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Análise

Bubble (Netflix): é bom? Vale a pena ver o filme? | Crítica

Falta algo em Bubble: essência
11 minutos para a leitura

Acredito que muitos aqui da Cúpula já tenham assistido Bubble. Afinal, não só é um filme disponível em uma plataforma de streaming mais acessível como também é um filme muito bem produzido.

No entanto, imagino que haja alguma dificuldade de escrever sobre. Bubble é muito diferente, e isso não significa que seja bom.

Em uma viagem com o meu pai e meu namorado, decidimos assistir despretensiosamente (enquanto eu tenho outras 7826148237192 coisas para assistir). E, após assistir, tentei sistematizar mais ou menos o que eu falaria por aqui.

Afinal, se o filme tem uma equipe técnica de qualidade, foi lançado por streaming e tem uma boa premissa, por que não virou um filme mainstream? Por que não foi comentado por todo mundo?

Sem mais delongas, vai a pergunta: Bubble é bom? Vale a pena assistir?

bubble netflix, poster promocional com a cidade de cabeça para baixo e uma menina de cabelos azuis curtos, cropped e saia segurando uma bolha na frente da cidade
  • Estúdio: WIT (Shingeki no Kyojin, Vinland Saga)
  • Data de lançamento: 28 de abril de 2022
  • Gêneros: Ação, Sci-fi
  • Direção: Tetsurou Araki (Death Note, Shingeki no Kyojin)
  • Duração: 1h40m

A premissa de Bubble não é das mais comuns

Bubble começa de uma forma não convencional: após uma chuva de bolhas, a cidade de Tóquio fica separada do mundo exterior. Uma bolha é criada ao redor da cidade, afetando seu campo gravitacional e causando grandes enchentes.

A cidade passa por essa catástrofe sozinha, e muitas pessoas morrem. Após a bolha maior da cidade cair, não havia mais como ajudar Tóquio. Metade embaixo da água, a cidade se torna insustentável à vida humana. Esse início inclusive me lembrou o famoso Under The Dome, do escritor Stephen King.

Agora é que fica mais diferente ainda: algumas crianças que perderam os pais durante a catástrofe decidiram que iriam permanecer naquela cidade alagada e arrasada. Por isso, passaram a sobreviver naquele lugar da maneira que podiam.

Como uma forma de competição e lazer, fazem, periodicamente, um torneio de parkour, pulando entre os prédios alagados e as bolhas que restaram da grande catástrofe. São dois times, e o time que ganhar é premiado com suprimentos de sobrevivência.

É aí que conhecemos Hibiki, o famoso chad pique Sasuke, que resolve tudo sozinho e ganha quase todas as partidas pelo seu time Chama Azul (ou algo parecido).

hibiki, personagem protagonista com cabelos pretos, com uma cidade como cenário de fundo

Hibiki tem hiperssensibilidade auditiva, e vive ouvindo um canto estranho na mais alta torre de Tóquio. Quando ele resolve procurar de onde aquele som vem, encontra-se com uma estranha garota que não sabe nem o seu nome, e o salva enquanto ele afoga.

Resolvem dar à garota o nome de Uta (うた), por conta de sua cantoria.

uta, protagonista de bubble, com cabelos azuis curtos e um sorriso, apontando uma mão coberta por uma luva na direção da tela.

Bubble resolve contar a história de Hans Christian Andersen

Recentemente, falei sobre outra obra que também era uma releitura da pequena sereia. Whale Star é um webtoon coreano que acerta em fazer essa releitura delicada, dramática e emocionante (inclusive, eu já li até o final, então recomendo muito)!

Por outro lado, Bubble conta essa história de um jeito um tanto quanto… preguiçoso. Há muitas referências neste anime, mas A Pequena Sereia tem um grande valor aqui, até porque é diretamente citado para facilitar quem não pescou de primeira.

Uta é, na verdade, uma bolha. Essa é a espécie dela. Ao se apaixonar por Hibiki, ela assume uma forma humana, largando sua espécie e partindo para a superfície. Da mesma forma que a Pequena Sereia, perde sua referência de casa e sua voz, aprendendo a como conviver com seres humanos.

Uta, ao ingressar nesse novo mundo, passa a fazer o parkour como ninguém (afinal, ela sempre foi uma bolha) e passa a chamar a atenção de todos, inclusive de Hibiki, de quem ela mais queria essa atenção.

Só que, de alguma forma, o filme NÃO se vende como um romance. Não tem nos gêneros oficiais. Ao dar uma olhada, o que você espera é ficção científica, um certo dilema, e provavelmente um drama. Não. É a história da Pequena Sereia, e ponto.

hibiki e uta, casal protagonista.

A aparente originalidade resulta em uma releitura, em termos de enredo, quase idêntica à fábula original. Ou seja, se você não curtiu A Pequena Sereia, é provável que também não curta Bubble. E, se curtiu, também talvez não curta Bubble, por sua falta de originalidade.

É uma tentativa, ao que se parece, de aproximação entre bordas orientais e ocidentais, não se utilizando de uma estrutura simplória de introdução – clímax – conclusão, mas ainda assim adaptando toda a história ocidentalizada da Sereia que sai de seu reino.

Para ser original, o filme tenta apontar outros aspectos

Pense no filme da Pequena Sereia. Agora transforme isso em um filme contemplativo sobre a vida. É exatamente o que Bubble é, sem tirar nem pôr.

Tanto é que, em alguns momentos, o filme quer te relembrar sobre a espiral de Fibonacci e sua repetição na natureza. Fala sobre os ciclos de vida e morte, de começo e fim. Entende a natureza como um todo formado de partes, e partes que formam um todo.

A proporção imaginada por Fibonacci gerou o que se chama de proporção áurea, depois verificada em diversos animais na natureza, bem como no próprio ser humano. A busca de se tentar entender – e, consequentemente – controlar a natureza, indica que as catástrofes e a dor que elas geram, bem como a morte de pessoas queridas, vai passar.

No filme, a espiral é uma lembrança de que pretendem que Bubble seja mais do que recontar a história da Pequena Sereia, mas de que seja um lastro de esperança a ciclos de renovação. Pessoalmente, foi o que mais levei dessa história, e assim o interpretei.

Como um país que constantemente sofre com terremotos e perdas significativas, o Japão é um local especializado em tentar lidar com enchentes, maremotos, terremotos e furacões, o que inclusive conversamos em um cast com o mangaká brasileiro Fernando Huega, que passou um tempinho por lá.

A mensagem de reconstrução e recomeço, bem como a habilidade de se lidar com a perda, perfaz uma espiral de contemplação que torna Bubble um pouco mais bonito. Ainda assim, seu enredo não se sustenta.

O enredo parece querer te enrolar

Do que se pretende falar? De uma cidade arruinada? Catástrofes? Uma história de amor? Crianças órfãs? Da esperança após a tempestade? Sobre a Pequena Sereia? Parkour? Música?

O filme NÃO deixa claro onde quer chegar, e tenta ser aprazível ao ocidente de uma forma pouco palatável. Acredito que, por tentar se assemelhar, de certa forma, às narrativas ocidentais, peca em fazer o que animações japonesas fazem de melhor: valorizar seus personagens.

Em animações japonesas, podemos citar filmes como Your Name, que deixa claro o envolvimento de seus personagens por meio do espaço-tempo distorcido. Ele quer que, além da beleza, você torça para que Mitsuha e Taki se encontrem.

Em A Silent Voice, queremos que Ishida se perdoe pelo bullying que cometeu, e consiga se redimir também com Nishimiya. Torcemos pelos dois, e pela amizade e amor que venham a surgir.

