O conceito Manic Pixie Dream Girl e sua atuação nos animes e mangás

O conceito Manic Pixie Dream Girl, por muitos desconhecido, é um recurso bastante utilizado nas narrativas hollywoodianas, onde tem como maior objetivo representar a figura feminina apenas como uma ferramenta de impulsão para o personagem masculino.

Enquanto a história apresenta um homem complexado, com diversos problemas e sem um rumo objetivo, em sua vida surge uma linda e “perfeita” mulher, a qual servirá como um guia para que ele possa encontrar o caminho e colocar sua vida nos eixos novamente.

De acordo com o próprio autor, Nathan Rabin, que cunhou o termo depois de ver Kirsten Dunst em Elizabethtown, ele descreve o efeito deste conceito nas narrativas como “aquela criatura cinematográfica cintilante e superficial que só existe na imaginação febril dos escritores”.

Fica claro que essas personagens, idealizadas por homens em sua grande maioria, não possuem uma qualidade específica própria ou grandes ambições na vida senão a ideia de melhorar a qualidade de vida do espectro masculino.

Dessa forma, muitas mulheres acabam não sentindo-se representadas por essas personagens, uma vez que não retratam de forma fiel a realidade. Afinal, como o próprio crítico comenta, não passa de uma criatura que existe somente na imaginação.

Claro que na vida real existem mulheres assim, que impulsionam seu parceiro a um patamar mais elevado, visando sempre o crescimento e a felicidade. No entanto, não para por aí. Diferentemente da ficção, enquanto há todo esse prisma de auxílio e crescimento do parceiro, a mulher desempenha um papel fundamental na peça da sua própria história.

E é justamente esta característica que é completamente abandonada, focalizando somente nas ambições do homem, o que acaba tipificando a mulher como uma espécie de ponte para que ele alcance seus objetivos. E a história dela termina por aí.

O Manic Pixie Dream Girl é tão ruim assim?

Narrativamente falando, o conceito é visto com maus olhos, uma vez que retrata todos os pontos denotados acima, fazendo assim com que a mulher não tenha um grande papel de expressividade em seu desenvolvimento. Afinal, em síntese, a história narrada ali não é exatamente sobre elas.

Trata-se da criação de um relacionamento onde o homem é problemático e cabe a ela servir para o propósito dele, na ânsia de “consertá-lo”. O Manic Pixie Dream Girl é uma visão estereotipada de como uma mulher deveria agir nas grandes telonas.

Neste imaginário adolescente dos homens, a figura da mulher é frágil, meiga, “perfeita” e que está sempre disposta e revolucionar o mundo em prol do bem-estar do homem. Ademais, é justamente por conta desta visão que, às vezes, pode representar um imaginário sexista, gerando muitos problemas.

Afinal, presenciar obras retratando a mulher como uma ferramenta em vez de protagonista de sua própria história é mais fácil. É claro que existem narrativas em que a personagem feminina foge desse estereótipo, mas devemos admitir que muitos títulos fragilizam ou menosprezam a presença da mulher.

Um pequeno adendo antes dos exemplos

Antes de apresentar os animes/mangás onde este conceito é trabalhado, é preciso abordar alguns filmes fundamentais para a compreensão do tema. Afinal, trata-se se um conceito criado, originalmente, para abordar as questões trazidas pelo universo cinematográfico.

Ou seja, temos que partir de um princípio, e este ponto são os filmes. É possível que uma parcela dos otakus não sejam muito ligados em assistir filmes e direcionem toda sua energia somente para os animes e mangás. Pensando nisso, é importantes este pequeno tópico.

A seguir, uma série de longas-metragens serão apresentados para elucidar melhor o Manic Pixie Dream Girl, mas não se preocupe, os animes não ficarão de fora deste texto. É só continuar lendo até o final que a recompensa virá. E vai valer a pena.

Exemplos de filmes que trabalham esta ideia

No filme “Scott Pilgrim Contra o Mundo”, temos a personagem Ramona Flowers, interpretada pela atriz Mary Elizabeth Winstead. Aqui, o filme retrata Ramona como um grande troféu a ser ganho ao final.

Além disso, embora a personagem esteja sempre em evidência, pouco se comenta sobre sua vida ou suas ambições. O pouco que pode ter de conhecimento sobre ele em boa parte da narrativa é com base na imaginação do protagonista masculino, Scott.

Em “As Vantagens de Ser Invisível”, seguimos Sam, interpretada por Emma Watson, uma jovem ousada e divertida que tira Charlie, o protagonista, de sua zona de conforto. Ela oferece a ele uma nova interpretação sobre a vida. E por mais que ela sofra com suas mazelas, o filme tem como objetivo primário abordar os traumas de Charlie e na maneira com que Sam auxilia o garoto a superá-los.

