Gokushufudou (ou no inglês, The Way of the Househusband) é mais um dos animes produzidos pela Netflix. Claro, claro, isso provavelmente não significaria muita coisa; no entanto, o histórico atual da Netflix não tem sido muito bom. Um dos bons exemplos é o “Sem Saída“, que deixou a gente sem saída mesmo: fizemos até um cast sobre ele, e o @hugo-brogni também fez uma crítica.
Na verdade, na verdade, era para fazermos uma Rd3 de Gokushufudou. Contudo, depois que os cinco episódios saíram, surgiu um ponto de interrogação na minha cabeça. Fui pesquisar o título no MyAnimeList, e vi que estava completo, descrito como um ONA. Caso você não saiba, um ONA é um Original Net Animation, obras que saem diretamente pela internet, sem passar pela televisão ou cinema antes.
Tinha muita gente animada com a saída desse original (caham, @lucas-souza), mas outros, como o André, não deram muito crédito quando viram o trailer saindo, com aquela carinha de slideshow, tudo meio estático. Enfim, será que foi isso mesmo? Será que é tão ruim quanto falam? Vamos ver.
- Gênero: Comédia, slice of life, romance
- Estúdio: J.C. Staff
- Material fonte: Mangá
- Episódios: 5 (de 15 minutos cada)
- Página do anime na Cúpula e no MAL
Qual é a premissa de Gokushufudou?
Tatsu Imortal era um membro da Yakuza, ou seja, a máfia japonesa, com a terrível fama de derrotar vários mafiosos em uma noite apenas com suas mãos. Esta poderia ser uma história sobre um cara malvado fazendo coisas malvadas, mas não é: Tatsu decide largar a vida de Yakuza e se tornar um… dono de casa?
Os amantes de slice of life piram: é o cenário perfeito para boas risadas! Inclusive, o jeito com que ele lida com as situações me lembrou muito as tentativas desajeitadas do Sousuke Sagara, de Full Metal Panic, de se encaixar na vida real após anos lutando em guerras.
Tudo o que ele faz é ameaçador: oferecer um bolo, fazer compras no supermercado, tentar agradar sua esposa, jogar vôlei… Todos temem Tatsu (menos pela sua esposa, que bate nele com vontade quando precisa). E o dublador é o maravilhoso Kenjirou Tsuda, o dono das vozes sensuais que você ouve nos animes (o Nanami, de Jujutsu Kaisen, é prova viva da sua sensualidade!).
Bem… a premissa é de fato legal. Deixo claro aqui que eu não li o mangá, então não tenho bem como falar nada em relação ao material original, mas o anime não mostrou… nada?
Sem contar a animação, o que o anime traz?
Para resumir, traz uma série de situações episódicas (5 ou 6) em cada episódio, mostrando como Tatsu é assustador. Sem contar as situações em que o confundem com um marginal. Algumas são hilárias, como quando a polícia acredita que as coisas que ele planta em seu apartamento são plantinhas ilícitas, quando, na verdade, era manjericão.
Mas o subtítulo foi proposital: é um ANIME. Um anime é uma animação. Ou seja, é o personagem em movimento, é a arte fluida, a realidade colocada em duas dimensões de maneira única e criativa (dentro do conceito clássico!). E, a não ser que você seja MUITO fã de coisas estáticas, Gokushufudou vai ser meio difícil de engolir.
Ah, mas não deve ser tão ruim assim, não é? É, é ruim sim. É como se um fã pegasse várias páginas de um mangá, redesenhasse, colorisse e fizesse uma montagem com os painéis coloridos. Não tem NENHUM tipo de movimento, apenas linhas e personagens balançando de maneira não anatômica e cômica (só que de um jeito ruim). Nem Berserk (2016) deve ter chegado a esse nível tristonho.
É exatamente igual ao seu trailer. Sem tirar, nem pôr. Se você ainda não viu, dá uma olhada aí, que assim já sabe o que esperar.
A animação (ou falta dela) foi proposital?
Aparentemente, isso foi uma escolha da produtora, que várias pessoas denominaram como “escolha artística”, já que não queriam NENHUM tipo de movimento.
Ou seja, tudo isto parece ter sido proposital, de fato. Não posso, contudo, falar que foi agradável. O Dudi defende com unhas e dentes, mas não me agradou muito. Eu compreendo a escolha, mas acho que tem um potencial gigantesco que poderia ser aproveitado em prol de mostrar o quão boa é a obra original. Então, se você não se incomoda com a inexistência de animação, talvez possa dar uma chance a ele.
