É possível que alguns de vocês leitores tenham entrado aqui já sabendo onde estão se metendo, e outros não fazem nem ideia, pois, surpreendentemente, nunca nem ouviram falar de Code Geass, quem dirá do mais “novo” filme, Code Geass: Fukkatsu no Lelouch (Code Geass: Lelouch of the Resurrection).
Para ficar um pouco mais claro pra vocês que estão boiando: em meados de 2007, saiu o anime chamado Code Geass. Ele foi produzido com inspiração do mangá que saiu em 2006, um ano antes do lançamento do anime.
A obra foi escrita por Ichiro Okouchi, e o anime, por sua vez, foi dirigido por Goro Taniguchi e produzido pelo estúdio Sunrise. Além disso, esse anime teve uma segunda temporada, em 2008.
Só que passaram 10 anos sem se ouvir falar mais nada canônico (ou seja, que tenha a ver com a história principal), sendo lançado sobre Code Geass.
No entanto, em 2019, sai Code Geass: Lelouch of the Re;surrection (Fukkatsu no Lelouch). Esse lançamento levantou várias dúvidas entre os fãs e muita expectativa em cima da obra.
Afinal, o anime foi uma obra de excelente qualidade, que teve um final muito bem fechado e um desenvolvimento muito bem feito.
Muitos até consideram o anime até uma “obra prima”, e eu também compro essa briga, apesar de não endeusar tanto assim a mesma.
Agora, o que esperar desse filme, Lelouch of the Resurrection?
Será que teremos um filme no nível da obra que abalou o mercado mais de uma década atrás? Ou, teremos algo nível Nanatsu no Taizai: Prisoners of the Sky?
Neste artigo, farei uma espécie de análise em tom recomendativo (ou não, se você acabar sendo mais duro do que eu fui).
Mas entre com isso em mente: eu não veria o filme de novo.
Mais sobre o “projeto” que envolve Code Geass: Fukkatsu no Lelouch
O filme foi descrito como a “primeira fase” de um plano de 10 anos, por Kojiro Taniguchi (um dos cabeças da franquia). Ele afirma ter planos para novos conteúdos sobre Code Geass por vir.
Embora eu desconheça a verdadeira motivação por trás do filme em si, parece que algo grande está por vir por aí.
Quando o longa foi lançado nos cinemas do Japão, em 9 de fevereiro de 2019, estreou na 5ª posição nas bilheterias japonesas. O filme rendeu cerca de 286 milhões de ienes (cerca de 14,5 milhões de reais) apenas em sua primeira semana de estreia.
Logo após, no dia 29 de março, Code Geass: Lelouch of The Resurection já havia arrecadado um total cumulativo de mais de 1 bilhão de ienes (mais de 50 milhões de reais) nas bilheterias japonesas.
Então, ou temos ai um famoso trem do hype ou o filme realmente ficou show de bola.
Mas onde estamos entrando nessa nova parte da história de Code Geass?
Os anos de paz que Lelouch Lamperouge havia conquistado com sua “jogada de mestre” no final da última temporada do anime, obviamente não iam durar pra sempre.
O filme começa bem nesse tempo, quando essa paz no Japão começa a ser de fato ameaçada a ter o seu final e as guerras voltarem. Tudo começa num ritmo até que acelerado, e um pouco até confuso de entender onde tudo tá rolando, ou seja, em que lugar tudo está acontecendo. A narrativa nos ensina que não é no Japão, mas sim num outro país.
Só que Lelouch, apesar de ter tido sua carcaça revivida (de maneira que eu sinceramente não entendi nada), está sem consciência de si mesmo.
Ou seja, seu “ser” é só uma casca vazia, que basicamente fica vegetando e de vez enquanto dá umas loucas e fica desesperado de medo, sobrando para C.C., sua nova babá, resolver a situação. Tipo o que vimos acontecer com o irmão de Ash, em Banana Fish.
Esse é um ponto de Code Geass: Lelouch of The Resurection que agrada, pois desde o começo do filme já podemos ver que a C.C., apesar de toda aquele lance de ser uma pessoa meio desprovida de sentimentos que vemos ao longo da série original, continua tendo apego ao nosso anti-herói.
Na verdade, o apego foi tanto que ela é o principal fator para esse filme sequer ter existido, na verdade. Tanto nos acontecimentos da trama, porque sem ela não teríamos literalmente como ter continuação, quanto no que tange ao desenvolvimento de personagem dentro do longa, porque ela pareceu ser o melhor resultado desse filme. Mas chegaremos lá.
Além disso, Nunally em perigo (de novo)…
A trama, falando nisso, se desenrola com Lelouch e Suzaku, junto de alguns dos principais amigos da ex-resistência anti-Britannia que seguiam o líder Zero, como a Kallen, o cientista de óculos que fala engraçado e a empregada ninja, e, claro, a prórpria C.C.
