A adaptação em anime do mangá Pluto, escrito e ilustrado por Naoki Urasawa, considerado o mestre do suspense japonês, finalmente está entre nós. O anime foi anunciada pelo Studio M2, que foi fundado em 2016 pelo fundador dos grandes estúdios Madhouse e MAPPA, Masao Maruyama. Desde então, sete longos anos se passaram. Mas finalmente a espera acabou e a grande Netflix é a responsável pela distribuição do aclamado título.
A propósito, Pluto é uma espécie de reinvenção do universo de Astro Boy, de Osamu Tezuka. É praticamente um spin-off, onde Urawasa remodela, de maneira maestral um dos arcos mais interessantes da história original: “The Greatest Robot in Earth”.
Ao total, o mangá possui oito volumes e o anime da Netflix, oito episódios. Sendo assim, é possível inferir que cada episódio do anime adaptou um volume do mangá. O que levou a cada episódio ter uma duração de quase 1h.
Isso complicou um pouco para algumas pessoas que, ou não conseguem ficar tanto tempo na frente de uma tela, ou mesmo que não dispõe de muito tempo livre.
Contudo, é apenas uma questão de dar play no episódio e focar inteiramente em cada detalhe (que não são poucos) dos eventos que são apresentados para esquecer-se totalmente do tempo e ver que, talvez, 1h não seja assim tanto tempo como parece. Mas claro, isso é mérito da direção do anime e, sobretudo, da narrativa de Pluto, que é altamente convincente e viciante.
Uma onda de assassinatos misteriosos e a introdução de Gesicht
Pluto possui um viés investigativo muito atraente. Se tratando de Naoki Urasawa, esse gênero é introduzido e explorado de uma maneira muito eficiente. Além do mais, você pode perceber essa caraterística em outras obras do autor, como Monster e também 20th Century Boys. Ambas as obras eu já escrevi um artigo aqui para a Cúpula. Dê uma lida. Vale muito a pena.
Toda a imersividade inicia-se quando os sete robôs mais avançados do mundo e ativistas humanos que se aliaram a eles para lutarem por seus direitos são assassinados um a um.
Neste ponto, surge o protagonista do primeiro ato de Pluto, o inspetor Gesicht, que logo descobre que também está em um iminente perigo. Eis então o grande antagonista do anime: Pluto, que é uma derivação do nome do deus Plutão, na mitologia romana. Ele é o deus do submundo e do reino dos mortos.
Uma particularidade muito interessante de Pluto, o que mais para frente eu irei discorrer com mais calma, é a maneira que as inteligências artificiais se comportam dentro deste universo. Embora Gesicht seja um robô, a narrativa apresenta o inspetor como uma pessoa normal, levando uma vida normal. Ele possui uma casa, uma família, um emprego rentável e respeitado.
A personificação do detetive é aparentemente humana, sobretudo, Gesicht permanece sendo apenas um robô. Porém, essa discussão levantada ao longo dos oito episódios acarreta em muitas reflexões e questionamentos curiosos acerca do que acontece nesse microcosmo de Pluto.
As diversas guerras apresentadas em Pluto
Outra marca bem acentuada desse anime são as guerras. Elas vão desde as mais obscuras, norteadas por morte e sangue, até aquelas “menos nocivas”, onde apenas ideias são discutidas e partidos erguidos a fim de defender um ideal. E aqui temos essa dualidade entre aquelas que são a favor dos robôs e aqueles que querem sua erradicação.
Tratando-se de um universo onde a coexistência entre humanos e robôs é imprescindível, era esperado que haveriam divergências de ideias. Mas diferente do que você possa imaginar sobre os robôs, aqui eles possuem um papel fundamental e são tratados quase (senão como) seres humanos. Daí toda a complexidade do assunto.
E como supracitado, não somente os robôs começam a sofrer as represálias, mas também aqueles que firmaram qualquer tipo de aliança em prol deles. No entanto, de qualquer maneira, é interessante analisar como todas essas questões voltam-se para a política.
Também, tudo isso acaba desencadeando as guerras já comentadas acima e, o mais importante e sensível, afetam a vida de inúmeras pessoas inocentes. Há uma cena em particular no anime, talvez no segundo episódio, que mexe demais com o telespectador. Você que já assistiu, provavelmente sabe qual é. Se ainda não viu, deixo aqui em aberto para você ir atrás e presenciar esse momento impactante de Pluto.
O fator ódio e vingança dentro da narrativa
O ódio é um agente importante, uma vez que, basicamente tudo o que acontece ali, é motivado justamente por esse sentimento. E de igual forma, a vingança acaba tomando uma parte de tudo isso e subjugando pessoas e ideias. É difícil comentar mais sobre isso sem ofertar spoilers. Como esse não é o objetivo deste texto, vai ficar apenas nessas palavras.
Francis Bacon foi um filósofo inglês que acreditava que “a vingança é uma espécie de justiça selvagem”. Conhecemos inúmeros casos em que as medidas que deveriam ser tomadas em determinadas situações, acabam não sendo. Às vezes, a injustiça impera e o digno sucumbe perante à maldade.
Dessa forma, a vingança vem justamente para sanar esse “problema” citado por Bacon. Não entremos no mérito de ser certo ou errado. Existem “n” situações, e para cada uma delas uma ótica diferente. Mas aqui em Pluto, vemos como cenários infelizes e decisões pensadas em pura vingança e ódio podem ser danosas a muitas pessoas.
A maneira impactante como Pluto trabalha os sentimentos dos robôs
Robôs podem ter sentimentos reais? Expressar emoções sinceras e genuínas? A resposta para tal questionamento é simples. Claro que não. Mas será mesmo? Pluto aborda e inicia um debate muito magnífico a respeito disso. Ao longo de oito episódios, a ideia de robôs possuírem sentimentos, assim como seres humanos, torna-se cada vez mais expressiva.
A linha é tão tênue que os próprios humanos não conseguem distinguir quem é robô e quem não é. Personagens surgem, são construídos e desenvolvidos pela história e tentam mostrar para nós que ali há algo mais além do que peças mecânicas e fios emaranhados.
Até o final do anime, garanto que você, pelo menos uma vez, acompanhará e sentirá o impacto da vivência de alguns dos personagens, conseguindo compreender o quão grande é o tópico discutido por Pluto. Até lá, contente-se com esta tentativa de definição.
Finalizando a crítica sobre o anime Pluto, da Netflix
Em suma, Pluto é uma obra completa. Simplesmente um oásis em meio a vários outros títulos com pouco ou totalmente sem aprofundamento e expressividade. Eles fizeram um trabalho espetacular com a animação, superando as expectativas.
A dublagem está muito boa, o que é uma ótima sugestão para os que possuem preguiça de ler legenda por mais de 40min. E, por fim, temos a grandiosa trilha sonora.
Pluto é perfeito em todos os aspectos e isso contribui para que seja eleito, se não o melhor, um dos melhores animes deste ano.
Por fim, eu também gravei um vídeo, comentando em mais detalhes, lá para o meu canal do Youtube. Caso queira assistir, vou deixar aqui embaixo:
E você, já assistiu Pluto? Se sim, deixe aí nos comentários qual foi a tua experiência com o anime. Queremos saber a sua opinião sincera.