Shigatsu wa Kimi no Uso é um anime produzido pelo estúdio A-1 Pictures. A obra, baseada em um mangá, que foi publicado aqui no Brasil, porém que é praticamente impossível de se encontrar, teve seu lançamento em 2014, contando com 22 episódios ao total.
Os volumes sumirem das prateleiras é bem parecido com o que aconteceu com Hunter x Hunter. Porém, o mangá agora vai receber uma nova impressão. Acho muito improvável, mas para os adeptos ao mangá, quem sabe não haja, futuramente, uma reimpressão de Your Lie in April?!
Fiz com Shigatsu wa Kimi no Uso algo que não costumo fazer com muita frequência: assistir mais de uma vez a mesma coisa. Entretanto, este anime é tão maravilhoso de tantas formas possíveis, que se torna quase impossível não reassistir em algum momento. Principalmente após quase três anos desde que vi pela primeira vez.
E é interessante como aprendemos ou prestamos atenção em detalhes que, quando vistos pela primeira vez, não foram perceptíveis. Como, por exemplo, o fato de Your Lie in April ser um shounen. Eu não sei se muitos não sabiam disto ou ficaram estarrecidos ao tomarem conhecimento deste fato, assim como eu, mas é algo que me pegou de surpresa.
Shounen não é porradaria (não somente)
Todavia, Shigatsu wa Kimi no Uso não é exatamente aquela ideia estereotipada que temos do shounen. Com o passar do tempo, a ideia desta demografia ficou bastante associada com lutas e muita porradaria. Porém não é isto que o gênero, em sua essência, significa. Nunca foi.
Sobretudo, existe uma batalha em Shigatsu wa Kimi no Uso. Mas essa batalha é musical.
Então se você que está lendo este texto ainda não conhecia esta animação, saiba que se trata de um anime sobre música, mais precisamente música clássica. E isto é fascinante.
Ao longo da história, somos apresentados a grandes compositores magníficos e suas melodias incrivelmente lindas, tocadas no piano.
Se você é um adepto à música e principalmente música clássica, Your Lie in April é um anime que você precisa conhecer melhor.
Kousei Arima e sua relação com o piano
A história segue a vida de Kousei Arima, um garoto que desde sua infância era um prodígio no piano. Devo dizer que o Kousei não teve infância. Como ele, desde pequeno, tinha uma desenvoltura incrível para o piano, o garoto estava sempre treinando.
Kousei já havia ganhado vários campeonatos, o que fez com que muitas pessoas o reconhecessem como um “robô”. Isto porque o menino tocava em exatidão o que estava na partitura, não fugindo nem um momento sequer ou mesmo cometendo erros.
Ele tocava como se não tivesse sentimentos, como se a música que ele estava reproduzindo não fosse nada além de simples notas que precisavam ser acertadas uniformemente.
Além do apelido de “robô”, havia outros. E acima de tudo, também começou a crescer a inveja em cima do pequeno músico. Porém, isto não é muito importante para a história, mas está presente.
Aliás, o que é importante sobre a infância do Kousei é a admiração que ele cativou em vários personagens que ao longo da trama se mostraram motivados por sua causa.
A problemática do relacionamento de Kousei com o piano
Todavia, nem tudo são flores. Kousei não tocava piano porque amava. Pelo menos inicialmente poderia ter sido, mas em um determinado momento da vida isso mudou.
Foi alterado quando sua mãe forçava o garoto a se debruçar no piano e tocar repetidas vezes até que sua mente e corpo não aguentassem mais.
A perfeição em cada sinfonia não era por prazer, mas por dever, obrigação. Kousei não aguentava mais e mesmo assim, por mando de sua mãe, ele continuava.
E a justificativa para tal desespero da mãe para que Kousei fosse o melhor entre os melhores, era porque sua mãe também havia sido uma excelente pianista. A mesma conquistou vários prêmios.
