Quantas vezes começamos a ler ou ver alguma obra sem pretensão nenhuma, e, ao finalizar, acabamos com pensamentos do tipo “Isso foi bom ou isso foi ruim?” ou “A mensagem que queria ser passada foi alcançada?”. Passei por isso com “O Jardim das Palavras” (Kotonoha no Niwa), do Shinkai.
E assim segue os devaneios da mente tentando entender o que acabou de ser lido ou visto…
Bom, sim, isto que estou a escrever é de fato uma recomendação (uma positiva). Entretanto, essa obra demorou algum tempo para ser digerida depois que eu a li.
Demorou tanto que comentei com o André que a obra “não merecia uma matéria”, mas, logo depois, após ver a versão animada da mesma, mandei outra mensagem afirmando que fiquei boquiaberto.
Relembro que estou falando aqui do média-metragem chamado “O Jardim das Palavras” (Kotonoha no Niwa) escrito, dirigido e editado por Makoto Shinkai, e produzido pelo estúdio Comix Wave Films.
Acho difícil não conhecerem, mas Makoto Shinkai é um diretor, escritor e produtor de cinema de animação japonesa.
Em seu currículo, Shinkai já soma 12 animações e cinco premiações ao longo de sua carreira. Suas principais obras são Voices of a Distant Star, The Place Promised in Our Early Days e as aclamadas 5 Centimeters per Second e Your Name. O seu mais novo megahit é intitulado “Weathering With You“.
Como afirmei acima, este texto tem a pretensão de ser uma recomendação, portanto não terá qualquer tipo de spoiler que possa prejudicar a apreciação da obra.
Sobre o mini filme Kotonoha no Niwa…
Começo dizendo que o filme tem duração de apenas 46 minutos. Parece pouco, porém a história é muito clara e os personagens conseguem te cativar e fazer com que você se comova sem problema algum. Até arrisco dizer que se fosse um longa-metragem, Kotonoha no Niwa poderia ficar maçante.
Mas por que afirmo isso? Simples, pois o filme possui um enredo direto e prático, sem precisar de uma explicação mirabolante para ser entendido pelos espectadores.
Kotonoha no Niwa nos apresenta de início o estudante Takao Akizuki, um adolescente de 15 anos que demonstra estar perdido em seus sentimentos e anseios – como uma pessoa normal nesta idade, diga-se de passagem.
Porém, mesmo com sua pouca idade, ele evidencia ser muito mais maduro que seus colegas. Isso fica ainda mais claro quando somos apresentados a sua família.
O desenhador de… sapatos?
Num dia chuvoso qualquer, o protagonista decide cabular a aula e ir a um banco no parque da cidade somente para ficar desenhando sapatos. Pois é, exatamente isso. Sapatos. Um hobby tanto quanto diferente, né?
Ainda, ele gosta de passar um tempo sozinho também, pois, afinal, quem iria ao parque em um dia chuvoso?
Ao chegar no local ele se depara com uma moça, que em plena manhã está tomando cerveja e comendo chocolates.
Takao fica um pouco constrangido, mas senta ao lado da mesma, e, sem trocarem muitas palavras o tempo passa. Na hora de ir embora, a desconhecida recita um “tanka” (poema tradicional japonês composto por 5/7/5/7/7 sílabas, respectivamente) que deixa o adolescente curioso.
Quem é essa mulher? Eles se encontram mais vezes? A cerveja que ela estava tomando era uma IPA ou uma Pilsen? Estas são perguntas que você irá conseguir responder ao ver o filme (talvez a última não hehe).
História, personagens, conversas, enredo, tudo isso é simples… Mas então, o plot do filme vale a pena?
Sim! Acreditem ou não, mas há um mind-blow dessa história aparece do nada e, como uma chuva na tarde de verão, te desconcerta e faz com que você mude totalmente a sua linha de raciocínio do que estava sendo criado.
Exatamente. Para que exista uma surpresa a obra não precisa necessariamente ser extensa, com muitos personagens envolvidos e um grande dilema a ser resolvido.
Fora que, o autor, na minha opinião, consegue dar um final que a maioria da audiência não esperava. Pelo menos comigo foi assim.
O Jardim das Palavras tem uma parte técnica que chama atenção
Vale ressaltar que o visual de O Jardim das Palavras é impressionante.
A chuva, as folhagens a feição dos personagens. Tudo é impecavelmente perfeito.
Além disso, a sonoplastia e trilha sonora que em momentos específicos te transmitem o que o autor quis, sem precisar de uma explicação ou narração super expositiva de um narrador ou dos personagens.
Outro ponto é que, como o plot da obra é simples, o filme não possui diálogos gigantes e maçantes, deixando o discorrer do filme impressionantemente agradável e permitindo que nós, meros espectadores, apreciemos o aspecto áudio visual da forma correta.
Mas o que fez eu mudar de ideia sobre escrever este artigo?
Antes de ver a animação eu li o mangá que fora lançado em 2016 aqui no Brasil pela Editora NewPop. A arte dessa mídia é do Midori Motobashi, falando nisso.
O que me fez de início achar que O Jardim das Palavras não é tão espetacular é que o visual do material impresso não chega nem aos pés da animação.
Além disso, na minha opinião, o mangá não conseguiu transmitir com a mesma sensibilidade a história contada.
Todavia, o formato clean do mangá, que é sem muitos balões de conversa e a serenidade dos personagens, fez com que despertasse a vontade de ver o média-metragem. Então ao assistir, fiquei boquiaberto e voltei atrás das palavras que havia enviado ao André…
Finalizando…
Para finalizar esta recomendação, sugiro que você veja primeiramente o anime, e depois leia o mangá.
Arrisco dizer que o nível do capricho dado animação pode ser facilmente comparado à de Demon Slayer, mesmo o estilo dela sendo bem diferente, ambas são de altíssima qualidade e mostram que os animadores não estavam para brincadeira. Talvez uma melhor comparação seja com Violet Evergarden.
Como a publicação do mangá veio depois da animação, nela você encontra alguns detalhes mais aprofundados que, no anime foi um pouco atropelado.
Para mim, consumir nessa ordem faz com que a experiência fique mais completa e você consiga entender melhor ainda tudo que o incrível Makoto Shinkai (e sua equipe, claro) quiseram nos passar com “O Jardim das Palavras”.
E você, já assistiu Kotonoha no Niwa? Caso sim, o que achou?
Caso não, vá assistir!