Em “Brilho Eterno De Uma Mente Sem Lembranças”, onde Kate Winslet e Jim Carrey dividem os papéis de par romântico, a personagem Clementine Kruczynski é mais uma vez peça fundamental para o desenvolvimento do protagonista, que sofre por conta de suas lembranças, da qual ela é a principal e mais nociva para ele, sendo o estopim para o desenrolar de todos os fatos abordados no filme.

E, claro, a, provavelmente, mais famosa de todas e que por muito tempo gerou debates na internet sobre quem estava certo e quem estava errado, a Summer, interpretada por Zooey Deschanel, do filme “(500) Dias com Ela”. Ela desperta o lado mais aventureiro e criativo de Tom, mas também desafia suas expectativas românticas, causando uma enorme confusão em sua vida.

As mulheres são mais do que um imaginário masculino pode oferecer

Por fim, a grande crítica no que tange a este conceito é a falta de reconhecimento. As personagens femininas podem, sim, aderir a um lado empático e auxiliador em relação aos seus amados. No entanto, é importante reconhecer que elas são mais complexas, possuem suas próprias histórias e motivações, que não devem ser negligenciadas em favor do ideal masculino.

Os animes não ficam de fora do Manic Pixie Dream Girl

Em outros ensejos, eu abordei aqui na Cúpula sobre este termo, de forma mais sucinta, claro. Mas serviu, nestes momentos, para trazer à tona este conceito para dentro deste nosso universo. Afinal, muitas obras trabalham essa questão. E reiterando, o fato de muitos desconhecerem, não significa que não exista. Existe e está presente nas narrativas.

Além do texto de análise sobre o anime Shigatsu wa Kimi no Uso (Your Lie in April), mais recentemente, sobre o mangá Ao Haru Ride, eu comentei acerca do Manic Pixie Dream Girl.

Ambos trabalham esta questão e apontam a personagem feminina como esta ferramenta para o crescimento pessoal do protagonista masculino.

Seguindo com outros exemplos desse arquétipo dentro do mundo otaku, podemos notar uma série de exemplos, como Haruhi Suzumiya, de “The Melancholy of Haruhi Suzumiya”, Yuno Gasai, de “Mirai Nikki” (Future Diary) e Menma, de “AnoHana”.

Cada uma dessas personagem, em suas próprias peculiaridades, possuem algo em comum: a determinação de fazer com quem o personagem masculino alcance seus objetivos, apresentando a eles um mundo antes desconhecido. Em alguns casos, como em Mirai Nikki, essa tenacidade é tamanha que torna os atos da personagem feminina abusivos e violentos.

Personagens femininas dos animes e mangás que fogem deste arquétipo

É de vital importância salientar o quanto as personagens femininas sofrem com esta imagem nos animes e mangás. Assim como nos cinemas, as mulheres também não se veem representadas por personagens fracas e sem ambição nos animes e mangás.

Diferente desse arquétipo estereotipado, muitas obras retratam a presença das mulheres nos animes e mangás de uma forma mais digna e real. Por exemplo, Mikasa Ackerman, de “Attack on Titan”; Motoko Kusanagi, de “Ghost in the Shell“; Revy, de “Black Lagoon” e muitas outras do Studio Ghibli. Hayao Miyazaki, o genial criador, criou personagens femininas fortes, humanizadas e donas de uma grande sensibilidade.

Essas personagens mostram que por serem mulheres, o destino narrativo não as fadam a um cenário de submissão ou mesmo sem grandes perspectivas. Existe um mundo.

Podemos explorar e realizar um enorme universo de sonhos. Cabe somente aos autores desenvolverem boas narrativas que extraiam o melhor a mais intenso de suas personagens.

Comentários finais sobre Manic Pixie Dream Girl

Por fim, tanto nos animes, mangás ou mesmo nos filmes, as personagens femininas precisam evidenciar enorme representatividade. Também empoderamento e relações interpessoais bem desenvolvidas e que expressem uma relevância, tanto para a personagem quanto para quem está do outro lado, acompanhando a história.

Tudo isso torna-se necessário para que haja uma conexão, seja com o telespectador ou com o leitor. Algo que torne tudo aquilo real e significativo.

Apresentando as personagens como intensas, determinadas e ambiciosas, não em um comodismo idealizado no qual elas não possuem grande desenvolvimento, senão uma mera ferramenta.

Em conclusão, caso queira expandir o conhecimento sobre o tema, você pode dar uma olhada no vídeo logo abaixo, que aborda os fatos apresentados aqui e mais algumas informações: