Com uma narrativa mais ocidentalizada, O Senhor dos Espinhos cativa bastante quando o assunto é mistério e suspense. A adaptação cinematográfica foi ao ar em 2009, pelo estúdio Sunrise.
O filme, baseado no mangá homônimo, publicado pela editora JBC, dá uma forma mais viva a tudo o que está presente ao longo de seis volumes encadernados.
Contudo, mesmo sendo interessante e imersivo, o filme não agrada tanto em pontos específicos. Quer seja pela estética ou mesmo pela forma arbitrária de conduzir a história.
Portanto, neste texto, sem entregar spoilers, iremos comentar sobre a adaptação do filme O Senhor dos Espinhos e alguns paralelos com o mangá. Seus pontos fortes e pontos fracos.
A temática interessante de O Senhor dos Espinhos
Como já supracitado, o estilo deste filme segue um modelo diferente dos habituais japoneses, uma vez que temos, respectivamente, um início, meio e fim sem rodeios.
É um tanto quanto comum percebermos que em geral, os japoneses gostam de criar um grande clímax. Mas sempre jogam uma história a mais, inviabilizando o final e arrastando o máximo possível.
Ibara no Oh não se prende a isto. Mesmo sua história parte de uma ideia totalmente mais objetiva e com vislumbres de produções hollywoodianas.
E desde já, é bom salientar que a experiência com o mangá é superior à do filme. E isto é lógico. Porém, o filme cumpre seu papel. Da melhor maneira possível à sua alçada.
Ademais, nesta história acompanhamos o surgimento de uma terrível doença que começou a se espalhar pela humanidade. E infelizmente ela não tem cura. É uma questão de tempo até que todos a adquiram e venham a falecer. Esta doença tem como sintoma principal a petrificação.
Daí surgiu o nome “Medusa”. O que seria uma metáfora para a figura mitológica que possuía a habilidade de petrificar suas vitimas com o olhar.
Aliás, não somente há essa referência, como O Senhor dos Espinhos também se apoia bastante ao longo do enredo no conto de “Bela Adormecida”.
A partir disto, o caos começa a se instaurar na história. O início do filme é basicamente vários noticiários de vários países comentando acerca do caso e do que as autoridades estavam fazendo acerca da atual situação. Neste ponto, o elemento de pavor é introduzido com sucesso.
É a partir disto que uma iniciativa realiza uma espécie de sorteio onde 160 pessoas foram escolhidas para serem colocadas em sono criogênico, monitoradas por uma inteligência artificial chamada Alice, para aguardar por uma possível cura. Todavia, isto dá errado.
O aspecto pós-apocalíptico
Intempestivamente, as cápsulas dos voluntários começam a se abrir uma a uma. Porém, não significava que tinha chegado a hora certa. Havia se passado somente 48h deste o momento em que foram colocados lá dentro. Algo deu errado.
Para piorar a situação, o local estava rodeado por estranhos espinhos e criaturas monstruosas que, na primeira oportunidade, matavam sem hesitar. Este é o primeiro momento de muitos na história onde a ação toma de conta da tela. Muita morte, muito sangue e muito tiroteio.
Neste ponto de Ibara no Oh, a única atitude lógica é o questionamento. É com base nisto que toda a narrativa trabalha. Criar um grande mistério e, aos poucos, ir revelando.
Quando chegamos neste momento, a história envereda pelo caminho do survivor, reunindo, então, os nossos queridos protagonistas na busca por respostas e nas várias tentativas de sair daquele lugar no qual estão constantemente expostos ao perigo.
E começam aqui as críticas acerca da adaptação. Claro que em uma adaptação é impossível colocar todas as informações contidas no mangá.
Porém, deixaram de lado dados sobre personagens fundamentais para a história. Levando em consideração que o filme tem 2h de duração. Será que não dava para acrescentar? Enfim, paciência.
Basicamente, o desenrolar do filme se pauta na incrível jornada dos personagens tentando compreender o atual cenário. Conforme as respostas vão surgindo, máscaras caem, revelando quem é quem e seus reais objetivos.
Por fim, o filme alterna bastante entre 2D e 3D. O CGI é um recurso bastante utilizado na história nos momentos de ação, de embates dos personagens contra os monstros. Aliás, a parte em 2D é simplesmente maravilhosa. Em paralelo, o 3D é, no mínimo, questionável.
Uma espécie de tentativa de Neon Genesis Evangelion
O Senhor dos Espinhos, desde seu início, revelou uma narrativa simples, mas interessante. Entretanto, o filme toma um rumo drástico na metade para o final, mostrando-se razoavelmente complexo.
Basicamente o que acontece no final de Neon Genesis Evangelion. Umas imagens distorcidas, muitas memórias surgindo, pensamentos fora de contexto e toda aquela ideia “cult”. É fato que o final de O Senhor dos Espinhos é bastante confuso. E se torna ainda mais no filme.
No mangá, por conta de toda uma contextualização, se torna mais simples. Porém no filme, com recursos limitados, ainda é possível a compreensão. Todavia, muito vaga em relação ao apresentado pelo mangá. Chega a ser muito confuso.
Desta forma, ler o mangá seria recomendável. Mas, reiterando, o filme mesmo assim faz um bom trabalho e faz valer a pena a história.
Finalizando a crítica sobre O Senhor dos Espinhos
O filme é legal, mas leia o mangá. A dica mais sensata seria esta. Pense no filme como uma extensão para o produto original e não como uma fonte que te dará as respostas de tudo. Além de excluir histórias do passado de alguns personagens, também excluem personagem.
A sensação que o mangá traz é surreal. É uma daquelas obras que prendem o leitor e só o deixam se desassociar quando chegam ao final da história. Como comentado no início do texto, a obra segue uma vertente de narrativa mais direta e repleta de ação e mistério.
O filme oferece o dinamismo, tirando a história do estático. O que é um ponto mais do que significativo. Assim, revela que o conteúdo das páginas pode ser bem mais macabro do realmente é.
Então, neste quesito de oferecer uma perspectiva diferente, o filme é bastante útil. Afinal, toda a trilha sonora também contribui bastante para que essas metas sejam atingidas.
Ainda assim, talvez seja normal não ser “tudo isso”. Afinal, se trata de um mangá de seis volumes que foi adaptado em 2h. Assim como várias adaptações, essa também não poderia ser impecável.
Possui seus pontos fracos, claro, mas também muitos pontos fortes, que fazem valer o investimento do teu tempo. Então, por fim, para não entregar nenhum spoiler que possa comprometer tua experiência com a história, assista Ibara no Oh. Ou melhor, leia o mangá.
Inclusive, se está à procura de um bom mangá de mistério, leia 20th Century Boys. Eu escrevi uma crítica sobre ele aqui no site. Confira.