente a sua trilha sonora.

A abertura da primeira temporada do anime é uma das minhas favoritas, e consegue captar muito bem o universo de Psycho-pass. Confere aí:

Irresistível, né? Já até quero ver de novo

Como eu estava dizendo, Psycho-pass é uma viagem ao futuro, do qual a humanidade parece estar cada vez mais próxima. A tecnologia avançou a tal ponto que se tornou possível avaliar e medir a qualidade da saúde mental das pessoas.

Através dessa avaliação, se obtém um número e uma cor que, por sua vez, indicam se você é um criminoso em potencial ou se não tem perigo para convívio social. Esse número e cor são chamados de coeficiente criminal, quanto mais cristalina estiver sua cor menor o perigo que você representa e vice-versa.

Um criminoso em potencial, ou latente, é uma pessoa que tem alto risco de vir a cometer um crime, mas não necessariamente o cometeu. Apesar disso, a pessoa ainda é considerada perigosa e deve ser detida.

Bom, a trama principal do anime – e da obra – é avaliar o coeficiente criminal através do psycho-pass individual e determinar quem é passível de punição e quem ainda possui chance de reabilitação. Porém, conforme você assiste, é perceptível que existem questões muito mais profundas e complexas no funcionamento desse sistema.

Além da sua ação, trilha sonora impecável e uma animação acima da média, Psycho-pass conta com paradoxos e dilemas sobre ética e moral que farão você refletir por semanas.

Pequenas informações (mas que são importantes)

De forma breve, o psycho-pass não é um chip ou coisa similar. Essa avaliação é feita através do campo biológico (biofield) de cada indivíduo, pois o ser humano exala hormônios o tempo todo e eles podem indicar seu estado interno. Já o nome do Sistema capaz de realizar essa avaliação é Sibyl, e avaliam o coeficiente criminal através de scaners em vias públicas e as armas policiais Dominators.

Inspetora Akane segurando a dominator
Qual seria a cor do seu psycho-pass?

As Dominators são armas inteligentes e tecnológicas, e estão conectadas de forma direta com o Sistema Sibyl. O gatilho dela só destrava se o alvo for avaliado com um psyhco-pass que excede o valor limite determinado e se a pessoa que estiver portando a arma for autorizada pelo Sistema. Do contrário, a arma não dispara.

Em termos de temporadas, a terceira é dividida em 2 partes: uma temporada de anime e um filme dividido em 3 episódios (First Inspector).

E vale dizer que toda a primeira temporada, especialmente seus personagens principais, são o pontapé inicial pra diversos questionamentos, mas não necessariamente o foco da obra como um todo. Os personagens não morrem (não todos pelo menos), mas eles passam a aparecer menos conforme avançam a história.

Imagem colorida do mangá de Psycho-pass

Por isso, existem algumas “lacunas” que não se preenchem, quanto a alguns eventos e questionamentos que levantam. E, por isso também que, eu amaria mais um monte de temporadas pra tentar cobrir todas as lacunas em aberto.

Além disso, é muito interessante a forma indireta que a obra aborda questões como a robotização da humanidade. De modo geral, passou-se a se confiar mais no julgamento que uma inteligência artificial proporciona do que no julgamento do próprio ser humano.

Assim, o que acontece é que as pessoas passam a perder sua liberdade de escolha, porém não se importam muito com isso. Por fim, o Japão criou o Sistema Sibyl e se mantém isolado do restante do mundo, onde conseguiu proporcionar “paz” para os cidadãos e manter a ordem.

Aspectos psicológicos em Psycho-pass

Imagem do símbolo do Ministério do Bem-Estar e Segurança Pública, Departamento de Investigação Criminal

Na primeira parte da obra, o foco é na jornada da nova inspetora Tsunemori Akane, que chega ao primeiro dia de trabalho em uma situação caótica. A inspetora possui um psycho-pass baixo, admirável e impecável, e possui valores fortes sobre justiça. Por isso sua jornada dentro da Agência de Segurança Pública – ASP é cheia de reviravoltas estimulantes.

A acompanhamos entrar no novo emprego e se deparar com as mais diversas questões do mercado de trabalho. Entre elas a rivalidade entre ela, novata, e seu colega inspetor veterano Nobuchika Ginoza que a critica constantemente.

Akane e seu colega inspetor Ginoza trabalham em equipe, junto com os Executores. Os Executores são criminosos latentes sem chance de reabilitação, mas que recebem uma chance de permanecer vivos sendo lacaios da polícia.

