🔥
Faça como milhares de Otakus, ouça nosso podcast sobre animes e mangás.
Toque aqui para acessar o canal do YouTube!
Análise

Monster, de Naoki Urasawa, é bom? Vale a pena ler o mangá?

Monster se prova, em toda sua complexidade, um suspense psicológico incrível
13 minutos para a leitura

Há alguns meses, eu publiquei aqui no site da Cúpula uma crítica sobre o mangá The Promised Neverland. Esse artigo só foi possível pelo fato de eu ter relido a obra inteira pela segunda vez. O que foi uma experiência maravilhosa. Agora foi a vez de Monster, de Naoki Urasawa.

Muito tempo atrás, eu tive meu primeiro contato com Monster. Para muitos, esse é o auge de Urasawa. E não à toa. A narrativa desta obra é sensacional. Uma trama envolvente e muito bem escrita, personagens cativantes, um mistério interessante e um vilão inesquecível.

Existem poucas histórias que lemos pela primeira vez e, com o tempo, sentimos aquela vontade de pegar para reler. Isso denota que essa narrativa é muito boa. Havia algum tempo que Monster estava na minha lista de releitura. Esse ano, enfim, decidi começar e concluí-la.

Algo curioso é o fato de, mesmo já tendo lido anteriormente, é como se fosse uma primeira leitura. Algumas vezes, esquecemos alguns pontos, o que é normal, mas muitas coisas passam a ganhar um novo prisma, mesmo sendo exatamente as mesmas informações lidas da primeira vez.

Isso muito tem a ver com o período de nossas vidas e as coisas das quais tínhamos conhecimento no momento da primeira leitura. O tempo passa e as coisas mudam. Por mais que o mangá seja atemporal e mantenha suas ideias fixas, nós não. Estamos constantemente em mudança, adquirindo conhecimento e evoluindo.

Por esse motivo, algumas coisas acabam passando despercebido por nós, mas quando voltamos e lemos por uma segunda vez, sempre existe a possibilidade de uma surpresa. E é possível que em uma terceira, quarta e quinta leitura isso também aconteça. Depende de quantos anos, quiçá, décadas possam se passar até que decidamos pegar uma mesma história para reler. E isto é um fato muito interessante.

Um médico e um dilema ético

A narrativa de Monster é muito rica em detalhes. Ao longo de 18 volumes, que foram publicados durante os anos de 1994 a 2001, Urasawa entrega um suspense psicológico inesquecível. Tudo começa em Dusseldorf, uma cidade na Alemanha.

O foco está no Dr. Tenma, um brilhante neurocirurgião japonês em ascensão. Logo de início, já temos alguns pormenores ali que revelam a integridade e o caráter do personagem. Ao mesmo tempo, que também evidenciam a realidade na qual ele está inserido.

E um ponto interessante e, infelizmente realístico da coisa, é o fato do mangá ter uma constância em admitir que tudo no mundo é política. Até mesmo em um hospital que, em tese, deveria existir para salvar todas as vidas humanas, tudo é política.

dr. tenma e seu dilema no mangá monster

Em síntese, essa realidade é denotada por meio das vidas humanas que, segundo a filha do diretor do hospital: “as vidas humanas não são iguais”. Ou seja, quem irá morrer ou viver depende exclusivamente de sua proeminência na sociedade ou do que essa pessoa pode oferecer ao hospital, como uma forma de prestígio, na ideia de arrecadar mais fundos.

Logo de início, partindo deste pressuposto, já pode-se imaginar que o enredo de Monster possui muito potencial. E isto é apenas o começo de uma história épica, porque quando o Dr. Tenma toma uma decisão ética de salvar a vida de um jovem garoto chamado Johan Liebert, em vez de operar o prefeito da cidade, como ordenado por seus superiores, essa escolha desencadeia uma série de eventos que mudam drasticamente a vida do médico japonês.

“O monstro dentro de mim está crescendo”

Desde os primeiros momentos da narrativa de Monster, o autor sempre bateu na tecla da existência de um ser perverso e maligno que assola a humanidade com planos terríveis. Logo, desde sempre essa ideia de um ser do mal sempre esteve presente. Não à toa, para corroborar com essa ideia de medo, o autor inicia a história com uma citação do livro bíblico do Apocalipse. Os versículos 1 ao 4, do capítulo 13:

“Vi, então, levantar-se do mar uma Fera que tinha dez chifres e sete cabeças; sobre os chifres, dez diademas; e nas suas cabeças, nomes blasfematórios. A Fera que eu vi era semelhante a uma pantera: os pés como os de urso e as faces como as de leão. Deu-lhe o Dragão o seu poder, o seu trono e a sua autoridade. Uma das suas cabeças estava como que ferida de morte, mas essa ferida de morte fora curada. E todos, pasmados de admiração, seguiram a Fera e prostaram-se diante do Dragão, porque dera o seu prestígio à Fera, e prostaram-se igualmente diante da Fera, dizendo: “Quem é semelhante Fera e quem poderá lutar com ela?”

Essa passagem da bíblia é uma referência quase que perfeita à Johan Liebert, o grande antagonista da série e, por muitos, um dos melhores vilões de todos os tempos dos mangás. Por mais que seja “óbvio” essa passagem referenciando à Johan, foi uma coisa que eu só percebi em sua complexidade agora, na segunda leitura.