Eles se agrupam para acabar com os planos desse novo país que, com a ambição de retornar o mundo para um estado de guerra, raptam a Nunnally (irmã do Lelouch) que, após a pseudo-morte de seu irmão agora é uma espécie de emissária da paz e representante desses assuntos mais diplomáticos.
O motivo pelo qual esse país queria voltar o mundo para um estado de guerras é bem simples e direto (ou não?).
A principal forma de lucro daquele país é via guerras. Um mundo sem guerras, gerou uma espécie de crise no país. Essa crise de forma alguma foi mostrada e externada a nós, audiência, então foi bem difícil tentar entender o lado dos vilões do filme.
Afinal, como compactuar com eles, se os motivos nem são mostrados na tela, como pessoas passando fome devido à falta de dinheiro, por exemplo?
Por isso, então, estava claro que um outro motivo apareceria depois.
Sobre o “retorno” de Lelouch para o filme de Code Geass
Agora vamos falar um pouco sobre o filme em si, mas antes, acho que faz sentido conceituar bem o porquê de para muita gente ser um absurdo o Lelouch estar “de volta”.
E não me venha com papos de “spoilers” logo de cara, porque o próprio título do filme já entrega. Agora, caso não tenha assistido Code Geass ainda (a série principal), sugiro não prosseguir com a leitura, e também que não assista o filme antes da série.
Alguns de vocês podem estar se perguntando agora, “ué mas tinha como saber que ele tava vivo antes da divulgação do filme?”
E a resposta para boa parcela dos fãs do Lelouch (atente-se que eu aponto fãs do Lelouch, somente, não de Code Geass) é: sim, estava claro.
Para outra parcela, que aprovou muito o final da série principal: não, nem a pau.
E para outra parcela ainda, os que pensam como eu: cara, não me importo de verdade com isso, porque o papel de Lelouch, o momento mais catártico possível para o “personagem Lelouch”, que nunca foi um herói, mas sim um anti-herói, aconteceu no final da série principal.
Tudo foi lindo. Tudo funcionou. Os pontos foram ligados, personagens sofreram, você chorou, eu chorei… Enfim, um ótimo final!
Code Geass, como história, não precisava de mais.
A mensagem estava dada: para conquistar o que você almeja, se for algo grande, você precisará dar algo em troca. Ou seja, em outras palavras, algo tão grandioso como “abolir as guerras” (que foi o que Lelouch fez), precisaria de um contra-ponto à nível de equivalência. Ou seja, a morte.
“Mas temos evidencias de que ele ficou vivo!”
Eu gosto daquelas teorias que circulam na internet desde 2006 sobre Lelouch estar vivo ou não, então vou deixar elas abaixo aqui só para você se inteirar do assunto, caso seja um “otaku novo”.
Fãs se apoiavam muito na “última cena” da série, onde aparece “alguém” com um chapéu de palha conduzindo a carroça onde a C.C. estaria deitada nos fenos.
Em cima destes fenos, tinham pequenos tsuru’s (aves de origami) dos quais a C.C. já tinha provado ser um desastre em conseguir fazer, porque ela não sabia fazer um. Só o Lelouch conseguia, em teoria.
E aí, você também era convicto dessas teorias? Elas faziam sentido para você? Sendo sincero, EU optei por nunca ir muito atrás, porque como falei, para mim estava ótimo. Mas comenta aí o que você achava sobre elas!
A C.C. virou babá em Code Geass: Lelouch of the Resurrection, e eu gostei
No filme, que se passa em uma época após os acontecimentos citados acima, os personagens não sabiam dessas regras relacionadas ao código do poder (exceto a C.C., que orquestrou um plano em cima disso). Então, todos assumiram que Lelouch tinha morrido. Mas ele morreu, de fato.
Só que a C.C. fez coisas confusas de verdade, e bem, estamos de volta! E nesse tempo todo, ela esteve cuidando dele, como uma andarilha sem rumo, a fim de escondê-lo da humanidade.
O que eu achei mais interessante na obra foi a dedicação de C.C. por Lelouch, que perdeu a sua consciência por causa dos efeitos colaterais do acontecido.
Digo isso pois ele estava em um estado bem deplorável e aéreo, ou seja, bem diferente do Lelouch que estamos habituados. Ele demonstra ter medo de tudo, menos dela, e está totalmente perdido em sua própria mente, sendo incapaz de atividades comuns ou entender, raciocinar etc.
E aí o fato da C.C. ter cuidado dele a nível de dar comida na boca, limpar ele babando, levar ele pra lá e pra cá e cuidar de uma pessoa “incapacitada” me deixou impressionado, pois ela mostrou uma incrível resiliência levando isso por tanto tempo.
