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Análise

Look Back é bom? Vale a pena ler o mangá (One-shot)? | Crítica

Look Back é simples, traiçoeiro, direto ao ponto e muito trágico
14 minutos para a leitura

Esporadicamente eu faço uma ronda nos mangás que são recém-adicionados nos sites que geralmente costumo ler. Por coincidência, dei de cara com Look Back.

Enquanto lia a sinopse da história, já havia me empolgado. Porém, fui dar uma olhada no autor. Tatsuki Fujimoto. Mesmo autor de Fire Punch e Chainsaw Man.

Não me interessei mais ainda por conta da habilidade do autor em criar narrativas, afinal nunca fui muito adepto às suas histórias. Com exceção de Chainsawa Man, que foi uma leitura interessante. Mas resolvi dar uma chance de fato para Look Back para saber como o mangaká trabalharia nesta nova história, que parecia ser uma pegada um pouco distante das apresentadas nos títulos supracitados.

Uma marca forte deste mangá é o fato dele ter uma narrativa um tanto simples, porém profunda. E também, ele é incisivo, não se delonga muito a entregar o que precisa. A propósito, é importante salientar que este texto contém spoilers do one-shot. E caso não saiba o que é um one-shot, dê uma lida no texto do Pedrão sobre.

mangá look back
  • Gênero: Drama , Shounen , Slice of Life
  • Serialização: Shounen Jump+
  • Capítulos: 1
  • Autor: Tatsuki Fujimoto (Chainsaw Man, Fire Punch)
  • Publicação: 19 de julho de 2021

O começo ameno e sem sal de Look Back

Inicialmente, Look Back parece ser apenas uma história comum de rivalidade. O mangá nos apresenta à Fujino, uma jovem que desenha para uma coluna no jornal do colégio.

Aparentemente, ela é bem cheia de si por conta dos inúmeros elogios que recebe de seus colegas de classe. Muitos comentam acerca de seu talento natural e de como ela poderia se tornar uma profissional. E claro, isto infla cada vez mais o ego da garota.

Porém, em um determinado dia, Fujino é chamada a sala dos professores. Um de seus mestres diz a ela que outra aluna, Kyomoto, gostaria de dividir espaço com ela na coluna dos desenhos.

Inicialmente Fujino cogitou a ideia de declinar da proposta, mas por que não?! Afinal, ela era ovacionada e respeitada por seus colegas. Isto não seria uma ameaça para ela.

fujino, a protagonista de look back

Contudo, logo quando Kyomoto passou a dividir holofote com Fujino, notou-se uma discrepância no que tange a qualidade de técnicas dos desenhos.

Kyomoto era extremamente habilidosa. Enquanto Fujino era boa em construir narrativas, o ponto forte de Kyomoto era desenhar cenários. E com o tempo, Fujino começou a se sentir desnecessária e que estava perdendo seu posto de melhor desenhista da escola.

E isto é um sentimento que, talvez, muitas pessoas compactuem. Eu mesmo já vivenciei momentos em que, não era o melhor, mas sentia-me diferente da maioria. Contudo, aparecia alguém e colocava em cheque minhas certezas. O fato é que, mesmo sentindo aquela pontada de inveja, nunca liguei o suficiente para mudar o cenário. Aqui é diferente.

A determinação japonesa e suas consequências

Fujino desbloqueia uma espécie de complexo de inferioridade em relação à Kyomoto. Isto faz com que a jovem entre em uma imersiva temporada de estudos profundos sobre desenhos e técnicas para aprimorar a habilidade.

Este complexo é um ponto que me chama bastante a atenção nos animes/mangás. Não é nenhuma novidade as produções representarem esta característica que parece ser uma tônica na vida dos japoneses.

Não que seja algo ruim, mas existe um limite. E, aparentemente, os nossos amigos de olhos puxados não compreendem esse limite. Contudo, como um leigo sobre a cultura japonesa, não sei até que ponto é apenas uma característica dos personagens para denotar determinação ou de fato uma representação do país.

a determinação dos japoneses

O ponto é que Fujino põe muitas áreas de sua vida em detrimento por conta de sua determinação absurda de tentar melhorar a fim de superar sua “rival”.

Após um período de tempo, novamente a coluna dos desenhos sai no jornal da escola. Agora é a hora da verdade, onde Fujino pode presenciar sua evolução. Mas, infelizmente, Kyomoto, de alguma forma, conseguiu se superar ainda mais em seus desenhos.

Por fim, esta relação das duas mais parecia ser um looping infinito. Fujino tentava melhorar, melhorava, mas Kyomoto melhorava igualmente e despertava em Fujino o desejo de melhorar ainda mais e assim sucessivamente. Contudo, um evento deu fim a esta disputa.

A colaboração inesperada e o sucesso avassalador

Em um determinado dia, o professor de Fujino pede a garota que vá até a casa de Kyomoto entregar o diploma, já que a menina não pisava o pé na escola. Este motivo, inclusive, é revelado. Caso queira saber, leia o mangá.

Por fim, Fujino aceita a missão e vai até a casa de sua colega distante. Chegando lá, ela nota uma pilha de livros e desenhos espalhados pela casa. Obviamente, Kyomoto também estivera treinando este tempo todo.

as autoras sucesso de vendas

Enquanto Fujino adentra a casa chamando por Kyomoto, não se obtém nenhuma resposta. Quando finalmente Fujino deixa o diploma na entrada da casa e vai embora, Kyomoto sai em disparada até a saída para conversar com Fujino.

