É difícil para mim falar sobre Spy Classroom com um olhar neutro, puro, como se fosse a primeira vez que eu estivesse vendo um anime com tantas características generécas. Todas as nossas experiências passadas com obras diversas irão influenciar a maneira como encaramos novas experiências, seja com animes, mangás ou qualquer outro tipo de mídia.
Talvez não aconteça com você. Talvez Spy Classroom seja um show de inovação e mexa com seus sentimentos. É importante ter em mente que o clichê de hoje uma vez foi inovação.
A questão é: será que este anime valerá seu tempo, seja inovação ou seja clichê? Tentarei responder a essa pergunta com minhas primeiras impressões.
- Gêneros: Ação, Comédia, Mistério, Romance
- Estúdio: feel. (Tsuki ga Kirei, OreGairu, Hinamatsuri)
- Diretor: Kawaguchi, Keiichirou (Island, Shadowverse)
- Material fonte: Light novel
- Onde assistir: Não encontramos 🙁
- Novos episódios: Quintas
Spy Classroom não inventa nada, mas não é esse o problema
A história é simples e direta, ou pelo menos assim foi nos três primeiros episódios.
Todo começo de episódio temos um diálogo expositivo de um narrador desconhecido que tenta ser filosófico e reflexivo, apontando como o mundo não está mais travando guerras sangrentas e grandes e alarmantes conflitos militares. Agora, o negócio é espionagem.
Com uma boa estrutura e bons espiões as nações planejam impedir os conflitos antes mesmo deles começarem (ou fazer treta sem que os outros percebam).
No anime acompanhamos várias garotas que supostamente falharam em seus respectivos locais de treinamento para espionagem. Não “falharam” de verdade, só não eram as melhores das melhores. Pelo menos foi assim que entendi.
Apesar dos resultados duvidosos na academia, elas são selecionadas para participar de uma missão dita como impossível. Para isso, elas precisarão passar por um treinamento puxadão com um professor ultra-pika.
O objetivo?
A intenção é clara: torná-las capazes de conseguir completar essa tarefa. Não será fácil, tendo em vista que o esquadrão mais top de espiões foi dilacerado na última tentativa de completar essa ambiciosa missão.
Não precisa de muito tempo para o professor perceber que a melhor forma de ele treinar elas é o clássico modelo alunos VS professor. Ou seja, elas terão que dar seu melhor para conseguir derrotar o professor e se aprimorarem.
Para você talvez isso seja novidade, mas para mim, já tá batido. Existem por aí uma porrada de animes com premissas parecidas, apesar de não exatamente iguais. Assassination Classroom é o primeiro que vem à cabeça. Então, este não é essencialmente o problema, tendo em vista que se você não pegou muitas premissas dessas ainda, talvez você ache inovador e interessante.
Entretanto, o que desaponta em Spy Classroom são os pilares que deveriam sustentar essa premissa que para uns é batida e para outros pode ser novidade.
O professor
É aquele cara perfeito, darkzão, sem emoções (e gostoso). Faz tudo sem problema algum, tem um passado obscuro e, obviamente, tem problemas para se relacionar com pessoas.
É do tipo que parece “cabeça de vento sem expressões”. Você não sabe o que ele pensa e nem a linha de decisões do personagem, mas, no fim, ele está analisando tudo e sairá de todas as situações supostamente complexas com maestria e perfeição.
O problema aqui: o anime abusa da suspensão de descrença, fazendo um equilibrio ruim. Diferente de obras como Gurren Lagann, onde o absurdo é presente desde o começo, em Spy Classroom senti um tom de “realidade” nesse começo, do tipo que leva você a pensar “ah, isso poderia ser no mundo real”.
Por exemplo, em momentos onde o professor simplesmente mexe as mãos ultra-rápido e consegue desfazer diversas fechaduras trancadas ao mesmo tempo não convence você o sentimento único é o clássico “nem a pau”, que vai permanecer em mais alguns momentos.
Logo, na minha experiência, ao esperar algo mais convincente e caprichado, me quebrou receber um “senta aí e só aceita que o cara é pika”.
O famoso grupo de meninas
Este é o clássico “grupo de garotas gostosas selecionadas para fazerem o trabalho de adultos”.
Assim como acontece em obras como Naruto, onde selecionam um bando de crianças para fazerem missões ultra importantes que decidirão o futuro ninja ou em Lycoris Recoil, onde a paz japonesa é mantida por um bando de meninas adolescentes lindas e treinadas, também ocorre em Spy Classroom.
