Hana to Alice, apesar de ser um filme do qual você provavelmente nunca ouviu falar, é a minha escolha de hoje. Por quê? Bem, porque eu quis.
Na verdade, venho repensando bastante o meu método de escrever as minhas análises. No geral, nós, que produzimos conteúdo, somos sempre bombardeados de questões como: o que você acha do anime x? E do mangá y?
Bem, nada de errado com isso, mas não somos máquinas de assistir anime. Nem sempre vamos saber de tudo.
Quando entrei para a Cúpula, queria fazer desse um espaço no qual pudesse compartilhar com outras pessoas as maravilhas da animação. Eu sou apaixonada por animação, e é por isso que eu escrevo.
E, assim como você, que lê, todos aqui na Cúpula também fazem um esforço hercúleo para simplesmente… escrever. Seguir em frente.
Nem sempre sai certo, ou bom, ou personalíssimo, mas é o que temos pronto a compartilhar. O que se vê detrás das telas é, por muitas vezes, muito diferente daquilo que mostramos por aqui. E, por fim, você se pergunta por que diabos estou falando isso tudo em uma crítica de Hana to Alice!
Bem, apesar de ser um filme que não fala nada a respeito de escrever, fala muito sobre encarar de frente quem nós somos (e como outras pessoas podem nos ajudar a fazer isso, também).
Há sempre um grande significado em sair do ponto de inércia e seguir em frente, e é exatamente disso que Hana to Alice pretende tratar.
Hana to Alice fala sobre… morte?
Não exatamente. Na verdade, Alice é Tetsuko Arisugawa, e por “Arisu”, lê-se Alice. Tetsuko é uma menina que acaba de se mudar para uma nova cidade, e, com isso, transfere-se a um novo colégio. Até então, nada de ruim nisso.
No entanto, assim que chega à escola, descobre que ocupa a cadeira de um antigo estudante que supostamente fora morto.
A “vibe” dessa história mostra muito de como os japoneses (não só eles, mas a cultura asiática em geral) visualiza a morte de uma forma mitológica, quase intocável. Assim que ela descobre sobre a morte do garoto que ocupava a sua carteira, descobre também que chamam o menino de “Judas”. Isso mesmo, como na Bíblia. E por quê?
Porque, aparentemente, o menino teria tido quatro esposas, traindo-as simultaneamente; e, com isso, uma delas o teria envenenado, e puf! Acabou. Faleceu.
A lenda foi passada adiante e o medo referente ao “Judas” e suas quatro esposas ficou para a classe seguinte.
Havia apenas uma pessoa da classe de Tetsuko “Alice” que sabia do que havia acontecido, e seu nome é Hana. Ela estava na classe do suposto “Judas” e com certeza saberia algo a respeito, se, ao menos, frequentasse as aulas. No entanto, sua cadeira, atrás de Tetsuko, estava sempre vazia.
Por isso, Tetsuko, já até mesmo sofrendo bullying por sentar na carteira do morto, decide ir atrás de todas as pessoas possíveis e descobrir o que aconteceu e quem é o tal do Judas.
Apesar de parecer um suspense daqueles, é um retrato da vida real
Lidar com a morte sempre parece um assunto pesadíssimo, já que ninguém quer falar a respeito. E mesmo quando aparece em filmes, animes ou séries, é tratado como algo cheio de tabu ou tristeza.
Todavia, quem já assistiu a algumas obras japonesas sabe que, do ponto de vista oriental, ainda existe mais espaço para se falar a respeito.
Na verdade, podemos ver diferentes perspectivas em meio asiático: a morte como um espaço de redenção, de perdão ou de renovação. Principalmente para aqueles que acreditam em reencarnações.
Essa perspectiva religiosa e/ou mitológica ronda bastante os pensamentos dos adolescentes de Hana to Alice, de um jeito muito leve, muito diferente de como lidamos cotidianamente com a morte. Portanto, tira um pouco do peso de um suspense e o torna um slice of life com uma camada de mistério.
O filme animado, muito embora esteja em duas dimensões, parece ser um live-action. As personagens agem como adolescentes de verdade agiriam, confusas com a situação e tentando proteger a própria pele.