Resumindo, Kyomoto basicamente era uma fã ensandecida de Fujino. E foi a jovem quem inspirou ela a começar a desenhar e a sempre evoluir. Um ponto interessante é o fato de Kyomoto comentar que notou a melhora na qualidade nos desenhos da garota e, por conta disto, também evoluiu sua arte para não ficar atrás e tentar chegar ao mesmo nível.

Prismas diferentes que nos fazem repensar determinadas atitudes

Curioso o fato de ambas terem perspectivas diferentes acerca de um mesmo tópico. Enquanto Fujino se sentia inferior e sendo deixada para trás, Kyomoto tinha Fujino como inspiração e a considerava uma artista brilhante.

Em síntese, como comentado anteriormente, enquanto uma era ótima em roteiro e a outra em cenários, ambas unem forças e passam a trabalhar juntas na criação de mangás.

Este momento é muito bom dentro da história. Enquanto, inicialmente, tínhamos uma espécie de “rivalidade”, agora somos levados a presenciar a união de duas artistas talentosas em características distintas, mas que mescladas, dão vida a um trabalho excepcional.

E pensar que, quiçá, isto poderia ter acontecido bem antes se elas tivessem apenas interagido um pouco mais.

Enfim, logo elas se tornam profissionais com vários mangás one-shot sendo publicados pela editora Shueisha. E, como resultado do sucesso avassalador, acabam sendo serializadas.

A propósito, esta parte me remeteu bastante ao mangá Bakuman, escrito por Tsugumi Ohba e ilustrado por Takeshi Obata. Inclusive, gravei um podcast sobre o primeiro volume deste mangá. Caso queira conhecer mais sobre este título brilhante, ouça o episódio que está logo abaixo:

A tragédia de Look Back

Look Back engana bastante. Até então tivemos apenas uma história de evolução mútua e um futuro brilhante à frente. Contudo, na reta final do one-shot o autor simplesmente nos pega totalmente desprevenidos matando Kyomoto.

A partir de um ponto, as amigas se separam por divergências acerca de desejos. Enquanto uma queria focar totalmente na série de mangá, a outra ansiava estudar em uma escola de arte e melhorar ainda mais seus desenhos. Dessa forma, os caminhos se desalinharam.

A forma como isto foi contado acabou sendo ainda pior, aflorando uma sensação ruim enquanto acompanhamos os fatos. Em suma, um homem perturbado invadiu a escola de arte em que Kyomoto estudava e acabou atacando a garota e mais outras pessoas.

É uma fase difícil para Fujino. Vemos que o mangá entra em hiato por conta de seu luto. Afinal, era difícil para ela manter um mangá que trabalhava, desde o início, com sua melhor amiga. E, ao final, presenciamos uma espécie de realidade alternativa onde Fujino imagina o dia em que sua amiga morreu, porém de uma forma diferente.

momento de muita tensão do mangá

Neste imaginário, Fujino surgia das sombras e salvava a amiga, impedindo que a morte a levasse. Assim, nada de ruim aconteceria, tanto com a amiga como para os demais alunos.

Porém, na realidade dura e cruel, Fujino tenta continuar se mantendo de pé e seguindo em frente como uma mangaká profissional e dando continuidade para seu trabalho.

Conexão com a realidade

Além do mais, esse evento acaba se tornando o mais marcante do mangá. Não somente isto, acaba afluindo um sentimento um tanto desagradável. E fica nítido que esta era a real intenção de Fujimoto. Causar algo.

Aliás, esta sensação é oriunda da realidade. Temos como exemplos clássicos de cenas como a evidenciada na história o Massacre de Columbine e, um dos mais recentes aqui mesmo no Brasil, o Massacre de Suzano. Saber o quão pesado e terrível são esses atentados faz com que sintamos um enorme desconforto. Por isso Look Back te pega de surpresa.

Os traços “feios” do mangá

Existe uma ideia de que algo “nunca é feio”, apenas foi uma escolha do autor desenvolver sua obra daquela determinada forma. Às vezes, até mesmo para fins de causar determinadas sensações. E aqui neste mangá, Fujimoto apresenta uma versão um tanto “feia”.

Os traços, em determinadas páginas, parece um esboço, em outras, traços mais detalhados. Porém, o todo é o que podemos chamar de algo que não é belo. E claro, esta foi uma percepção minha.

Para alguns, esse estilo de desenho é interessante e atraente. Todavia, não é tão novidade isto, tendo em vista que suas outras obras também seguem esse padrão. Ou seja, é uma marca registrada do autor. Você vê a arte e logo deduz quem é o mangaká.

Finalizando a crítica de Look Back

Em suma, é um mangá introspectivo e, de certa forma, reflexivo. Embora comece tranquilo, posteriormente nos dá um banho de água fria com uma tragédia.

Mesmo apresentando aqui os pontos do mangá, ainda assim é recomendável que dê uma lida. Afinal, há alguns pormenores que não estão presentes neste texto. Ademais, também existe a questão da experiência de leitura, que com certeza te fará sentir alguma coisa.

Enfim, dê uma chance para Look Back. É um mangá que vale a pena. Não se enquadra em uma das minhas melhores leituras do ano, mas com certeza ficará marcado por um bom tempo em minha memória. E talvez valha a pena, também, por conta do autor. É mais um motivo.

aquele momento de felicidade efêmera

Deixe nos comentários o que você achou deste one-shot.

Ademais, anteriormente também escrevi sobre outro one-shot muito bom. Futatabi, de Kentato Miura. Dê uma lida no texto, vale muito a pena.

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Escrito por

Welerson Silva

Jornalista e Escritor

Youtuber | Escrita cabeçuda

Brasília - DF

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