Como uma releitura de um clássico ocidental, Bubble perde a essência de conexão aos personagens e repete a mesma fórmula de clássicos da Disney que já tiveram o seu tempo, mas, que hoje, não superam bilheterias. Bubble tem tudo, mas não tem essência.

A ousadia de um enredo que desafie seu espectador e o emocione sentado na cadeira é ausente, o que faz com que Bubble dê um soninho gostoso daqueles. Meu namorado cochilou três vezes do meu lado, e eu tive que lutar para me manter acordada.

Contudo, apesar do sonífero, o filme é muito bonito visualmente.

A parte técnica do filme não deixa a desejar

E é nisso que Bubble se escora. Com um enredo preguiçoso e contemplativo, investe ardentemente em uma trilha sonora de qualidade e em visuais chamativos. Os storyboards são incríveis, e há prints que seriam, sem dúvidas, ótimos wallpapers.

Animadores que trabalharam nesse corte: Kaito Tomioka e Shuu Sugita

Para citar nomes, o dietor do projeto é o Araki Tetsurou, diretor de Death Note e Shingeki no Kyojin (enquanto o anime estava no WIT). Quem fez o roteiro foi o Gen Urobuchi, que já trabalhou em projetos tais quais Psycho Pass e Madoka Magica.

Nas trilhas sonoras e músicas utilizadas, temos o Eve, que foi responsável em Jujutsu Kaisen, Dororo e até Chainsaw Man por músicas de opening e ending. Dá uma olhada:

O setor de embelezamento digital do estúdio WIT, que trabalhou perfeitamente em Vivy, faz um ótimo trabalho aqui também, nessa distopia pós-apocalíptica.

close up da uta, com foco nos seus olhos roxos e no dedo indicador que repousa em sua boca. A iluminação recai sobre os cabelos azuis e sobre parte do rosto.

Ainda temos o gigante Takeshi Obata no design dos personagens.

Ou seja, temos um filme visualmente e sonoramente incrível, com incríveis e belíssimas cenas de ação, uso perfeito de luminosidade e um CGI que se adequa com maestria aos melhores momentos do filme.

É esteticamente agradável, mas só isso.

Finalizando a crítica de Bubble

Por fim, a que conclusão chegamos? Bubble é um filme com uma staff de peso, mas que falta alma. Falta algo que faça você quase levantar da cadeira e dizer: uau. Talvez eu esteja sendo muito crítica, mas dá um desconto.

Há uns dias, assisti Gato de Botas 2 (inclusive, veja!) e o arrepio na nuca em determinadas cenas era tão vívido que me fez questionar se eu estava vendo uma animação mesmo.

Sentia os pelos se eriçarem e sentia medo junto com o nosso gatinho. A adaptação e inclusão de vilões com personalidade e mocinhos com os quais podemos nos identificar são irresistíveis.

Por outro lado, Bubble é uma história meia-boca de uma princesa-bolha que se apaixona por um menino-humano do nada. Ela te traz vários elementos nos quais não se aprofunda. Ela não passa de uma releitura frágil, e nem quer engajar seu espectador.

Ele se agarra no que não deveria: na história da Pequena Sereia. Se ela não estivesse ali, todo o resto poderia ser lindamente aproveitado, e sua premissa poderia se tornar um sci-fi de qualidade.

Por tentar mesclar ocidente e oriente em um mesmo local, mas não aproveitar as potencialidades de nenhum dos dois, não virou hit, e nem se adequa ao público-alvo de filmes de animação japonesa atualmente.

Contudo, se você curte filmes contemplativos com roteiros pobres e esteticamente agradáveis, pode ser uma boa ideia para você. E se você tem dificuldade para dormir, pode colocar na sua Netflix. Garanto que vai dormir.

Até a próxima!

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Escrito por

Helena Nunes

Advogada | Professora | Concurseira triste

Máquina de spoiler | Jojofag

Campos - RJ

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