Imagem do executor Kogami e os inspetores Akane e Ginoza
Respectivamente Executor Kougami, Akane e Ginoza em uma cena de crime

A ideia de existir os Executores é para proteger o psycho-pass de seus respectivos inspetores-chefe. Pois, devido ao trabalho que possuem e maneira que precisam pensar, eles podem ter seu coeficiente criminal alterado e elevado com mais facilidade.

Dessa forma, em algumas questões – como execução da sentença dada pelo Sistema – são os lacaios Executores que tomam a frente e finalizar o serviço. Assim eles conseguem manter a integridade psicológica dos inspetores.

Saúde mental x coeficiente criminal

Na avaliação do psycho-pass, existe uma “margem de erro” quando se tenta medir e analisar a possibilidade de tratamento psicológico para reabilitação. Pois é logo no primeiro episódio vemos uma situação onde isso não acontece (mas deveria!).

Imagem de Makishima Shougo sorrindo

Vou te explicar primeiro a relação entre o estado de saúde mental de uma pessoa e os seus pensamentos, depois te conto a situação do anime. Bom, a forma como você pensa tem forte influência em como vai se sentir ou deixar de sentir.

Isso acontece, pois a forma que você pensa representa a maneira com a qual você interpreta o mundo e a si mesmo. Pois bem, não tem como não interpretar as situações que te acontecem, mas é possível mudar a forma como você faz isso. Tá entendendo até aqui?

Então, se você tem sempre uma interpretação negativa, a probabilidade de sentir-se desmotivado, desanimado e deprimido é muito maior. Mas, e quando a interpretação é verdadeira? E quando acontece algo traumático?

As coisas mudam um pouco de figura, é quando falamos em ressignificar algo (atribuir um novo sentido ao que já aconteceu). Bom, voltemos ao anime: uma moça sofre violência física e sexual de um criminoso, após isso o coeficiente criminal dela aumenta bastante e ela tem um surto psicótico.

Eu nem precisaria dizer o óbvio, mas é ÓBVIO que após um acontecimento desses a saúde mental não vai tá reluzindo cristalina, né?!

Entretanto, quando apontam a Dominator para ela, o Sistema libera o gatilho e determina a punição máxima, pois ela não tem mais chances de reabilitação. Esse é o momento mais crítico e ponto alto do primeiro episódio, a meu ver.

Pois é esse o ponto que a obra inteira aborda, de maneiras distintas. A inteligência artificial, baseada em probabilística e no valor numérico e colorido do psycho-pass, realmente consegue determinar a saúde mental de alguém, sendo ou não possível revertê-la? Apesar de não ter cometido nenhum crime? Mas e se for um crime em legítima defesa?

Psycho-pass: o sistema perfeito para avaliar a saúde mental e promover justiça?

Inspetora Tsunemori Akane

Ao questionar a cor do psycho-pass de cada indivíduo sem considerar o contexto, muitos erros se cometem. Pois, não importa o que aconteça, se eu passar por uma situação muito estressante ou até mesmo traumática, devo manter meu psycho-pass intacto.

Por isso a temática fica em aberto. É possível fazer uma avaliação precisa da saúde mental de uma pessoa, apenas baseando na cor e no número que aparece? É assim tão fácil mesmo fazer esse julgamento? Pois eu vou largar psicologia, então, não preciso trabalhar (contém ironia!)

A inspetora Akane é e não é o foco central de toda a obra. Em, especial devido ao seu impecável psycho-pass, apesar de qualquer situação estressante ou traumática.

E, embora o nome original seja o dela, Kanshikan Tsunemori Akane, o anime pega ela mais como o início de um ciclo de mudanças no Sistema Sibyl.

É por conta dela que todo o resto pôde se desenvolver, tanto por sua influência quanto por suas atitudes e articulações com o próprio Sistema. Após descobrir a verdade por trás do funcionamento do sistema, Akane pôde trabalhar com muito mais liberdade e seguindo seus instintos reais de detetive. Nem só de tecnologia se sobrevive.

Imagem da Akane apontando uma arma

Por seguir seus instintos, Akane desperta o mesmo desejo de justiça em seus subordinados. Inclusive, em um dos filmes, o Executor Masaoka diz a seguinte frase: “Justiça e valores, depois de provar, você fica viciado!”.

