Você certamente já ouviu a expressão “viva o agora”. Talvez, você também já tenha ouvido aquela de que “o amor está nos detalhes”, ou “o que é valioso para um, pode não ser valioso para outro”. Essa última também pode ser conhecida como “gosto é que nem c*, cada um tem o seu!”. Para mim, foi disso que tratou Shiki Oriori: O Sabor da Juventude.
O filme é uma junção de 3 histórias que juntas somam cerca de 75min de duração. Sendo assim, cada uma tem uns 25 minutos, o que dá praticamente um episódio de anime cada.
Esse formato, à primeira impressão, me deixou com o pé atrás.
Afinal: será que é possível essa obra realmente tratar sobre algo denso, pragmático e profundo como todos os ditados que eu citei acima?
Ou ainda: será que vão conseguir falar sobre o “sabor da juventude” e toda a complexidade que um tema assim necessita para ficar devidamente interessante?
É… posso dizer que Shiki Oriori até tenta, mas não chega lá. Contudo, ainda pode valer seu tempo.
Vou tentar explicar o porquê.
- Ano: 2018
- Diretor: Li Haoling
- Estúdio: CoMix Wave Films (Kimi no na Wa, Tenki no Ko)
- Duração: 75min
- Onde assistir: Netflix
O primeiro contato com Shiki Oriori
Se você, assim como eu, perde mais tempo rolando pelo catálogo da Netflix do que de fato assistindo algo na plataforma, você provavelmente já esbarrou por Shiki Oriori.
Tenho certeza que se você abrir a Netflix agora, mesmo achando que nunca ouviu falar do filme, você vai pensar: “Ahhhh, é esse aqui!”.
Quero dizer que: você já bateu o olho, mas… algo simplesmente não convence você a dar play. No meu caso, acredito ter sido porque nunca ouvi ninguém falar sobre esse filme.
Porém, o Dudi resolveu trazer essa obra para o CineCúpula, que rola quase toda semana no nosso Discord, onde assistimos obras com nossos apoiadores e seguidores. Com isso em mente, resolvi assistir.
E bem, a primeira impressão é que será algo… É, algo.
A escolha para a primeira das três histórias é arriscada. Uma porção de pessoas que estava na nossa sessão de cineminha deixou claro que dropou justamente por conta desse começo.
É uma história sobre um cara que ama um tipo de comida, e usa vários adjetivos pra cacete mesmo, tipo muito para descrever essa sensação, e até mesmo a ação de comer, mas não na vibe Shokugeki no Souma.
Logicamente, há uma mensagem por trás daquela situação. Algo que provavelmente conectará com algumas das pessoas que estão assistindo.
Porém, como não há tempo para fazer um desenvolvimento adequado dos personagens, tudo acaba ficando superficial, e você não engaja de verdade com o anime em si.
Você acaba engajando com a mensagem, mas somente com ela. Então, se você não se conectar com ela (caso nunca tenha vivido nada parecido), você estará começando Shiki Oriori com o pé esquerdo.
Mas, melhora!
O lado bom é que as histórias subsequentes são mais interessantes, e os personagens parecem mais vivos e conectáveis. A própria trama, para mim, foi mais interessante também.
Eu não tinha certeza do que iria acontecer, porque a narrativa estava um tanto quanto dramática, dando a entender que poderíamos esperar um final tanto bom, quanto ruim. E novamente: o foco nessas 2 novas mini histórias é na mensagem, assim como foi na primeira.
O bom é que a mensagem é entregue. Talvez bate diferente em cada um, mas para mim, posso sintetizar em:
- Valorize pequenos momentos que você gosta, pois estes acabam sendo mais valiosos do que parecem. E tem outra ainda: tempos ruins virão, assim como tempos bons.
- As vezes só sabemos o valor das coisas quando as perdemos. Ou ainda: só porque você tem tudo agora, não significa que você seguirá tendo no futuro.
- Atenda suas necessidades, mas seja sincero, amasse o orgulho e jogue no lixo. Ou ainda: a vida nem sempre será como gostaríamos que fosse, e tá tudo bem assim. Talvez ainda: o que for para acontecer, acontecerá.
Todas essas mensagens e reflexões são bem impactantes, e podem virar uma chave na cabeça de quem assiste.
As vezes a gente só precisa de um empurrãozinho para conseguir pensar melhor sobre as coisas, ou até mesmo para mudar nosso estilo de vida.
Por conta disso, acho que Shiki Oriori: O Sabor da Juventude vale a pena ser assistido.
Mas…
O problema é que essas mensagens, por si só, não fazem você sentir
Aqui é o ponto crucial. Provavelmente se fossem 3 filmes separados, trabalhados com o devido tempo e atenção, nós, como espectadores, nos conectaríamos com os personagens. Nos conectaríamos com a história. Portanto, internalizaríamos com mais facilidade todas essas mensagens.
Imagina um filme que compila a mensagem de Belle, A Garota que Conquistou o Tempo e O Tempo com Você, tudo junto. Complicado.
No fim, como tudo acontece rápido demais, e a soma de personagens é muito alta, levando em conta que cada uma de suas histórias tem, em média, nem 30 minutos, fica difícil a gente ser “marcado” por Shiki Oriori.
Veja bem, eu lembro das mensagens. São bonitas. Mas não lembro o nome de nenhum personagem. Não lembro nem o fluxo dos acontecimentos direito.
Pode ser que eu só seja esquecido? Pode… Mas o ponto é que eu lembro de uma coisa muito importante. Talvez a mais importante.
Eu senti nada assistindo o filme. Nadinha.
Não me emocionei, não me angustiei ou senti tristeza, ou sequer raiva, empatia… Zero.
Para mim, obras de arte precisam mexer sentimentalmente com você para marcar. Se não conseguem, apenas serão esquecidas. Somos nossas memórias.
“Um homem morre duas vezes: quando para de respirar, e quando é esquecido”.
Com base nisso, acredito que a expectativa de vida de Shiki Oriori não seja maior do que alguns meses. Talvez dias.
Você provavelmente vai se esquecer de praticamente tudo. Inclusive das mensagens, caso as mesmas não tenham “virado uma chavinha” em sua cabeça, porque aí sim, teria te marcado de alguma maneira.
Finalizando minha crítica de Shiki Oriori: O Sabor da Juventude
A produção técnica é interessante, como esperado do CoMix Wave Films. Afinal, portfólio é de peso por ali. A animação é de qualidade, e os traços são bem realistas e bonitos. Tudo é bem brilhoso, o que casa bem com o teor mais positivo da obra como um todo.
As mensagens do filme são poderosas. Porém, são coisas que, como comentei na introdução, você provavelmente já ouviu falar. Seja vendo outros animes, filmes, séries, ou até mesmo trocando uma ideia com sua vó; o ponto é que Shiki Oriori, como obra, não é nada acima da média. Não há identidade. É esquecível. Principalmente por conta da ausência de vínculo personagem-espectador.
No fim, se Shiki Oriori é sobre “O Sabor da Juventude”, talvez eu esteja enjoado deste sabor por já ter visto em diversos outros lugares que trabalham as mensagens levantadas com maior atenção, qualidade e desenvolvimento.
Na verdade, para mim, ele tira aquele 5,9 que o professor arredonda para 6,0 caso veja algo especial no aluno. Talvez esse 0,1 seja essa virada de chave que levante uma reflexão maneira para você. Por isso, acredito que mesmo com tudo que escrevi, vale a pena você dar uma conferida.
E quem já assistiu: o que acham de Shiki Oriori?