Mesmo sofrendo bullying, por exemplo, a Alice tenta arranjar meios de se defender e resolver a situação de qualquer jeito. Nenhuma das duas personagens principais são estereotipadas, e, ainda assim, têm jeitos completamente diferentes de lidar com a vida.
E por que é um filme que fala sobre seguir em frente?
É ÓBVIO que eu não vou contar o que acontece no filme, porque quero que você veja. Contudo, falei até agora apenas da Alice, que é quem acompanhamos ao início do filme.
A Hana, que é quem mais tem a ver com a morte do “Judas”, é quem veicula a imagem de seguir em frente. Nem sempre fazemos coisas boas, mesmo sendo boas pessoas, e isso pode pesar na nossa consciência por muito tempo.
E, para adicionar, é na adolescência que somos propensos a tomar a maior quantidade de atitudes impensadas, e, por isso, o filme reflete bastante essa limitação entre sermos racionais e emocionais na rampa hormonal que é o crescimento humano.
A mensagem que fica ao final é a de “siga em frente, não importa o que aconteça“.
As situações podem ser ridículas, dolorosas, estressantes e intermináveis, mas existe sempre um lugar no qual receberemos conforto e amor. Hana e Alice acharam isso em sua amizade repentina e diferente.
Uma adição técnica em Hana to Alice
Eu já falei mais de uma vez por aqui em mais de um texto que sou fã da técnica de rotoscopia. Nos filmes, normalmente a técnica é realizada gravando o vídeo de uma pessoa se movimentando, e o animador desenha “por cima”, quadro a quadro.
Claro, essa é a minha visão da técnica e posso também estar equivocada, mas tenho fontes muito boas que comprovam aquilo que estou falando.
O episódio dessa semana de SNK foi recheado de rotoscopia, que é uma técnica na qual se gravam pessoas de verdade e depois desenham por cima!
— Sakuga Brasil「作画 🇧🇷」 (@sakugabrasil) December 14, 2020
É muito bom ver esses designs complexos se movendo! pic.twitter.com/RC8sMC0sVQ
Para os fãs de animação 2D convencional, é sempre desconfortável lidar com diferentes técnicas de animação, mas eu, pessoalmente, sou fã de diferentes estilos; quanto menos convencional, mais desafiador é de perceber como aquilo foi feito.
Aprender aos poucos sobre como cada cena é animada ou como os estilos são misturados é sempre muito legal. E, por óbvio, cabe ressaltar que muitas cenas mesclam diferentes estilos de animação.
Particularmente, Hana to Alice tem uma animação super legal e muito fluida, com cenários muito bonitos. O estranhamento, aí, é com relação à composição visual.
E o que é? Basicamente, a composição é a “mesclagem” de tudo o que tem por ali. Os cenários, a animação, os efeitos visuais… ou seja, o “conjunto” da obra.
E, apesar da animação ser lindíssima e os cenários também, acabam destoando um do outro de uma maneira não tão agradável quanto na maioria das produções cinematográficas mais curtinhas do mundo 2D. Ainda assim, é super legal de ver e vale muito a pena aos curiosos!
Finalizando a crítica de Hana to Alice
Acho que mais pessoas deveriam conhecer esse filme! Foi a mesma sensação que eu tive assistindo Patema Inverted, sobre o qual também escrevi por aqui. Ultimamente tenho assistido filmes menos conhecidos com ótimas mensagens, e esse não é uma exceção.
Com uma sinopse a respeito de um assassinato, engana o espectador curioso e desavisado; ao começar, joga-o em uma calmaria cotidiana muito reconhecida por nós.
A mistura entre o mitológico e o real, entre o cotidiano e o fantasioso e entre a inércia e o movimento criam uma dualidade que faz Hana to Alice ser um poderoso filme sobre vidas normais.
Viver não é fácil, jovem leitor(a). O importante é que sigamos em frente, ainda que possa ser ridículo, estranho ou difícil. É sobre isso que esse filme fala, e é uma grande lição de vida. Siga em frente e dê o seu melhor!
Se gostou do filme, volte aqui para comentar. Até mais!