Nesse despertar da antiga força de detetives, o instinto e não as ordens do Sistema Sibyl, entramos na onda dos pensamentos opostos sobre o bem e o mal. Apresentam citações filosóficas, dilemas, paradoxos, enigmas e começa uma batalha tanto intelectual (de valores) quanto criminal (de ações).

Além disso e resumindo, a inspetora Akane é um ponto chave da obra, especialmente na primeira temporada do anime. Por isso, achei justo trazer alguns aspectos que pude observar nela enquanto assistia a Psycho-pass.

Inspetora Tsunemori Akane e como funciona o Sistema Sibyl (contém spoilers)

Ainda na primeira temporada, uma situação perturbadora causa uma enorme revolta quando você assiste. Makishima Shogo sequestra a melhor amiga de Akane, e faz dela um mero brinquedo em seu jogo para provar seus ideais.

A inspetora Akane não reage.

O que acontece é que ele possui um coeficiente que não excede o limite, e por isso Akane não pode utilizar a dominator contra ele. Lembrando que ela é uma policial, com fortes valores de justiça. E mesmo quando ele joga para ela uma espingarda, uma arma não tecnológica, ela não consegue atirar nele. Bom, vocês já entenderam o final dessa situação.

Porém, isso mexe tanto com quem assiste… Você pensa “mas porque ela não atirou?”, “era atirar!”, “será que ela sabe o que tá fazendo?”, “se fosse eu, faria diferente…”

Psycho-pass não só aborda essas questões, como te faz vivenciar as emoções na pele.

Imagem da inspetora Akane na chuva

Apesar de toda essa situação, Akane mantém seu psycho-pass muito estável, considerando a situação que ela foi exposta. Mas, por que é que isso acontece?

De grosso modo, Akane possui ferramentas internas para administrar suas emoções e tomar sempre decisões com base na sua parte racional. Além disso, é nítido em sua personalidade traços de resiliência. Akane é a personificação desse conceito da psicologia, que explica as estratégias que utilizamos para enfrentar situações de estresse sem sermos abalados por elas.

Por isso, chegamos no ponto das questões filosóficas (e parte dos paradoxos e dilemas) de Psycho-pass.

Paradoxos e dilemas sobre ética e moral: A cereja do bolo de Psycho-pass

Imagem de Makishima Shougo apontando uma faca para Kougami Shinya, e Kougami apontando uma arma contra Makishima

Antes de aprofundar um pouco mais, preciso definir o que é ética e o que é moral. De modo geral, a ética se refere as normas comportamentais de uma sociedade, já a moral tem a ver com a consciência individual, o comportamento de cada pessoa. E, um pode interferir no outro.

Portanto, Psycho-pass é um prato cheio, e que vai precisar que você assista mais de uma vez para captar toda a discussão complexa. Até porque cada vez que você assistir, terá uma reflexão nova.

No anime aparecem diversos paradoxos e dilemas. Em resumo, um paradoxo é algo que se contrapõe. Portanto, um sistema que julga a todos menos a si próprio é o que se denomina paradoxo da onipotência.

O sistema operacional que controla, julga e pune os residentes do Japão se mantém através de… criminosos latentes. Sim, isso mesmo que você leu e não darei mais spoilers.

E é a inspetora Akane que vai descobrindo esses mistérios que envolvem o Sistema Sibyl e quais são os defeitos dele, junto com a sua equipe do Departamento de Investigação Criminal na ASP.

Na obra, existem pessoas que são criminosos com baixos coeficientes criminais, ou seja, embora sejam criminosos, o Sistema Sibyl não consegue fazer o seu trabalho a que se propõe (controlar, julgar e punir).

Imagem da Dominator avaliando coeficiente criminal

Essa questão, medir e avaliar saúde mental e emocional, é difícil mesmo para quem é psicólogo e psiquiatra, quiçá um Sistema que se baseia em apenas números e cores.

A mente humana e a subjetividade, dentre outros elementos, carregam um peso e mudança absurdamente grandes e velozes. Não tem como afirmar com tamanha veemência se é tratável ou se é caso perdido, o ser humano tem em si a capacidade de mudança – neuroplasticidade cerebral.

O Paradoxo da Onipotência: as “falhas” do Sistema Sibyl

Imagem do sistema Sibyl

A dualidade filosófica, seja entre o bem e mal ou justo e injusto, tem a ver com nada ser 100% bom ou 100% mau. Esse é um dos pontos centrais observáveis do anime: nenhum ser humano é plenamente mau ou plenamente bom. Isso não existe.