O problema: nos dois exemplos citados, você compra melhor a ideia porque a ambientação do anime te convence por meio da originalidade e do worldbuilding. Em Spy Classroom, como tudo acaba sendo clichê, esse ponto negativo se ressalta e fica evidente como é absurda a decisão de deixar essas garotas fazerem um trabalho tão importante.
A escola de treinamento de espionagem, aparentemente, só tem meninas lindas. Todas estão com uniformes escolares e saias curtas (mas uniformes PRETOS, claro, afinal, espionagem né?). Todas elas pecam em ter personalidade própria.
Parece que todas as decisões são tomadas pelo roteiro, e não por personagens reais.
Menina A, Menina B, Menina C… quem é quem mesmo em Spy Classroom?
Falei um pouco sobre isso num episódio recente do CúpulaCast, mas eu gosto quando você sente que é o personagem tomando uma decisão, como se fosse uma pessoa viva com suas próprias motivações e sentimentos.
Cowboy Bebop é um anime que acerta demais nesse quesito, e por conta disso, você é surpreendido várias vezes. Em obras assim, é possível você olhar para o que está acontecendo e pensar “conhecendo o Spike, ele provavelmente não tomaria essa decisão”.
O problema: em Spy Classroom, por não terem tempo para desenvolver tantas moças, todas ficam rasas, superficiais. Os diálogos são óbvios e as tomadas de decisão previsiveis. Todas possuem a mesma linha de pensamento, e os mesmos valores. Parece que o que as move é exatamente a mesma coisa. Não fica humano, natural, autêntico… Sei lá, você define a palavra.
O anime até tenta forçar uma personalidade para cada, como se “essa aqui é a brabinha”, “essa aqui é a que fala com voz sexy”, “aquela é a pequena fofa e a outra ali é a cabeça de vento”, mas simplesmente não funciona.
A interação aluno VS professor
Nada de novo aqui também. Diversos momentos onde elas tentam ser mais fodas, mas na verdade ELE que foi mais foda. Conversas filosóficas e não naturais entre os personagens (daquele jeitão bem japonês). Também temos aluna fazendo encontro com professor e potencialmente se apaixonando… É o pacote completo.
O problema: é difícil transmitir meu sentimento via palavras, mas se você já viu animes o suficiente, você vai ter (e muito) o sentimento de “eu já vi isso antes”. Mas esse ponto talvez você precise assistir Spy Classroom para entender.
A parte técnica de Spy Classroom
Não sou estudioso, artista e nem profissional de animação, porém mesmo um leigo como eu, ao bater o olho na estética do anime, percebo que tudo ali é feito dentro de um padrão. Todos os traços, os cenários, as cores… Nada chama a atenção. Nada é único. Nadinha.
Ao mesmo tempo, por ser um anime com cenas de ação, você também terá aquele sentimento de “essa cena poderia ser mais legal se tivesse mais tempo/dinheiro para caprcihar na animação”. Porém como é um daqueles anime B (ou C) que cairão no esquecimento, a animação nunca seria algo bastante destacável. Nem a Crunchyroll pegou esse anime, e olha que eles pegam VÁRIOS por temporada. E vários duvidosos, por consequência.
O problema: novamente, é difícil transmitir o sentimento via palavras, mas você com certeza não sentirá que essa obra será marcante.
Finalizando minhas primeiras impressões de Spy Classroom
Infelizmente não posso recomendar que vocês assistam esse anime. Não há nada destacável ali que faça valer seu tempo.
Não tem trilha sonora marcante, não tem história interessante, os personagens são rasos e sem graça, a animação é super mediana… fora que o final do primeiro arco, que acontece ao final do terceiro episódio, tem um desfecho super deus ex machina safado. Foi uma tentativa sem graça de “mindblown”. Tenho certeza que 99% das pessoas que assistiram reagiram com “KKKK sério mesmo?” do que “Noooooossa! Que reviravolta!”, ou pelo menos é nisso que prefiro acreditar.
Enfim, não há nada que chame atenção em Spy Classroom o suficiente para que, na minha opinião, valha seu tempo. É claro que se você tem muito tempo sobrando, sempre vale dar uma chance e apostar que pode melhorar. Não é o meu caso, contudo.