Se você, assim como eu, estava cansado de romances mais genéricos, tipo aqueles onde as coisas não vão para frente e os personagens são mais adultos e agem como tal, passe longe de Sing YESTERDAY for Me (Yesterday wo Utatte). Sério. Esse anime me decepcionou muito.
É O PIOR- brincadeiras à parte, esse anime não é ruim assim.
Na verdade, eu poderia o considerar “mediano para quase acima da média”, porém a quebra de expectativa que ele causou em mim com certeza crava Sing YESTERDAY for Me em “mediano e nada demais”. Tipo o que aconteceu com Dr. Stone.
Falo em quebrar expectativas porque, quando fiz minha RegraDe3, eu estava com muitas esperanças de que teríamos algo adulto e diferente do clichê colegial que ninguém aguenta mais… mentira, eu aguento ainda, mas novidade e originalidade é sempre bom.
Bom, tivemos algo diferente. Mas não como eu esperava. Longe* do eu esperava, corrigindo.
Esperava uma trama que fosse para frente. Que entregasse personagens medianamente bem desenvolvidos, mas, ao mesmo tempo, que conseguisse nos prender por se passar num ambiente diferente, com um clima mais maduro.
Entretanto, não foi o caso com Yesterday wo Utatte. Digo, obviamente que a ambientação é fora de uma escola, e os personagens são “”adultos””, então não há problema nesses pontos.
Além disso, a parte técnica desse anime ficou beeeem acima da média, por isso, mérito para o estúdio Doga Kobo que mandou bem em termos de estética, animação e fotografia.
Todavia, eu tinha muitas expectativas do resto. Da história, dos personagens e, principalmente, do teor do romance. Talvez expectativas demais, confesso.
E isso é culpa minha, eu sei. Afinal, é uma quebra da minha visão sobre minha expetativa, numa crítica minha.
Do que se trata Yesterday wo Utatte?
Em Sing YESTERDAY for Me, você acompanhará Rikuo, numa complexa e difícil jornada para “retornar a sociedade”.
Isso significa, basicamente, querer algo da vida, ter mais ambição. Estar dentro do senso de “giri“ que os japoneses esperam um dos outros.
Em suma, Rikuo deveria pelo menos ter ambição a ponto de não querer passar o resto da vida trabalhando em lojas de conveniência. Lojas estas que, apesar de convenientes, não são o melhor lugar para impulsionar sua carreira; e nosso protagonista sabe disso.
Porém, ele não liga muito. Ou melhor, ele mente para si mesmo dizendo que não liga.
Após sair da faculdade e se distanciar de sua grande amiga (e pessoa que ele gostava/gosta/ama/amava) a Shinako-sensei, Rikuo ficou meio sem rumo. Não 100% por uma desilusão amorosa, mas certamente esta teve peso em seu estado de “deslocado da sociedade”.
Algum tempo depois do término da faculdade, Rikuo que agora trabalha nessa tal lojinha conveniente, se encontra novamente por acaso com Shinako, reacendendo sua paixão.
No meio disso tudo, temos a Haru, uma adolescente muito carismática e insistente (talvez demais) que largou a escola para poder ganhar a vida sozinha. Ela tem um corvo de estimação! Muito badass e fofa… seria essa a combinação perfeita?
A Haru gosta do Rikuo, e a narrativa tenta nos convencer que isso já vem desde o passado. Mas fracassa. Chegarei lá.
Sendo assim, a partir de agora, Rikuo, que não tinha nada, precisa lidar com as provas de amor da Haru, enquanto tenta conquistar a Shinako, e esta, está ocupada amando uma pessoa que já se foi, e ainda precisa esquivar do amor do irmão deste falecido amor, o Rou.
É, Sing YESTERDAY for Me parece que será agitado…
Mas não é.
Sing YESTERDAY for Me tem um ritmo LENTO demais!
Apesar de uma trama com um potencial gigantesco para um “dramão Kuzu no Honkai style“, Yesterday wo Utatte trilha por um lado diferente (amém) destes animes que ficam tentando forçar dramão, porque Yesterday opta por trilhar por um caminho mais realista.
Ou seja, os personagens ali presentes são reais. Reais até demais.
Muitas vezes as obras buscam te colocar no lugar de seus personagens, para que o leitor/espectador consiga entender melhor o que os personagens estão sentindo ou pelo que eles estão passando.
Isso gera um vínculo, um laço, algo que faz com que nós nos importemos de verdade com aqueles personagens. Personagens genéricos em algumas coisas tornam mais fácil essa identificação.
Sing YESTERDAY for Me, contudo, não tenta fazer isso.