Além disso, temos o Paradoxo da Onipotência de Epicuro, que refere-se a contradição existente em um Deus onipotente. Esse argumento introduz uma linha de raciocínio em Psycho-pass, a partir do nono episódio na segunda temporada, a respeito do Sistema Sibyl e seu poder “ilimitado”.

Por isso, ele funciona como um gancho entre uma temporada e outra e entre os filmes (que tentam expandir o sistema para fora do Japão). Em cada situação, cada episódio, cada crime e criminoso, o Sistema Sibyl é colocado à prova.

Tanto sobre a sua eficácia quanto pela ética e o viés moral. É sempre algo como “eu sou o sistema absoluto de promoção da paz e ordem” contra “será que é mesmo dessa forma?”.

Durante a história, vamos acompanhando esse paradoxo e os dilemas subsequentes a ele, éticos e morais (como o fato de ser ou não ético e moral criminosos latentes julgarem a todos os outros como Executores). Cabe aqui relembrar o anime Death Note, que traz uma discussão muito pertinente ao tema de Psycho-pass: quem é você para julgar e punir o outro?

A história vai para além dos personagens principais, não se apegue (sério)

Ao se colocar como Deus onipotente e onisciente, o Sistema Sibyl acaba por criar seu próprio paradoxo. Se o sistema é tão perfeito e onipotente como se coloca, porque ele não julga a si próprio? O sistema pode julgar a todos, taxá-los de criminosos latentes e decidir quem vive e quem morre, mas permanece no poder habitual sem se julgar?

Imagem de Shimotsuki Mika saudando
Confie no sistema.

Por isso, a segunda temporada é tão importante quanto foi a primeira, e é tão boa quanto ela. Embora a maioria das pessoas não gostem da segunda temporada, e até falem para pular essa parte, eu dou a recomendação contrária.

Psycho-pass é um anime muito mais complexo do que a maioria que estamos mais acostumados a consumir diariamente. Mas, é exatamente isso que o torna tão excepcional e, muito provavelmente, faça com que as pessoas desistam de assistir o restante da obra.

Imagem com os personagens principais da segunda temporada de Psycho-pass

Mas, o que você precisa entender agora é que as temporadas de Psycho-pass não são muito “parecidas”, trazem uma sequência (muito lógica, para mim) e guiam a construção de mundo, pensamento e reflexão conforme avança. Uma temporada abre brecha para a outra, e isso é sensacional.

Construção de um universo inteiro: sequência lógica de Psycho-pass

Pegando o gancho do paradoxo da onipotência, e acrescentando spoilers, você vai entender porque existe uma sequência muito lógica dentro do universo de Psycho-pass.

A primeira temporada serve para você entender como esse sistema funciona, como ele se mantém, quem é Sibyl… Para que o sistema se tornasse neutro e pudesse julgar adequadamente toda a população japonesa, ele se compôs dos criminalmente assintomáticos (criminosos com baixo coeficiente criminal).

Lembra lá do Makishima? Pois é…

Imagem de Kamui, vilão da segunda temporada dizendo que estão jogando um jogo entre eles e o Sistema Sibyl
“Isso é um jogo… entre nós e Sibyl!”

Depois de entender isso, abrem portas para as perguntas na segunda temporada sobre o paradoxo que Epicuro criou para refutar a existência de um Deus. Se o sistema é onipotente, criou uma forma de julgar a todos, porque ele próprio não se julga?

Embora o time de personagens seja majoritariamente outro, o que precisa ficar claro é que Psycho-pass é uma meta-narrativa. O foco não são os personagens principais (mas, calma, eles têm fechamentos nos filmes).

O foco é e sempre foi a mudança dos tempos, o avanço tecnológico a tal ponto que uma máquina composta por criminosos assintomáticos decide o que é melhor pra você no seu lugar. Decide quem vive, quem morre, qual melhor profissão, qual parceiro ideal…

Shindo Arata, personagem da terceira temporada de psycho-pass
Três inspetores, momentos diferentes e mesma posição. Confie no sistema.

Em resumo, Psycho-pass nos apresenta uma realidade futurística do próximo século, onde avaliar a saúde mental e prevenir crimes se tornou uma tarefa “fácil”. Mas, ele traz tudo isso em uma sequência de ideias.

