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Análise

Girls’ Last Tour é bom? Vale a pena ver o anime? | Crítica

Girls’ Last Tour parece simples, mas é uma jornada pós-apocalíptica incrível
16 minutos para leitura

A humanidade… pereceu. Restam poucas pessoas no mundo, que estão em lugares desconhecidos, dispersos. A jornada pela sobrevivência começa. Com um veículo motorizado, duas garotas viajam por aí, conhecendo o mundo e o que remanesceu da antiga civilização. Assim é a premissa de Girls’ Last Tour, ou no japonês Shoujo Shuumatsu Ryokou, que explora ideias muito além das que eu esperava. 

Eu decidi assistir por ser um anime que sempre tive interesse desde o lançamento, mas acabei deixando passar a hora certa. E sabe como é, né? Outros animes aparecem na frente e a gente acaba esquecendo de ver.  Mas eu estava precisando de um iyashikei, sempre é bom para renovar as energias.

O anime me encantou tanto que ele merece uma crítica. “Preciso tentar passar os meus sentimentos para os outros” foi o que pensei. Então, nesse texto buscarei te influenciar a ver esse anime que é idiota e, de seu modo, existencialista.

Logo de Girl's Last Tour ou Shoujo Shuumatsu Ryokou

Do que se trata Girls’ Last Tour?

Chito e Yuuri são duas meninas que viajam por aí caçando comidas e materiais para sobrevivência. Chito é a típica pessoa inteligente, sabe ler e escrever, carrega livros consigo e parece ter um conhecimento razoável sobre os costumes da antiga sociedade. Sua personalidade é do tipo racional, ela sempre toma decisões mais seguras. Mas algumas vezes perde a paciência e tem medo de altura.

Yuuri é sua antítese. Não sabe ler, nem escrever e nem se importa muito com isso. Ela não tem um conhecimento sobre a antiga sociedade, suas decisões são mais impulsivas e ela quer fazer o que tem vontade. Por não saber do passado, sempre faz perguntas sobre palavras, objetos ou sentimentos difíceis de explicar para a Chito, que também mal sabe como responder.

Chito e Yuuri posando para uma foto imagem em Shoujo Shuumatsu Ryokou

Mas por que eu aprofundei nas personalidades delas? Acho que esse é um ponto importante no anime que precisa ser mencionado. A diferença delas é o que faz a história andar e o relacionamento ser interessante. Elas serem uma antítese é algo que é bastante pensado.

Eu vi em um comentário no fórum do MyAnimeList, que infelizmente não lembro quem fez, apontando até sobre as diferenças nos capacetes delas. A Chito usa um capacete que se assemelha ao utilizado pela exército britânico na primeira guerra mundial, conhecido como “Brodie”. A Yuuri usa um que se assemelha ao capacete utilizado pela exército alemão, “Stahlhelm”.

Para relembra: a Inglaterra e a Alemanha foram inimigas na primeira guerra. Antítese! Essa é uma interpretação muito interessante que eu obviamente não perceberia sozinho, mas é um incrível observação que reforça ainda mais as diferenças entre elas.

Apesar de ser iyashikei, se passa num ambiente hostil

O mundo de Shoujo Shuumatsu Ryokou é bem como eu gosto, fictício e pós-apocalíptico.

No começo, não explicam como que a humanidade caiu, é mais como um fato inegável. Os humanos e os animais estão certamente indo a caminho da extinção e é isso que você precisa saber.

Elas estão no ano 3230 e parece que as cidades são divididas em níveis, estratos. Quanto mais baixo o estrato, menos recursos disponíveis. Quanto mais alto e novo o estrato, maior a probabilidade de encontrar lugares ainda em funcionamento. Pelo menos, essa é a teoria. Mesmo com uma representação visual, é um pouco difícil de entender como essa divisão de plataformas funciona.

Cenário amplo com prédios e colunas

É como se a cidade inteira fosse um prédio, sendo cada andar um desses estratos. Para mudar de estrato, precisa usar enormes torres. Tem a opção de usar elevadores, que possuem quase nenhuma segurança, ou subir manualmente, por rampas ou escadas.

Além dessa divisão em andares, os cenários são bem peculiares.

Uma narrativa rica também acompanha Girls’ Last Tour

Outro ponto que eu considero positivo, é como alguns detalhes acontecem sem ter uma narração expositiva. Por exemplo, a todo momento as personagens pegam água para beber de qualquer lugar, sem ferver nem nada.

Para alguém com uma personalidade precavida como a Chito, isso seria estranho, não?

Personagem de Shoujo Shuumatsu Ryokou pegando água de uma corrente com um cantil

Talvez não! A água tem capacidade de se filtrar sozinha na natureza. É um processo que nós, humanos, interferimos, então ela não é capaz de fazer isso com a nossa presença. Mas depois de vários séculos sem a atividade humana, é possível que a água tenha ficado limpa o suficiente para ser considerada potável. Não seria estranho elas ficarem tão despreocupadas sobre a qualidade da água.

