As Memórias de Marnie (Omoide no Marnie) é um filme do Studio Ghibli, lançado em 2015 e dirigido por Hiromasa Yonebayashi. Assim como os demais filmes do estúdio, tem seu prestígio.
O longa foi indicado ao Oscar de “Melhor Filme de Animação” e também no Japan Academy Prize, como “Melhor Animação”. Logo se nota o quanto o filme é conceituado em seu meio. No entanto, tive um problema com ele.
Ao longo de mais de 1h de filme, tive uma dificuldade enorme de me concentrar e achar algo de realmente interessante nele. Boa parte do longa apresenta uma inércia absurda no enredo, mas que gera uma revira-volta surpreendente no final.
E isso faz valer a pena acompanhar até o final, e também faz por merecer essa análise.
Anna e a metáfora do círculo
Anna é nossa personagem principal. Somos introduzidos à história a partir dela. Sentada em um banco de praça, enquanto esboçava alguns desenhos em seu caderno, ela começa e comentar sobre como o mundo funciona. Segundo ela, “o mundo é um grande círculo”.
Algumas pessoas estão dentro dele, e outras, como ela, estão do lado de fora dele.
Claramente uma metáfora social, denotando a solidão que a garota sente em relação ao mundo. Ao mesmo tempo que ela sente essa tristeza, ela também é uma jovem curiosa.
A Anna é uma personagem de desenvolvimento. O traçado da história deixa notório a evolução dela com os inúmeros acontecimentos da trama. Eu, particularmente, acho incrível história que trabalham essa lógica de desenvolvimento dos personagens.
Ademais, Anna é asmática. Após sofrer um pequeno ataque por causa do ar da cidade onde mora, seus pais adotivos a levam ao hospital.
Chegando lá, nós temos o ponto de partida da história. O doutor orienta que Anna passe uns dias fora, num lugar mais tranquilo. E é aí que tudo se inicia.
Adaptação e a casa do pântano
Mudança nunca é fácil. Ter que mapear toda a área, conhecer pessoas novas, fazer amizades. Tudo isso chega a ser cansativo. Porém, Anna não era esse tipo de pessoa, que possuía uma desenvoltura para novas amizades. Logo, de certa forma, foi mais fácil para ela.
Mas, como supracitado, ela é uma menina curiosa, então, sozinha, andava pela cidade analisando o que a preenchia. Em uma de suas explorações, Anna acaba encontrando um lindo campo com um pequeno lago ao redor. Mais ao longe, ela avista uma casa no meio do nada.
Chegar até lá enquanto dia era tranquilo, porém, ao anoitecer, a maré do lago subia e só era possível atravessar com auxílio de um barco. Essa casa é importante para o desenvolver da história, pois lá residia uma garota que, aparentemente, só Anna conseguia ver. Essa garota era Marnie.
A garota que, ora aparecia, ora desaparecia
Marnie, a menina que morava na famosa casa do pântano foi uma incógnita para mim desde sua aparição. O filme não deixava claro quem era aquela garota ou o porquê dela estar ali.
O único fato indubitável era que Anna desenvolveu uma amizade forte com ela, e Marnie com Anna. Isso chega a ser meio questionável em um determinado momento. Geralmente, duas pessoas que nunca se viram antes passam um certo tempo conversando até desenvolverem algo.
Com Anna e Marnie as coisas aconteceram de uma forma alternativa. Quando se olharam, já entenderam que deveriam ser melhores amigas.
Todavia, o mais estranho, no mínimo, era deduzir se Marnie era real ou apenas fruto da imaginação de Anna.
Em diversos momentos do plot, Anna vai atrás da menina para conversar e ambas andam juntos por um tempo, mas, intempestivamente, Anna desmaiava e acordava sozinha ali no meio do nada. Momentos depois, Marnie reaparecia, como se nada tivesse acontecido.
O diário de Marnie
Quando, em uma dessas sumidas que Marnie dava, a casa do pântano foi comprada por uma família. Quando Anna descobriu isso, ficou meio que sem entender o que estava acontecendo, assim como todo o resto que estava assistindo ao filme.
Uma garotinha de óculos percebe que a muito Anna ficava olhando pelo lado de fora da janela, e a convida para entrar. Quando Anna entra, a garotinha apresenta um suposto diário que seria de Marnie. Aquela era uma prova viva de que ela realmente existiu, ou que era tudo ilusão?
O fato é que Marnie não era somente uma invenção, uma espécia de amiga imaginária para preencher algum vazio existencial. A garota realmente existiu e o diário era a prova disto. Desse modo, nos aproximamos do clímax.
O plot twist miraculoso de As Memórias de Marnie
“Plot twist” significa uma mudança radical na direção esperada ou prevista da narrativa de um romance, filme, série de televisão, quadrinho, jogo eletrônico ou outra obra narrativa.
Em síntese, é quando acontece aquela reviravolta louca que deixa tudo mais interessante. Vemos isso constantemente em obras como The Promised Neverland, por exemplo.
Até agora não entrei em um spoiler realmente impactante, mesmo porque até então mal tivemos um filme impactante, mas agora entrarei no maior spoiler do filme. Siga a leitura deste tópico à seu risco. Caso queira evitar, é só pular para o “Finalizando…”.
Na minha concepção, foi justamente o plot twist que salvou esse filme. Não entenda mal quando eu digo que As Memórias de Marnie é sem sal e trivial até demais desde seu início até próximo de seu final. Estou apenas entregando um fato.
A história se eleva para um novo patamar quando descobrimos que Marnie, na verdade, é avó de Anna. Isso justifica muitas coisas que aconteceram no decorrer da obra, como o fato de ambas terem se tornado tão amigas em tão pouco tempo, ou laço inquebrável das duas.
É nesse momento que o título do filme se torna mais elucidativo. E, talvez agora, você também tenha um prisma diferente do título agora que chegou nesta parte do texto.
A história discorre sobre as lembranças da avó de Anna retratadas pela própria neta. Uma espécia de conexão tão forte, que transcendeu o espaço-tempo. A ordem cronológica, meio bagunçada em toda a trama, ao final é, de alguma forma, organizada.
O desenvolvimento de personagem em As Memórias de Marnie
Lembram-se que, no início do texto, eu havia comentado sobre a personalidade da Anna e em como ela era uma garota solitária e triste?
Após ela entender tudo o que aconteceu e como a avó sempre foi presente na vida dela, ela mudou totalmente.
Saindo das suas férias forçadas, ao voltar para casa, Anna se tornou uma pessoa mais sorridente e de bem com a vida. Uma personagem totalmente divergente da apresentada no início. E, como já mencionado, esse desenvolvimento de personagem me encanta.
Finalizando…
Tirando o fato da monotonia incansável do início, o final faz valer todo o sofrimento. Inicialmente duvidei do filme, mas me surpreendeu no final. É a aquela velha expressão sendo aplicada pragmaticamente: “o jogo só termina quando acaba.”
Vale a pena dar uma chance para esse As Memórias de Marnie. Não diria que MUITA CHANCE, mas seria interessante.
Existem inúmeras coisas que também acontecem dentro deste roteiro que não mencionei aqui no texto, para poder oferecer o benefício da dúvida e não entregar totalmente tudo.
Se você achou interessante As Memórias de Marnie, também vai gostar dos outros filmes do estúdio. Então aproveita que o catálogo da Netflix tem disponível 21 filmes do estúdio e conheça as outras grandes obras do Ghibli.
Nota
/10
Vale a pena dar uma chance para esse As Memórias de Marnie. Não diria que MUITA CHANCE, mas seria interessante.