Temporadas 1 e 2 do anime

Na primeira temporada, o foco é na inspetora Akane (se torna coerente com o nome da obra original Kanshikan Tsunemori Akane, ou Inspetora Tsunemori Akane em tradução livre) e no confronto com o Sistema Sibyl e a tecnologia ultra avançada.

Como esse sistema tão perfeito funciona, como ele pode ser capaz de julgar o psycho-pass da população, qual a possibilidade de um diálogo com o sistema, e muitos outros aspectos nessa linha.

Imagem da segunda temporada do anime de Psycho-pass

Porém, na segunda temporada, “perdemos” os nossos queridinhos personagens principais, e a história abre portas para novas figuras. Mas, o problema é que tem uns personagens absurdamente irritantes e se comparar com a primeira temporada, a segunda fica ruim.

Só que, se você não pegar que o foco não é na verdade os personagens em si e sim na história (contexto) de cada um em relação ao sistema… Você percebe que na segunda temporada, a pergunta que nos intriga é “qual é a cor?”.

Nesse ponto, mais e mais personagens se questionam de que cor seria o psycho-pass do próprio Sistema Sibyl.

Temporada 3 e sua sequência First Inspector

Imagem com os personagens principais da terceira temporada de Psycho-pass e First Inspector

Quando essa parte se resolve também, com a resposta do Sistema ao paradoxo de sua onipotência, se retomam questões que a própria Akane levantou anteriormente. É moral e eticamente correto que esse sistema julgue outros seres humanos com base em uma medição da cor do seu psycho-pass, desconsiderando variáveis?

Mesmo não sendo 100% moral e eticamente correto, podemos entender que existiu e ainda existe a necessidade do Sistema se manter, para evitar um caos geral na população (sem preparos psicológicos para absorver a verdade da realidade que vivem).

Inclusive, é o foco da terceira temporada. Algumas pessoas não querem abrir seus olhos, e permanecer na ilusão é muito mais confortável do que perceber que as coisas precisam mudar, e fazer parte da mudança.

Imagem de Arata Shindo

Além, se cria um novo paradoxo: o Sistema foi criado para resolver os problemas de altos índices de violência e problemas econômicos, mas esse mesmo sistema gerou todos os problemas que precisaram ser resolvidos depois.

Seria o “criar uma doença, para depois vender a cura”. Nesse caso, foi criar uma cura que proporcionou outras doenças e, agora, precisa de uma nova cura. É basicamente como tudo se constituiu até os dias de hoje.

Por isso, na terceira temporada somos levados a compreensão de que retirar o sistema por completo não é a melhor opção. Mas que deixá-lo em sua totalidade também não. Novamente ficamos com reflexões e questionamentos, com poucas finalizações. Como você resolveria essa questão?

Filmes de Psycho-pass: continuação, história e novos olhares

Vou falar um pouco sobre os aspectos de cada filme. Eu tentei fazer isso com as temporadas do anime, mas sério, tem muita coisa ali. E embora eu tenha feito uma análise sobre os pontos mais relevantes da obra pra mim, ainda gostaria de manter o elemento surpresa para quem ainda não assistiu o anime e deseja ver. Então, bora lá…

O primeiro filme: Psycho-pass The Movie (2015)

Em ordem cronológica, esse filme acontece quase simultaneamente com Sinners of The System: Case 1. Se você sentiu saudades de Kougami Shinya, pois aqui ele estará.

Capa do primeiro filme de Psycho-pass, apenas com a inspetora Akane portando uma Dominator

A inspetora Akane consegue articular o sistema Sibyl com seus valores de justiça, e isso permite que o sistema possa ir se aperfeiçoando. Mas, o foco aqui é em questões políticas, quando o sistema se expande para fora do Japão e vai para SEAUn (South East Asian Union).

Psycho-pass é uma obra sensacional, mas quando ela sai do Japão (e sai mais de uma vez)… É aí que eu vejo a magia acontecer. A tentativa de implantar o Sistema Sibyl em outros países, que vivem em conflitos e guerras, para se trazer a mesma paz é brilhante.

No anime, infelizmente, não nos contam como foi feita a implantação do Sistema Sibyl no Japão. Por isso, quando o foco sai de lá para outros locais, podemos ver as tentativas e como está a realidade mundial do futuro sem “glamour“.

Até por isso mesmo que conseguimos entender o argumento da inspetora Akane que refere-se a necessidade de o Sistema existir e de manter as pessoas longe dos seus segredos, ao menos por enquanto.