Além disso, isso por si só demonstra tamanha densidade dos sentimentos de C.C. por Lelouch. Por isso, ela tem o meu respeito. Para mim, na verdade, ela foi o melhor personagem do filme, sendo assim, um dos atrativos principais (e únicos, talvez) de Code Geass: Fukkatsu no Lelouch.
A motivação de Code Geass: Lelouch of the Resurrection, contudo, deixou a desejar
A paz que Lelouch-sama criou obviamente não ia durar pra sempre.
E tendo isso em vista, já podemos imaginar o que aconteceu. Os grupos terroristas voltaram a aparecer e se formar e começou a acontecer as chacinas sem motivo e atentados aleatórios.
O problema é que esses atos brutais invalidam, em partes, o que o Lelouch fez até então, mas agora temos um propósito pro filme, o que, por outro lado, valida a motivação do contexto da história passada aqui no filme.
Exatamente isso, o filme aconteceu justamente porque precisava-se que o Lelouch resolvesse a bagunça novamente.
E só.
A motivação, ou seja, o motivo para termos uma nova história de Code Geass que me pareceu meio, sei lá, sem sal. Acabou que ficou como uma coisa secundária, pois a execução do filme foi boa e os alguns personagens se saíram “”bem””, como a C.C.
Porém, os meios que foram utilizados para trazer a consciência do Lelouch de volta ficaram meio muito mal explicados e duvidosos, porque envolveu todo aquele lance de “Mundo de C” e coisas que só os fãs que dissecam o fandom do anime conseguem entender.
Além disso, a vilã, Shamna, princesa do país estrangeiro que precisava de guerras para receita, é uma espécie de profeta e consegue predizer boa parte dos acontecimentos.
Ela não é necessariamente uma personagem ruim, só acho que faltou tempo de tela, mostrando um pouco mais da história dela mesclada com a suas motivações.
Porque, no fim, apesar de todo o papo sobre guerras gerarem o lucro deles, na verdade, ela tinha um motivo bem mais obscuro por trás dos panos.
Porém, essa ambição ficou bem confusa, porque tem todo aquele papo confuso de Mundo de C novamente. Por isso, acabei desconectando do filme.
Mas então: precisávamos de Lelouch of the Resurrection?
A parte de deixar claro que o Lelouch está vivo, para os fãs do personagem, e também mostrar que a franquia vive junto, foram juntos, um “”bom”” motivo, comercialmente e fan-servicamente falando.
Além disso, é válido que o filme lembre que a paz que criada não duraria para sempre no Japão. Porque a paz nunca é eterna. Então acaba ficando um pouco mais realista e com sentido toda a trama do filme.
Reviver a franquia é reviver a marca, para que possamos ter uma possível continuação ou quaisquer outros conteúdos em mídia anime-filme-série sobre Code Geass.
Ficaria bem estranho soltar algo diferente do que foi este filme neste momento para encaixar com o final do anime, por isso eu acredito ser bem justo o filme ter aparecido e ser executado desta forma que foi.
Só que, no fim, mesmo eu, que gosto muito da franquia, achei que o desenvolvimento em boa parte do filme deixou a desejar. No fim, acabou errando muito mais do que acertando.
Sem dúvidas, o filme acaba por ser bem inferior ao anime da obra inicial. Mas eu já esperava isso. Pois a qualidade da obra era quase que inalcançável.
Finalizando…
O filme é interessante, porém é mais pelo fan-service e pelo retorno da “marca Code Geass” do que pela trama e pela história.
O fato de ver Lelouch em ação vale a assistida, mas o fato de ver o que a C.C. fez por ele é algo bem impactante e que mereceu todo o destaque dado (no começo).
Quero dizer, em outras palavras, quem é fã real de Code Geass vai gostar do filme. Mas os que não são, e só assistiram até o final achando o anime apenas “ótimo”, “bom” ou “ok”, tem risco de acharem mais ou menos (ou ainda pior).
Sobre a produção do filme, tanto animação e trilha sonora, e as outras coisas que compõem a parte técnica de Code Geass: Lelouch of the Resurrection ficaram muito boas.
Até diria que ficaram melhor que no anime. Mas, bem, estamos mais de 10 anos depois, então isso já era esperado (ou o mínimo?).
Contudo, infelizmente, a parte do vilão (motivação, poderes, justificativa, desfecho) e também o jeito fácil do desenrolar da trama, onde em nenhum momento ninguém passou trabalho real, deixaram tudo meio sem sal e em tom de “pra quê?”.
No fim, você assistirá o filme e sairá pensando: eu gosto mais ou menos de Code Geass depois disso?
E logo após essa reflexão, você perceberá que esse filme, por si só, não agregou quase nada, porque a série principal é muito superior. Mas tão superior, que esse filme acabou por não conseguir entregar algo nem perto do nível de seu original.
Assista, mas ponha sua conta em risco. Esse é o veredito dessa minha talvez-não-recomendação.
E o filme está na Netflix, como o título já disse.