Porém, por conta de uma grave doença, ela teve de deixar os palcos. E este é um ponto interessante de se analisar. A mãe de Kousei sofria de um narcisismo absurdo. Ou pelo menos essa é a ideia que o anime transparece inicialmente.
E este narcisismo fez com que ela depositasse no Kousei todas as suas esperanças, pois como ela não pôde alcançar seus sonhos, ninguém melhor do que seu próprio filho para dar continuidade a seu legado.
E é exatamente isto que o garoto faz. Sem questionar, pelo menos inicialmente. Afinal, ele era uma criança e sempre queria fazer o que melhor fosse para a mãe.
A redenção da mãe e o trauma do piano
O relacionamento abusivo entre Kousei e sua mãe é um ponto bastante trabalhado na história, uma vez que segue sendo o motivo dos problemas do protagonista. E claro que ele iria ser esmiuçado até o final do anime.
E como mencionei, o início de Shigatsu wa Kimi no Uso revela uma faceta da mãe que faz com que ela seja odiada e nada justifique seus atos.
Entretanto, todas essas atitudes da mulher recebem uma nova roupagem nos episódios finais. Claro que eu não vou comentar aqui em exatidão o que acontece, tampouco comentar sobre qualquer tipo de spoiler sobre a obra.
Mas digamos que ainda assim, não justifica. Faz sentido? Até que sim, mas não apaga todo o histórico negativo que foi construído inicialmente.
Definição subjetiva entre Kousei e sua mãe
Mas isto é uma questão pessoal de olhar, interpretar e decidir de justifica ou não. Mesmo porque ficou um trauma gerado por esse relacionamento.
Trauma esse que acaba com a carreira de Kousei como músico. Isto o faz abandonar os palcos de vez. Kousei simplesmente não conseguia mais ouvir as notas que o piano soava.
E por mais que ele ainda amasse a música e quisesse tocar, ele não era capaz. Primeiro, porque ele não conseguia escutar as notas. Segundo, a imagem severa e tenebrosa de sua mãe nos momentos em que o obrigava a praticar surgia em sua mente.
E o anime usa o fundo do mar como uma metáfora para os sentimentos do personagem quando ele tenta tocar algo. Seria algo como sufoco, solidão, desespero e principalmente de não se poder ouvir nada de tão imerso que se está nas profundezas das águas.
Por fim, de tanto o menino, agora mais velho, investir e não ter sucesso, ele finalmente desiste de tudo, mesmo sendo uma paixão esquecida. Contudo, no fundo, ainda querendo tocar e ouvir o que está tocando.
Kaori Miyazon e o conceito de Manic Pixie Dream Girl em Shigatsu wa Kimi no Uso
Ainda sobre o ponto discutido no tópico anterior, claramente Kousei não iria viver com esse peso pelo resto de sua vida. E claro, iria aparecer alguém para mudar sua vida. Mudar seu destino. Apresentar uma nova forma de enxergar a vida.
Um prisma otimista e que vale a pena reconsiderar todos os pontos antes abrigados no recôndito de seu ser. Essa pessoa era a Kaori Miyazon. Uma jovem loira que ama música e expressa seus sentimentos por meio do violino. A Kaori é o extremo do Kousei. O contraste perfeito. Se o Kousei não consegue sentir a música, a Kaori sente até demais e vive por ela.
E essa relação entre eles é o que dará ao protagonista o desejo de “viver pela música” mais uma vez. Ou quem sabe, melhor dizendo, pela primeira vez.
Afinal, antes o Kousei fazia apenas o que era mandado, seguia conforme era indicado. Já a Kaori não obedece nada, improvisa tudo. Ela sente verdadeiramente as emoções das notas e da música em si.
Quando Kousei percebe toda aquela intensidade que ela deposita na música, ele sente que também quer viver aquilo. Porém, também existe uma voz interior que o diz que aquele estilo de vida é impossível.
Todavia, o impossível é só uma ideia que se tem de algo antes dela ser de fato realizada e mostrada que, na verdade, era possível.
