Happiness é viciante. São poucas as obras que nos fazem perder a noção do tempo. E por mais bizarros que sejam os títulos de Shuzo Oshimi, é essa característica em seus trabalhos que me fazem gostar deles.
Mesmo possuindo uma abordagem diferente, o viés de um terror psicológico e muita tragédia se equivale também a Aku no Hana e Chi no Wadate, outras obras do autor.
Talvez, o mais interessante a se pensar nos trabalhos de Oshimi seja o porquê de decidirmos ficar em uma história que causa uma sensação desagradável.
Acredito que a explicação está na genialidade do mangaká. A sua maneira de narrar os fatos, os traços, os ganchos inquietantes para o próximo ponto, os mistérios. Tudo isso corrobora para que o leitor permaneça até o fim em suas histórias.
E como Happiness consegue este feito? Fica até o final deste texto e conheça melhor essa instigante narrativa.
- Autor: Shuzo Oshimi
- Volumes: 10 (09 fev 2015 até 09 março 2019)
- Status: Finalizada
Mais uma história sobre vampiros
Happiness é sobre vampiros. Mas não tem nada a ver com brilhar no sol ou romantizar a criatura, embora haja o romance e os momentos de redenção.
Oshimi segue uma vertente mais macabra e repleta de situações obscuras que, por algum motivo, conseguem fazer com que o leitor se empolgue a cada novo capítulo.
Por ser curto, possuindo apenas 10 volumes, a leitura acaba sendo mais fluida, fazendo parecer passar mais rápido do que deveria.
Quanto ao ponto principal, temos Okazaki, um garoto tímido que sofre na escola. Em um determinado dia, é atacado por uma garota vampira, que dá a ele a oportunidade de sobreviver, porém como um vampiro.
Aos poucos vamos percebendo como essa metamorfose muda não somente o Okazaki, mas também tudo ao seu redor.
Uma mudança pessoal e social
Após Okazaki passar por sua metamorfose, vemos que tudo ao seu redor vai alterando. Como, por exemplo, sua vida acadêmica. Antes ele era humilhado, agora não é mais.
Além do mais, ele passa a criar novos laços de amizade. Claro que tudo pode parecer apenas coincidência, porém que acorreram após sua transformação. Como se dessem a ele a força e a determinação que faltavam.
Ademais, esse ponto do mangá em que Okazaki expande seu leque de amizades também funciona para um outro objetivo: fazer com que o leitor simpatize pelos personagens.
Querendo ou não, algo vai acontecer a eles. Para sentirmos algo, é preciso que haja uma espécie de vínculo. E é para isso que serve, também, estes momentos.
Happiness e a relação com a agorafobia
Agorafobia é um transtorno de ansiedade que muitas vezes se desenvolve após um ou mais ataques de pânico. Os sintomas incluem medo e evitar lugares e situações que possam causar sensação de pânico, aprisionamento, impotência ou constrangimento.
Pode parecer um tanto quanto besta, mas este fato no mangá é um recorte da vida real. Ele pode se desencadeado por diversos motivos. Um deles é o, já supracitado, pânico por algo que aconteceu no passado e deixou cicatrizes.
Vemos isso com uma das personagens que, na infância, quase foi morta por um homem. Dez anos depois, apenas por ver uma foto dele no jornal, a garota relembra de todo o trauma e não consegue mais sair de casa.
Esse momento é importante na história, pois denota uma doença real e, ao mesmo tempo, o autor também oferece uma forma de conduzi-la da melhor maneira: com o apoio de pessoas que realmente se importam e estão dispostas a ajudar.
Particularmente, me identifiquei com o drama desta personagem. Graças a Deus nunca vivenciei um acontecimento traumático ao ponto de me manter preso em casa, mas vivi um momento da minha vida que me deixava incomodado ter que sair da porta para fora. Mas com o tempo tudo voltou ao normal, assim como aconteceu com a menina de Happiness.
Para mais, caso queira informações detalhadas sobre este transtorno, dê uma lida no artigo da Vittude. Lá você encontrará mais referência, como sintomas, complicações e tratamentos.
O fanatismo religioso em Happiness
Tem-se como explicação sobre o fanatismo religiosos a devoção incondicional, exaltada e completamente isenta de espírito crítico, a uma ideia ou concepção religiosa.
Esse é outro ponto bastante discutido em Happiness, que acompanha a reta final da história, tendo um desfecho completamente dramático e avassalador.
Tudo inicia-se com a criação de uma seita de pessoas que almejam ser deuses, com um líder completamente perturbado e com um passado abominável.
Embora houvessem motivos para ninguém ouvi-lo, nem dar atenção a seus ensinamentos, as pessoas estão cegas por uma ideologia deturpada e, sobretudo, sem sentido.
Todavia, é uma amostra do que o fanatismo pode fazer, cegando e impossibilitando de enxergar os fatos como eles verdadeiramente são. Happiness oferece uma aula de tudo um pouco. Ficção e realidade.
Sem muitos textos, mais imagens
Isso daqui é a elite, tá?! Eu amo as obras do Oshimi pela maneira que ele escolhe contá-las. Muitos quadros quase não possuem diálogos ou diálogos extensos. Apenas o essencial. A maioria são apenas ilustrações.
É muito cansativo acompanhar obras que enchem os quadros de balões como Hunter x Hunter, vezes com diálogos expositivos, vezes com assuntos sem sentido que conectam nada a lugar nenhum.
A história pode até ser interessante, mas a presença de muito texto acaba causando um certo desgaste que, às vezes, é desnecessário.
Caso tenha interesse em se aprofundar nas obras do Oshimi, este não será um problema. Você pode encontrar outros, claro, mas não desgaste por excesso de informações.
Finalizando a crítica sobre o mangá Happiness
Em síntese, Happiness é um bom mangá, com temas interessantes e muito mais do que o exposto aqui. Você pode confirmar isso lendo a obra.
Ademais, fica claro como Shuzo consegue transmitir bem sua ideia de mostrar eventos que ocorrem na nossa vida real por meio de suas obras. Isso sempre solidifica a visão de que animes/mangás são mais do que apenas entretenimento.
Aliás, outro autor que faz bastante isso e que é meu favorito da vida, é o Inio Asano. Eu escrevi um texto listando seis obras do autor que são imprescindíveis caso você queira conhecê-lo. Depois dá uma lida no artigo. Ficou bem legal.
Por fim, de todos os trabalhos de Shuzo Oshimi, se for o caso de você não conhecer nenhum, Happiness, talvez, seja a melhor opção para iniciar. Além de ser curto, é imersivo, dinâmico e muito excitante.