O jovem que não deveria ter sido salvo em Monster

E Johan é o garoto que Tenma decide salvar a vida, renegando todas as ordens que diziam ao contrário. Fazendo isso, ele estava agindo de acordo com seus parâmetros do que era correto e também do que dizia o código de ética e conduta de um médico.

Contudo, ao longo do tempo e de vários capítulos, o jovem cresce e revela sua verdadeira natureza como um manipulador nato e um assassino em série extremamente inteligente e perigoso. E este fato assombra Dr. Tenma pelo resto de sua vida, o fazendo acreditar que ele salvou a vida de um monstro que, agora, ceifa a vida de muitos outros.

Em suma, é a partir disto que a história começa a girar suas engrenagens. E muitos pormenores poderiam ser citados aqui, mas não vale a pena. Não porque é sem nexo, o que não existe nesta história de Urasawa, mas sim porque pode afetar a sua experiência. Então, o melhor a se fazer para entender cada detalhe, é ler o mangá.

johan, o grande antogonista da história

Caçando o monstro que eu ajudei a criar

O ápice da trama de Monster. Após vários anos se passarem e Tenma descobrir tudo de ruim que Johan estava fazendo, ele parte em uma busca intensa e incessante por Johan, já que ele acredita que deve parar o monstro que inconsideradamente ajudou a criar.

Essa perseguição leva o leitor a uma jornada inebriante, conhecendo várias cidades e encontros com uma variedade de personagens altamente carismáticos. E este é outro ponto pela qual o mangá pode ser enaltecido: seus personagens. Urasawa não se limita somente a criar bons vínculos somente com os centrais, mas sim com tudo a sua volta.

a perseguição

É praticamente impossível encontrar um novo personagem e não se conectar com ele por alguma de suas qualidades. A trama de Monster é rica em detalhes, reiterando mais uma vez.

E esses personagens, cada um deles, mesmo os mais distantes, estão conectados de alguma forma com o eixo central da narrativa. Isso é algo simplesmente fascinante. Não é para menos que o meu personagem favorito de toda a história é apenas um coadjuvante.

Os experimentos em seres humanos no Kinderheim 511

O Kinderheim 511 foi um orfanato na antiga Alemanha Oriental, onde uma série de terríveis experimentos psicológicos foram realizados. Coincidentemente, Johan Liebert foi um dos submetidos aos processos durante sua estada lá. Esses experimentos desumanos em crianças caíram por terra quando ouve a queda do muro de Berlim.

Aliás, esse é um tema extremamente profundo dentro do enredo de Monster. Está diretamente relacionado à natureza da humanidade, sobre o bem e o mal. Ademais, o mangá faz questão de enfatizar a ideia da influência do meio. Ou seja, o produto é, nada mais e nada menos, o resultado da força que o ambiente exerce na formação de uma pessoa.

johan e seus ideais

E como um bom mangá de mistério, todas essas mentiras e memórias confusas encobrem tudo, e ao longo dos mais de 100 capítulos, eles se revelam gradualmente. Além do mais, encontrar muito suspense e plot twists é algo normal em Monster, o que corrobora ainda mais para que o leitor fique preso dentro da narrativa que está sendo contada.

Acompanhar a resolução desses mistérios é uma recompensa satisfatória. E ao contrário do que podem imaginar, em momento algum torna-se maçante ou sem sentido. Tudo te mantém imerso na proposta tentadora e viciante de Naoki Urasawa. Se você é adepto a um bom mistério, dê uma chance para Monster. Irá te surpreender, com toda a certeza.

Finalizando a crítica do mangá Monster

Enfim, poderiam ter sido ditas muitas coisas aqui, mas perderia um pouco do real valor que só pode ser encontrado lendo o material original. Aliás, comentar sobre Monster, na minha concepção, é quase como falar sobre algo sagrado.

A sensação foi a mesma quando escrevi o artigo sobre 20th Century Boys, que é outro título do autor. Sempre fica aquela impressão de que deveria ter falado mais ou ter expressado melhor algum ponto da história.

No fim, fazer com que a ideia, como um todo, seja clara, é essencial, e isso é alcançado pelo que foi dito. Para entender os contrastes e nuances na vera, apenas lendo o mangá mesmo.

E quanto ao final, sem spoilers, há quem odeie e quem ame. Em poucas palavras, o autor criou um desfecho dúbio, ou seja, aberto, sem um final definitivo. Fica a cargo do leitor definir, da sua melhor maneira, o que, talvez, tenha acontecido ali.

Em suma, por fim, fica registrado aqui mais uma crítica de mais um título de Naoki Urasawa, esse que é um dos meus mangakás favoritos de todos os tempos.

o final aberto de monster
Compartilhe
Facebook
Twitter
Telegram
WhatsApp

Escrito por

Welerson Silva

Jornalista e Escritor

Youtuber | Escrita cabeçuda

Brasília - DF

Entre na conversa, deixe seu comentário!

Comente abaixo sua opinião sobre o assunto e convide o autor da postagem para conversar!
Ei! Antes de você ir.
Se gosta de animes tanto quanto nós

Conheça nosso podcast sobre animes e mangás no Youtube!

Não se preocupe, ao clicar irá abrir uma nova aba. E você vai poder continuar sua leitura.

Esse site utiliza cookies para melhorar sua experiência. Ao navegar nele você está aceitando nossa política de privacidade.