It is a stylistic choice. That’s not to say it’s well executed, but intentional nonetheless. pic.twitter.com/5kk5EJVAoA
— Aocchi (@Aochhii) March 2, 2021
Em uma tradução livre: “Chiaki Kon, que está dirigindo a animação, comentou em sua direção: A produção disse, “faça uma animação que se pareça com um mangá! Nunca movimente os personagens! Foi muito trabalho… Havia cenas em que eu pensava, ‘seria mais fácil apenas desenhar a cena! Não foi de fato um trabalho fácil (risadas)‘.
“O autor da história original, Ono, também disse, ‘eu senti que o método caiu bem para a atmosfera e ritmo rápido da obra. Senti que a velocidade das esquetes não foi arruinada pelos diversos métodos de direção e amostragem com materiais limitados. Eu também achei que as performances dos atores (seiyuus) puderam ser diretamente sentidas e apreciadas.”
Que fique claro, portanto, que a culpa NÃO É da J.C. Staff! Não culpem o estúdio ou animadores sem antes saber do que foi acordado pelos executivos e produtores. Foi uma escolha. Alguns gostaram, outros não. É isso.
Por que Tatsu se tornou dono de casa?
E eu lá sei? O anime não faz questão de te dizer nada disso. Contexto, flashback, explicação: cadê? Como são várias esquetes, ou seja, pequenas “peças” de menos de dez minutos, tem tempo suficiente para contar as coisas e dar uma contextualização maneira. Só que isso não ocorre.
Sei que é slice of life, mas não custava nada: de qual gangue ele era? Por que exatamente saiu? O que o fez sair? Foi o seu casamento com a Miku? Tantas perguntas e nenhuma resposta. “Ah, mas é slice of life, o que você queria?” Por favor, o cara sai do TRÁFICO e vira DONO DE CASA, tem que ter algum motivo forte para isso.
Eu já comentei aqui antes alguma vez sobre como amo os animes da Kyoto Animation. Um dos meus favoritos (e que mereceu minha nota 10) foi Nichijou, que abusou dos recursos de animação em níveis estratosféricos, além de ter esquetes lindamente planejadas, combinando comédia e slice of life com louvor.
E, fora da animação, The Way of the Househusband também não tem contextualização ou história suficiente. É engraçadinho, mas só isso, nada que te faça pensar: uau, eu realmente gostei muito disso! Ou: “amo estes personagens, eles são tão únicos!”. O Tatsu realmente salva um pouco porque é fora da curva, mas parece tudo tão fora de contexto que eu estava esperando que acabasse o mais rápido possível.
Enfim, Gokushufudou talvez seja só mais um anime de promoção do mangá. Não que eu tenha muito problema com isso, mas não sei se estou exatamente com vontade de ler, depois de assistir. Talvez eu leia para saber se é só isso mesmo…
Finalizando a crítica de Gokushufudou (The Way of the Househusband)
Eu tenho uma nota para Gokushufudou, e essa nota é dó. Sinto, no fundo do meu coração, que poderia ter sido algo bem melhor, muito melhor trabalhado e digno de um mangá que muita gente diz ser bom. Dentro do que eu, Helena, vi, parece que a premissa era realmente boa, mas não colou para mim. Isso provavelmente se deve ao fato de que eu esperava, firmemente, que não fosse um completo compilado de imagens estáticas.
Você pode até não concordar comigo, mas, novamente, anime é animação. E é isso o que eu tenho para falar. Eu preferia ter feito uma Rd3, porque nossas primeiras impressões são pequenas, e eu não teria que escrever tanto e pagar de chata para criticar algo que tinha potencial para ser bom.
Todavia, como separava Aristóteles, existe o ato (o que é) e a potência (o que pode ser). Ele era potencialmente mediano, mas é, de fato, ruim. Foi mal aí, Tsudaken. Eu te amo, mas nem a sua voz magnífica salvou esse arquivo de PowerPoint.
Se você leu o mangá, por obséquio, me convença aí nos comentários de que eu devo ler. Diga-me que não é apenas isso! Se você discorda, comenta também, mas explica por quê. Não vale muito a pena, vai. Você também concorda comigo.