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Análise

Lookism (Netflix): é bom? Vale a pena ver o anime? | Crítica

Lookism falha em adaptar sua obra original
10 minutos para leitura

Lookism é um ONA (Original Net Animation) coreano que saiu recentemente na Netflix. Julgando pela capa, eu não teria nenhum interesse de ver. Contudo, Lookism tem um sentido diferente para mim, porque já li o webtoon.

Quando eu vi que sairia, tive sentimentos conflituosos: ao mesmo tempo que queria incentivar as pessoas a verem, eu imaginei que talvez não fosse ser tão bom quanto é o webtoon.

Adaptações, seja a qual nível forem (mangás ou webtoons) não são fáceis. Frequentemente vemos muitas discussões, às vezes infundadas, sobre tempo, trilha sonora e dublagem.

Temos como exemplo Chainsaw Man e Guilherme Briggs, este último tendo sofrido diversos ataques por uma dublagem diversa da que alguns “fãs” esperavam.

Mas mesmo com um pé atrás em relação à adaptação de Lookism, decidi assistir. Bem, já que estamos pagando a netflix, por que não, não é?

E foi exatamente o que eu esperei.

lookism poster da série com todos os personagens
  • Gênero: Ação, Drama, Sobrenatural
  • Estúdio: Studio Mir
  • Diretor: Il Han Kwang
  • Material: Web mangá
  • Onde assistir: Netflix

Lookism é uma história sobre troca de corpos

Contudo, não do jeito que você imagina. Normalmente, a troca de corpos em ficção acontece com uma outra pessoa conhecida. Então, você vê que sua vida era melhor, quer ela de volta, e bum! sua mente volta para seu antigo corpo (e o filme termina).

No caso de Lookism, a troca de corpos é abrupta, como se esse novo corpo tivesse aparecido ali do nada. E ele mantém dois corpos. Não entendeu? Bem, vamos com calma.

Daniel Park (que, em coreano, é Hyung-Suk Park) é completamente ignorado pela sociedade. Ele é fora dos padrões, gordo e pobre, o que é motivo suficiente para que um bando de idiotas decida que ele deve ter a cabeça enfiada em uma privada.

Essa vida horrível que ele leva é uma desgraça, e é humilhação atrás de humilhação. Parece que não vai acabar nunca.

Entretanto, um dia, ele se muda para longe de casa, e ao acordar, sente o corpo estranho. Mais alto. Parece que as coisas estão em lugares diferentes. E quando ele se olha no espelho, virou um cara alto e “bonitão”.

daniel park, protagonista de lookism

O outro corpo dele ainda estava lá, dormindo. Daí ele descobre: enquanto um dos corpos dele dorme, o outro está acordado, e vice-versa. Ele passa a viver, então, metade do dia em um corpo e metade do dia em outro.

A premissa é realmente diferenciada, e eu não me lembro de ter visto nada parecido antes. Apesar de Daniel Park dar um tanto de raiva no começo dos quadrinhos coloridos, cresce como personagem no webtoon e se torna um ótimo protagonista. Mas ele não é o motivo pelo qual eu estava receosa de assistir ao anime.

Lookism precisa de um grande investimento

Por quê? Somente pela quantidade de episódios em curso no webtoon: 425. A obra de Taejun Park, no que eu sei, não tem previsão de fim. É um webtoon de porrada desenfreada que começa com a história de um garoto que troca de corpos e escala para briga de gangues muito rápido.

Para que você tenha noção, ainda não sabemos o motivo da troca de corpos e por que ele foi parar exatamente no corpo desse bonitão. Muitas histórias aconteceram, e tudo é muito importante, mas o mistério principal permanece intocado.

Ou seja, apesar de todo o avançar de mais de quatrocentos episódios depois no webtoon, ainda há muito a ser solucionado, o que exigirá tempo do autor para desenvolver de forma coerente tudo isso.

Pessoalmente, eu não costumo acompanhar obras muito longas. Gosto mais de obras curtinhas, porque sinto que, quanto mais tempo o autor demora, parece que ele pretende me enrolar em vez de realmente contar a história.

Em Lookism, abri uma exceção, porque Park (o autor) consegue fazer a história ser interessante mesmo com um desenrolar inesperado. E, quando algo é resolvido, puxa-se o gatilho para outra história. Há muitos personagens, mas todos têm seu devido espaço e importância.