Bom, pelo menos é o que eu acredito. Não tem como pôr em prática essa teoria porque nós ainda existimos em grande quantidade, assim como outros animais. Mas é um estudo (em inglês) que de fato existe, por isso trago essa informação! Em momento nenhum isso foi dito no anime, assim como muita coisa, é só o que eu entendi na minha observação.

Nota: o estudo diz que a água se purifica até certo ponto, não sendo capaz de se tornar realmente potável. Mas isso estamos vendo em uma escala de tempo bem pequena. Então acho plausível teorizar que após décadas a natureza consiga dar o jeito dela.

Ou talvez, a humanidade evoluiu ao ponto de limpar toda a água do mundo antes de ruir. Cada um pode ter sua perspectiva, e isso também é um ponto que o anime me agrada. A imaginação corre solta!

Voltando para as estrelas do anime

Já está bom de falar do mundo de Shoujo Shuumatsu Ryokou, vamos voltar a falar das protagonistas. A Chito é sempre empurrada contra a vontade dela a vivenciar coisas mais arriscadas. A Yuuri tem suas ações limitadas pela Chito, já que nem sempre ela pensa muito bem em sua sobrevivência e bem estar.

Yuuri refletindo sobre o uso dos capateces
Yuuri ponderando e concluindo a frase

Ao viajarem, elas sempre encontram estruturas e objetos curiosos. A Yuuri apresenta sua questão sobre o que é “aquilo”, já que ela realmente não faz ideia. A Chito, com seu conhecimento limitado, tenta responder como sabe. As duas juntas, a tese e a antítese, chegam a síntese, a uma conclusão. E é assim que funciona.

Mas o que é impressionante é como o autor é capaz de criar diálogos e conclusões como se realmente fossem pessoas de um futuro muito distante que possuem pouca informação. Parece real, parece possível. E por serem pessoas sem o conhecimento comum, o resultado é fora da caixa, com um visão que não teríamos por sermos limitados pelos padrões sociais.

E não para por aí!

No episódio 5, começa a chover e as meninas decidem se abrigar em uns destroços. Nesse abrigo, a curiosa Yuuri percebe que as gotas de água que caem geram um som periódico, que a interessa. Nos lugares onde as gotas caem, ela põe objetos ocos que geram sons, e vai juntando vários deles, criando vários sons diferentes.

Ela não sabe, mas isso é música! Para ela é música, enquanto para mim é uma cacofonia de tanto som de latinha junto, quase insuportável.

Yuuri e Chito observando a chuva debaixo de um abrigo
Yuuri olhando para as latinhas

Isso me lembra de bebês batendo palma. Bebês não tem nenhuma noção musical, mas para se divertir com a música, eles batem palmas indiscriminadamente e sem ritmo. Creio que é a mesma situação. Tanto a Yuuri quanto a Chito, por mais que soubessem da existência da música, não sabem o que ela é. Então qualquer som para elas é uma música boa de ouvir, porque é como se elas fossem bebês nesse quesito.

E é assim que Shoujo Shuumatsu Ryokou me faz ficar impressionado, porque sinto que elas estão em uma verdadeira fase de descobrimento e que os conhecimentos anteriores não chegaram a elas.

O existencialismo em Shoujo Shuumatsu Ryokou

Comentei na introdução que a obra discute um pouco sobre existencialismo. Dos vários episódios que tratam um pouco sobre os sentimentos humanos, o que mais me chamou atenção foi o episódio 9, que fala um pouco sobre o que é vida.

Novamente a Yuuri perturba a Chito com perguntas reflexivas: O que significa estar vivo?

Ao ver um máquina gigante andando, Yuuri questiona se aquilo era um ser vivo. Chito responde prontamente que máquinas não são seres vivos, por não respirarem e nem terem consciência própria. Mesmo que estivessem andando por aí, provavelmente teriam sido configuradas para fazerem isso.

Então Yuuri pergunta: E se uma máquina andasse até a gente e dissesse “olá”? Chito responde que nenhuma máquina seria capaz de fazer isso. Minutos depois aparece uma máquina que cumprimenta elas. “- Olá”.

máquina falando olá em Shoujo Shuumatsu Ryokou

É um momento cômico, mas interessante. Essa máquina que fala com elas foi programada para ter empatia e a capacidade de conversar. Ela certamente não respira, mas é capaz de manter um diálogo com as garotas. Além disso, a obrigação dela naquela instalação é cuidar de um peixe, um único peixe, que sobreviveu a devastação do mundo. Rolou uma discussão parecida no nosso episódio de Vivy.

