Acho legal deixar claro que, de maneira alguma, essa postagem é paga ou foi pedida pelo pessoal do Canal Dormitório dos Animadores. E mesmo se fosse, eu faria com prazer, mas não cobraríamos nada, porque o projeto deles é, de longe, uma das coisas mais admiráveis dentro da cruel indústria dos animes.
No Canal Dormitório dos Animadores você vai encontrar episódios animados contando sobre a rotina, condições de trabalho e dificuldades (bem como as felicidades) de ser um animador no Japão. Porém, o projeto por trás desse canal é algo muito maior…
O “Canal Dormitório dos Animadores” (que lançou seu primeiro episódio menos de 1 mês atrás) é a versão em português-brasileiro do “Animator Dormitory Channel”, que já existe desde o começo de 2020.
E este sim é o canal “oficial” que tem relação com um projeto chamado “2020 Animator Dormitory Project” que visa ajudar os animadores japoneses que trabalham mais que eu e que você, e mesmo assim passam fome as vezes…
Jun Sugawara, o cabeça do projeto, descreve a situação da indústria do anime no Japão da seguinte forma:
“Even though the Japanese anime industry has been producing more anime than ever, with its market size reaching more than ¥2,000,000,000,000(≒$18.8billion), the environment surrounding animators remains severe — low salaries, long working hours, and illegal contracting is still very common.”
Numa tradução-adaptação minha:
“Mesmo que a indústria de animação japonesa esteja produzindo mais animes do que nunca, com seu mercado batendo mais de 18 bilhões de dólares, o ambiente que envolve os animadores segue complicado – salários baixos, longas jornadas de trabalho e contratações ilegais ainda seguem sendo bem comuns…”
Entrando mais à fundo no assunto…
Já investi muito tempo da minha vida para fazer um puta artigo completo sobre o funcionamento da indústria dos animes, e lá eu também comento sobre essas condições nada legais que os animadores precisam enfrentar para entregar os animes que tanto amamos.
Se quiser, dá um pulo lá no meu artigo e dá uma olhada.
Porém, vou deixar o vídeo do canal ASIAN BOSS aqui abaixo, pois ele contém uma entrevista exclusiva com o próprio Jun Sugawara [o cabeça do projeto].
Existe também uma campanha de crowdfunding que envolve o projeto, no site GoGetFunding. Clique aqui para dar uma olhada. Na página, é descrito todas as injustiças que os animadores enfrentam por lá. E não são poucas.
Um animador iniciante recebe menos de 800 dólares por mês. E você pode até fazer a conversão e pensar “poxa, mas isso é bastante dinheiro!”.
Mas os custos de vida pelo Japão não são nem um pouco baratos. Fora que são 800 dólares para trabalhar muitas vezes de segunda a segunda, mais de 12 horas por dia para bater as metas de entrega.
Contudo, o que assusta mesmo é saber que, as vezes, no primeiro ano inteiro de trabalho um animador trabalha tudo isso, e ganha menos de 270 dólares por mês. Pior ainda é saber que cerca de 90% dos animadores DESISTE do sonho e do trabalho em menos de 3 anos de carreira por conta de tais condições de trabalho.
Não é fácil.
A pirataria é concorrência, mas deve, sim, ser evitada
Eu achei engraçado que no vídeo que postei lá em cima, o primeiro comentário é de um cara falando “ver esse vídeo faz eu me sentir mal por ver anime de graça”. Leia-se, piratear.
Então, se você pirateia, você está sim patrocinando essas condições insalubres de trabalho.
E você, assim como eu, devemos nos sentir mal por isso.
É claro que todos os problemas da indústria não serão resolvidos se eu e você simplesmente assinassemos a Crunchyroll. Mesmo porque eu já assino.
Mas não é simples assim, principalmente porque o problema está no sistema, e a mudança tem que vir de dentro. Vir da mão de japoneses.
Japoneses como o Jun, que está na batalha para isso acontecer.
Porém, a gente pode fazer a nossa parte. Assinar o serviço ajuda sim, porque como contou o Yuri Petnys (da Crunchyroll) no último episódio do Animes Overdrive, “50% do valor vai direto para o Japão”.
Todavia, a Crunchyroll (ou similares) não vão acabar com a pirataria. Afinal, isso é impossível.
Você não acaba com a pirataria, você concorre com ela.
É preciso entregar algo tão bacana, tão prático e acessível que a pessoa pagará pela comodidade. Assim como fez a Netflix, que não acabou com a pirataria de séries e filmes, mas já tá na casa de “todo mundo”.
Enfim, o papo sobre pirataria pode ficar para outra hora (quem sabe num CúpulaCast), mesmo porque me considero incapaz de desenvolver um artigo inteiro sobre o assunto.
Mas sei que a Paloma do Chimichangas tá construindo um texto sobre o assunto. Tenho certeza que ficará incrível. Fiquem atentos!
Conheça o Canal Dormitório dos Animadores!
Por fim, resgatei os 3 primeiros episódios do Canal Dormitório dos Animadores para você poder dar uma olhadinha e começar a acompanhá-los também.
No canal gringo do projeto já temos mais do que 3 episódios, mas em inglês.