Pela extensão da obra, meu receio foi justamente a adaptação. Sabemos que grandes obras (em tamanho, mesmo) exigem muito de seus estúdios e animadores. One Piece é um exemplo de um extenso projeto que foi crescendo ao longo dos anos.

Quanto a Lookism, me parece que o anime foi feito de forma a divulgar o webtoon, o que não é um enorme problema, mas tem suas deficiências.

Essa não é uma obra adaptável

daniel park gordo e de óculos se olhando pelo reflexo do vidro e sem reconhecer seu novo corpo

Pelo menos, não no momento. O anime é bom para quem já leu o webtoon e fica feliz por ver os personagens se movimentando. E só. A gente consegue reconhecer, sabe qual é a história de cada um deles, e isso torna aquela experiência muito melhor.

Portanto, se eu fosse crua assistir somente o anime, eu muito provavelmente detestaria. É apresentação de um monte de personagem e diálogos que parecem não fazer sentido em determinados contextos. Fazem sentido no webtoon porque o TEMPO é diferente.

Fora a possibilidade de ter mais acesso ao pensamento dos personagens e controlar você mesmo o seu ritmo de leitura. Os nomes são apresentados pouco a pouco e até mesmo os personagens têm um design mais elaborado, o que torna a distinção mais fácil. O character design do anime não ajuda muito.

Mas, claro, o autor do webtoon cresceu muito ao longo dos anos. Hoje, ele entrega painéis incríveis com muita emoção, que são de difícil reprodução em anime, a não ser por um grande investimento.

Para mim, a obra adaptada para anime desaponta muito o espectador desavisado. Portanto, se você assistiu Lookism e não gostou, pode ser que você goste de ler o webtoon, estando ciente de que ainda não foi finalizado e de que é uma série longa.

Dito isto, fiquei feliz com a animação, que achei que fosse ser bem slideshow. Não chega a ser nível Mob Psycho, óbvio, mas tem momentos bem animados. É legal ver produções sul-coreanas, que, por algum motivo, a gente identifica logo que não é japonesa, mesmo que não se esteja ouvindo o áudio original.

Sobre a obra em si: beleza é (afinal) tudo?

Novamente, acho que não há tempo suficiente para se desenvolver isso da forma que o webtoon faz. O que se faz, em oito episódios, é chegar a lugar nenhum: ele virou um cara bonito com um novo corpo, e isso melhorou a vida dele em 2000%. E só.

Pelo anime, vende-se sem escrúpulos o ideal de pretty privilege, em que os bonitos escalam com muita facilidade o topo da sociedade. E faz-se isso sem considerar todo o peso que Park coloca ao escrever sua obra.

Como uma leitora que já acompanha Lookism há quase dois anos, posso dizer: Park pretende, com Lookism, reconstruir a autoestima destruída de seu protagonista e revelar que o que se procura está além do que os olhos podem ver.

De alguma forma, Lookism mudou ao longo dos anos, e é natural que isso aconteça com qualquer obra. Seus criadores remodelam a história e refletem sobre o que querem, de fato, transmitir às pessoas. Vendo o anime, senti que algo estava faltando.

E, para mim, é isso. Falta captar o que a obra pretende ser em essência, como ela se projetou e como foi pensada pelo seu autor. Porque, de outra forma, parecerá só mais uma comédia idiota sobre como é bom ser bonitão.

Finalizando a crítica sobre Lookism

Meu veredito final é: não assista. Se você não conhece a obra, se interessou pela premissa e tem vontade de ingressar no mundo de Lookism, leia o webtoon.

Ele é incrivelmente bem escrito, fala com profundidade de relações familiares, luta pela sobrevivência, drogas e até mesmo prostituição. Tudo é levado com muita seriedade e tratado com carinho extremo pelo autor.

Quanto ao anime, acho que oito episódios não dizem nada. Não chegaram a lugar algum, não desvendaram nada, não deixaram nada que desse vontade de continuar assistindo em vista de alguma continuação.

E como já sabemos, a dona Netflix é campeã em cancelar séries. Não dá para esperar que Lookism seja levado até o seu fim, tampouco que melhore.

E você, já assistiu ou leu Lookism? Deixa a sua opinião aí nos comentários!

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Escrito por

Helena Nunes

Advogada | Professora | Concurseira triste

Máquina de spoiler | Jojofag

Campos - RJ

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