Ele te apresenta personagens bem únicos, responsáveis por suas próprias decisões e ações. Nesta obra, sendo bem sincero, eu não consegui me colocar no lugar de qualquer um dos personagens. Talvez seja porque minha personalidade se difere demais da de todos eles, mas enfim. Acho que não consegui ver nenhuma pessoa que eu conheça ali, também.
Só que calma! Esse fator “realista” e “não te colocar no lugar” não são pontos negativos…
Hã?!
Ficou confuso? Deixa que eu explico
Para mim, que sou uma pessoa mais decisiva, que gosta de tomar ação e não deixar mal entendidos serem criados pela falta de, principalmente, diálogo, foi bem doloroso ver esses japoneses em Yesterday se relacionando.
Não dá. A falta de diálogo é descomunal, beirando o irreal (para mim), e a trama se desenvolve, basicamente, porque os personagens só não conseguem abrir a boca para falar o que realmente sentem ou pensam um sobre o outro ou sobre um determinado assunto. Mesmo sendo adultos (parte deles)!
E não estou dizendo aqui que deveriam meter o louco e se declarar/xingar ou coisa do tipo logo de cara.
Mas, assim, eu acho que o fato de simplesmente optarem por não falar nada em situações onde a maioria das pessoas tentaria resolver a parada com sei lá, uma ou duas frases de diálogo, os personagens em Yesterday optam por só olhar para o chão e ficarem com caras de tristes, esperando que os problemas se resolvam sozinhos.
Mas claro que não funciona.
“Ok ,André, mas e a minoria das pessoas? Será que estes não conseguiram se identificar com a falta de atitude dos personagens de Yesterday?”
Talvez. E esse é um bom argumento.
Na verdade, acredito ser o único argumento possível para alguém realmente defender as ações tomadas por quase qualquer um dos personagens em Sing YESTERDAY for Me.
Essas personalidades, somadas ao teor realista da série, tornam a narrativa em algo bem convincente e palpável, só que lenta.
Porém, a lentidão é meio que justificada por alguns pontos. Como, por exemplo, por mais que você ache esquisito as pessoas ficarem indo às casas das outras o tempo inteiro ou usando telefones fixos nesse anime, lembre-se que essa obra se passa em uma época anterior a nossa.
O mangá que foi material fonte para esse anime começou em 1997, e mesmo que tenha mantido sua serialização até recentemente em 2015, o clima que a autora Kei Toume buscou dar em sua obra foi um clima mais de anos 2000, e menos de anos 2015, onde já temos smartphones e o contato com os outros é constante.
Você que já assistiu reparou que eles não usam celulares, né!?
Mas isso é ruim?
Não.
Acho essa escolha interessante, e isso por si só já é um dos bons diferenciais de Sing YESTERDAY for Me. E o melhor é que o estúdio resolveu manter esse clima mais “antigo” no anime, coisa que não aconteceu em Banana Fish, por exemplo.
Neste [Banana Fish], o estúdio responsável [MAPPA] resolveu dar uma “atualizada” em algumas coisas para a obra conseguir se conectar com um público mais atual, afinal, Banana Fish é de 1974, e ganhou adaptação por agora.
O MAPPA acertou em atualizar, mas o Doga Kobo também acertou em manter. Por isso, esse não é o ponto.
O problema é que, como supracitado, a narrativa ficou lenta e sem ritmo. Mesmo que o roteiro fique criando esbarrões convenientes o tempo inteiro dos personagens pela rua.
Cada episódio era cheio de nada, e quando tínhamos episódios onde parecia que algo ia acontecer, o episódio acontecia e no próximo, o clima era completamente outro. Fora que a trama parecia simplesmente não desenrolar.
É com muito pesar que só consigo pensar que, em Sing YESTERDAY for Me, o grande problema é que os personagens vivem um slice of life real demais.
E tá tudo bem entregar algo real demais.
Porém, como Seth Godin defende em seu livro “Isso é Marketing“, tudo é feito para alguém. Com esse anime, eu acabei não sendo esse alguém. Sendo assim, não me empolguei o suficiente para dar com play um sorrisão nos episódios.
Acabei assistindo Sing YESTERDAY for Me simplesmente por assistir.
Aliás, se eu não visse um episódio por semana, com certeza não teria conseguido dar continuidade com a obra.
Personagens sem sal, mas reais
Não consegui simpatizar com nenhum dos personagens. Talvez seja porque não consegui entender as motivações deles.
Um desistiu de tudo e todos, por aparentemente nenhum motivo (já que não nos mostraram), virando quase um NEET.
Outra, acaba se apegando demais ao passado, à alguém que não está mais entre nós. Tudo bem que esse drama é complicado, porque eu nunca passei por nada parecido, então não sei dizer quão difícil é desapegar de uma pessoa querida. Ainda mais dessa forma.