Mais momentos interessantes

Em um dado momento, as meninas utilizam um dos aquários enormes da instalação para tomar banho, e desde já podemos perceber uma diferença de percepção entre elas. Enquanto a Yuuri tira toda a roupa para entrar na água, a Chito permanece com as roupas de baixo. Mesmo afirmando anteriormente que máquinas não eram seres vivos, ela escolheu não ficar sem roupa porque “Bom, há outra pessoa aqui”.

Um tempo passa e a máquina gigante que elas viram anteriormente aparece mais uma vez, só que dessa vez, ela estava demolindo o local onde o peixe estava. A máquina gigante não era capaz de se comunicar com palavras, mas a pequena máquina conseguiu conversar com ela usando bipes e sons computadorizados.

Apesar de conversarem, a programação da máquina gigante dizia para destruir o local, provavelmente por um bug, então mesmo assim ela não encerrou a operação.

Yuuri prontamente se ofereceu para ajudar a manter o peixe vivo. Para ela, a vida do peixe era mais valiosa do que a “vida” da máquina (mesmo querendo assá-lo a alguns minutos atrás). Então, sem hesitar, ela destruiu a grande máquina através de explosões. Em seus últimos momentos, a máquina tentou em vão se comunicar com a Yuuri, que não era capaz de compreender seus sentimentos.

Yuuri em cima da Chito dizendo que quer salvar o peixe
máquina falando com a Chito

O dilema!

Destruir aquela máquina, significa matar? A máquina provavelmente sentia empatia, se comunicava, mas não era capaz de desobedecer suas ordens e nem conhecia a fala humana.  O peixe que foi salvo respira e age por ações próprias, mas também não é capaz de se comunicar e nem sente empatia. Afinal, como decidir o que é um ser vivo e o que não é?

No anime, elas chegam à conclusão que estar vivo significa ter um fim. Seja uma máquina, pessoas, animais, a cidade ou a Terra. Se algo possui um fim, provavelmente ela vive. A vida é algo pelo qual você tem empatia; a vida evolui, destruindo o antigo para gerar o novo.

máquina falando com a Chito de Shoujo Shuumatsu Ryokou sobre como tudo está vivo
máquina gigante com a cabeça destruída

Cada um tem sua interpretação do que é um ser vivo. Moralmente falando, não existe um definição única. Ver elas chegando a uma conclusão que é o interessante. Não sei se é bobeira minha, mas eu realmente fico impressionado de como abrem portas para reflexões existenciais com duas garotas fofas que querem tomar banho no aquário.

Mais temas interessantes são debatidos no anime

Entre outras conversas, tem episódios que falam da religião, guerra, cultura, de como conviver com a falha e no sentido que você põe na vida, os seus objetivos, sonhos e limitações. Até tem uma parte que elas se perguntam o que é um “lar”, é realmente aleatório.

Yuuri pensando o que significa uma casa lar
Yuuri refletindo pela quinquagésima vez no anime

São vários temas que eu não posso me aprofundar, porque o texto ficaria muito grande (mais do que já está) e eu não sou tão bom em compactar meus pensamentos.

Também acho que eu poderia estragar as experiências das pessoas, dando uma visão minha que pode interferir no processo de intepretação de quem vê. Ou talvez isso seja uma desculpa, já que sou preguiçoso…

Junto com os temas e reflexões inusitadas, há uma ótima ambientação, que me lembra muito Made in Abyss (que temos um guia bem completo e um podcast do filme).

A trilha sonora é bem vívida, mas não rouba o destaque da cena, que foca tanto nas personagens como nos cenários únicos do anime. Gosto da opening e gosto de toda a estética de rabisco da ending, as duas músicas são boas, fazendo jus a qualidade da trilha sonora. Já adicionei ambas na minha playlist.

Finalizando a crítica de Girls’ Last Tour

personagens de shoujo shuumatsu com fundo de um céu estrelado

Girls’ Last Tour realmente me surpreendeu. Fui ver esperando que fosse apenas algo episódico e bobo, o que realmente é, só que a produção e as conversas transformaram o anime, que deveria ser simples, em uma jornada incrível.

O worldbuilding, a trilha sonora, as personagens, tudo isso eu gostei. Foi realmente prazeroso assistir. Algumas vezes precisamos de animes assim para dar mais valor ao que temos e pensar um pouco sobre nossas vidas. 

Não posso dizer que o anime mudou minha forma de pensar, porque apesar de conversar sobre vários assuntos eles não aprofundam tanto ao ponto de mudar quem vê.

Mas em certo momento, eu até que pensei: que bom que tenho uma casa e acesso ao conhecimento. O nosso mundo já é cheio de brigas e guerras, devemos valorizar o que temos, antes que, sei lá, o mundo acabe.

Agora, só me resta ler o mangá, já que o anime não adaptou tudo. Guardei essa bomba para o final propositalmente, mas vale a pena assistir de qualquer forma.

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Escrito por

Sólon

Estudante

Campos dos Goytacazes - RJ

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