Psycho-pass: Sinners of The System Case 1, Case 2 e Case 3

Imagem de capa do filme Sinners fo The System Case 1

Psycho-pass tem ao todo 4 filmes, sendo que 3 deles lançaram no mesmo ano. Estes filmes são o Sinners of The System, e o nome é mais do que apropriado.

Neste primeiro caso, Tsumi to Batsu, a nova inspetora Shimotsuki (chata que só, mas ela tem um desenvolvimento excelente na terceira temporada tá? não desistam dela), junto com o Ginoza descobrem um erro no sistema.

Bom, não no sistema em si, mas em quem está utilizando dele em benefício próprio. Uma instituição governamental que reabilita criminosos latentes se torna o foco de investigação da nova inspetora, e é lá que podemos começar a perceber os problemas que o sistema em si pôde criar.

Já no segundo caso, First Guardian, conseguimos ver um pouco mais da história de um dos recém integrantes dos Executores (Sugou, que entra na segunda temporada). Não espere assistir os filmes e ter uma ordem cronológica ou contínua dos fatos, logo mais eu mostro um mini guia de como você pode assistir.

Imagem de capa do filme Psycho-pass Sinners of the System Case 2, com os personagens principais Masaoka, Sugou e Rin

Continuando, no segundo filme, de casos dos “pecadores do sistema”, podemos ver uma questão que não tinha sido muito explorada até então: a questão militar. Embora em outros momentos apareçam cenários de treinamentos e afins, não se tinha visto ainda qual a relação do Sistema Sibyl com a parte de poderio militar nacional.

Nesse filme temos a ilustre presença do Inspetor Masaoka. É desse filme aqui a frase que eu mencionei lá no começo do artigo!

Imagem de capa de Sinners of The System Case 3

Sem muitos spoilers, e já finalizando… O último filme dessa trilogia, Onshuu No Kanata Ni, é muito importante para gente entender o que raios o Kougami fez enquanto ficou desaparecido e o que raios ele tá fazendo em outro lugar quando retorna pro anime. Só digo isso, vocês que assistam.

Mini guia de como assistir Psycho-pass e não se sentir perdido

Concluindo, você tem duas opções: assistir pela ordem que as temporadas e filmes lançaram ou assistir pela ordem cronológica dos acontecimentos.

Pela ordem de lançamento:

  • Psycho-pass (2012)
  • Psycho-pass 2 (2014)
  • Primeiro filme: Psycho-pass The Movie (2015)
  • Sinners of The System Case (1, 2 e 3, todos de 2019)
  • Psycho-pass 3 (2019)
  • First Inspector (continuação da terceira temporada, filme divido em 3 episódios, 2020)

Contudo, a que eu recomendaria para seguir o fluxo e sequência lógica da qual eu falei, é a ordem cronológica dos acontecimentos da história.

Para isso, a ordem é:

  • Sinners of The System Case 2,
  • Psycho-pass,
  • Psycho-pass 2,
  • Psycho-pass The Movie
  • Sinners of The System Case 1,
  • Sinners of The System Case 3,
  • Psycho-pass 3
  • Psycho-pass 3: First Inspector.

Particularmente, recomendo que assistam a primeira temporada e depois assistam Sinners of The System Case 2 (contém explicações de acontecimentos da primeira temporada).

Imagem de Kougami Shinya usando a dominator

Finalizando a crítica de Psycho-pass

Então, sem mais delongas… Assistam Psycho-pass, a obra completa. Ela discute os problemas que o próprio sistema criou, e além disso, trata sobre a necessidade de mantê-lo mesmo assim.

Assim como gera diversas reflexões a respeito de política, saúde mental, justiça, ética e moral. Você vai conseguir observar problemas atuais expostos de maneira similar e, ainda assim, diferentes, como a diferença de classe social (divisão entre criminosos e cidadãos, entre criminosos latentes – não cometeram delitos – e criminosos de fato).

Além disso, pode questionar o que é ser livre e ser responsável pelas próprias escolhas de vida, compreender que medir a sua saúde mental com base em estabilidade apesar de todos os pesares não é fácil e sequer normal. Estabilidade não existe. Seu psycho-pass turvo e alto não significa que seja um criminoso. Mas tê-lo cristalino também não significa que não cometa crimes.

E aí, vai encarar os mais de 40 episódios e todos os filmes?

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Escrito por

Amanda Franco

Psicóloga

Escritora | Resenhista

São Paulo - SP

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