Contudo, uma outra personagem alega ter se apaixonado perdidamente por outro personagem após, literalmente, ter apenas juntado uma carteira que caiu no chão e ter dado uma olhada na cara dele. E deu. Isso é tão shoujo adolescente que incomoda. Lembra que eu queria algo adulto?
E ainda, temos o irmão do falecido. Este cara aqui é o mais “normal” ai no meio, porém, ainda é muito infantil e toma decisões em cima de pura imaturidade. E ainda por algum motivo usa um alfinete na orelha????
Sei lá. Jovens.
O lado bom dos personagens em Yesterday wo Utatte é que são reais, mas tão reais, que são facilmente desgostados pelas pessoas que assistem.
Afinal, como diria o(a) pensador(a) cujo nome não consegui encontrar, “O contrário do amor não é o ódio, mas sim a indiferença”.
Ou seja, o fato de podermos realmente “odiar” ou “amar” estes personagens, sendo contra ou a favor das decisões deles, prova que eles são bem reais.
Então, apesar de todos eles (menos a Haru) serem super sem sal e não chamativos, eles funcionam dentro dessa trama.
Tudo bem que a trama é inexistente, porque é difícil saber onde a história quer chegar se nem o protagonista sabe direito onde ele quer chegar.
Mas vocês entenderam!
Contudo, Sing YESTERDAY for Me tem uma parte técnica de respeito
Com certeza o ponto mais positivo em Sing YESTERDAY for Me é sua parte técnica.
O cuidado aos detalhes por parte dos artistas de background foi de deixar o queixo cair.
Tudo é bonito nesse anime. Os detalhes das salas de estar, a cidade, os itens da loja de conveniência e até mesmo a louça na pia dos personagens. Tudo é muito bem feito e feito com um nível de detalhe que foge muito dos padrões de “animes medianos”. É melhor até que de animes considerados “bonitos”. Bem melhor.
Reparem nos detalhes das cenas abaixo.
As cores utilizadas também conversam muito bem com a atmosfera da obra, e são num tom mais cinzento (eu acho). Sempre que optam por algo assim, você se vê numa atmosfera mais séria e real. E bem, em Yesterday não teria uma atmosfera mais correta que essa.
O traço ficou simplesmente fenomenal. Apesar de o estúdio não mudar o tom “antigo” da série, trazendo smartphones e coisas mais atuais para a narrativa, eles deram um upgrade no design dos personagens e dos ambientes.
Tudo ficou lindo demais. Não sou artista, mas acho que usaram alguma técnica diferenciada para fazer o contorno dos personagens. Parece meio de giz, sei lá. Ficou legal.
A escolha de não termos uma abertura me intriga, mas isso é irrelevante, considerando que temos 3 endings muito maneiras nesse anime.
Pena que elas são mais marcantes que o anime em si.
Essa parte, somada com um final que pelo menos chegou em algum lugar, entregando algo que provavelmente vai agradar muito um dos lados desse “quarteto amoroso”, são 2 pontos positivos para a obra.
Quem será que termina com o Rikuo?
Finalizando…
Não tem problema em ser nota 6,0.
Sabe, quando você está na escola ou na faculdade, quando tira um 10 ou um zero, isso te marca, positiva ou negativamente.
Só que quando você passa na média, se torna esquecível. Ou seja, algo que daqui um tempo você certamente não dará a mínima ou vai se esquecer.
Seu cérebro não vai se lembrar de Yesterday, porque não temos um romance adulto, que seria um diferencial. Temos adultos vivendo romances adolescentes (sim eu sei que 2 dos 4 protagonistas são de fato adolescentes, mas possuem quase 18 acredito, então da quase na mesma).
Aquele romance que o pessoal nem toca as mãos, cenas de beijo que nem são mostradas, personagens que tomam decisões burras baseadas em falta de diálogo…
A trama pode ser esquecível (porque nem existe), mas os personagens são facilmente amáveis ou odiáveis e o anime é inegavelmente muito bem produzido.
Todas as minhas expectativas levantadas na RD3 foram quebradas no que tange a “romance”. E eu queria romance. Então sim, é MINHA quebra de expectativa. Isso reforça que Sing YESTERDAY for Me é uma obra que você precisa assistir para tirar suas próprias conclusões.
Sobretudo, eu não me arrependo de ter assistido. Principalmente porque em uma das cenas finais do anime, como antes mencionei, eu finalmente tive o que estava buscando: algo maduro.
Só que minha indiferença para com esse anime já meio que não estava somente batendo na porta, ela já estava sentada na minha sala tomando cházinho.
Por fim, afirmo com 100% de certeza que é um anime que nunca dedicaria meu tempo para re-asssistir.