Apesar de o Kousei ser o protagonista e a história se desenvolver a partir dele, a Kaori é a grande chave para solucionar os problemas.
Aliás, se não fosse por ela, nada ali aconteceria. O Kousei não teria um desenvolvimento intrapessoal e também interpessoal. E ele viveria na solidão para sempre.
A definição do Manic Pixie Dream Girl
E juntamente com a presença da Kaori, também a acompanha um termo chamado Manic Pixie Dream Girl. Traduzindo, seria algo como Garota Maniaca Fada Sonhadora. Estas personagens femininas são um tipo padrão em determinados filmes.
O criador deste conceito foi um crítico de cinema chamado Nathan Rabin. O crítico descreve o evento como ”aquela criatura cinematográfica cintilante e superficial que só existe na imaginação febril dos escritores”.
O lado negativo do conceito
Em síntese, a presença da Kaori em Shigatsu wa Kimi no Uso, nada mais é do que uma necessidade do protagonista de encontrar a si mesmo e seguir sua vida dando a volta por cima.
Este conceito é enxergado de forma negativa, uma vez que define a personagem feminina apenas como uma ponte para a realização de algo maior envolvendo o personagem masculino.
Talvez, para você que assistiu o anime, esta análise tenha destruído, parcialmente, sua experiência com Shigatsu wa Kimi no Uso. Mas não foi minha intenção.
Aliás, mesmo evidenciando isto, não muda o fato do amor que envolve os dois e de como esse amor foi importante para que ambos alcançassem seus objetivos. Resumindo, é uma linda história de amor.
O triângulo amoroso de Shigatsu wa Kimi no Uso
Este é um ponto que eu sempre (ou quase sempre) estou comentando. Triângulo amoroso é algo saturado em animes. Principalmente quando o anime envereda-se para o lado romântico. Que é o caso de Your Lie in April.
Logo, claro que eu não poderia deixar de comentar sobre este ponto aqui neste texto. Entretanto, será algo mais sucinto.
Tsubaki Sawabe é a melhor amiga de Kousei. E não somente isto. É uma amiga de infância. Desde a época em que Kousei sofria maus tratos da mãe em relação às suas aulas de piano. Ademais, Tsubaki presenciou todos os sofrimentos do garoto e sempre esteve ao lado dele.
Porém, em um determinado momento, Tsubaki se apaixonou por Kousei. Mas infelizmente este amor foi unilateral, porque Kousei a via somente como uma amiga. Na verdade, uma grande irmã apoiadora.
Quando a Kaori surgiu na trama, Tsubaki não teve nenhuma chance. E ela sabia disso. Resumindo, ela aceitou a posição dela como melhor amiga e uma “irmã”.
Com isto, Tsubaki jurou nunca abandonar Kousei e sempre apoiá-lo. No fim, as coisas deram certo, mesmo que não da forma que a Tsubaki desejava que fossem.
Finalizando a crítica sobre Shigatsu wa Kimi no Uso
Você que ainda não assistiu Shigatsu wa Kimi no Uso, talvez já tenha ouvido falar dele por aí. E se ouviu, ao menos uma vez, sabe que o final não é perfeito. Quando digo que não é perfeito, não é no sentido negativo, ou seja, afirmando que o final é ruim.
Muito pelo contrário. É na ideia de que o final não é feliz. E como supracitei neste texto, não irei entregar nada.
Your Lie in April é um anime maravilhoso, com uma história incrível, desenvolvimento de personagens agradável. Sobretudo, que vai te fazer chorar ao final de todos os eventos apresentados durante os 22 episódios.
Em suma, além de tudo que eu já comentei aqui, somente assista, caso ainda não tenha visto. Vale muito a pena assistir esta obra. Por fim, gravei um vídeo sobre este anime. Talvez nele tenha alguns informações mais bem trabalhadas. Caso queira assistir, estará logo abaixo.