Zankyou no Terror (ou Terror in Resonance) não é bem algo novo, já que é de 2014. Contudo, ainda que não seja novo, sempre vale a pena ver (ou revisitar) obras que não vimos antes, principalmente em prol de uma boa análise.
No meu caso, ele já estava na lista de planejados há anos. Sinceramente, a capa não tinha me chamado muita atenção, a princípio, e quando o coloquei, estava na vibe de assistir só lutinha.
Agora, após assistir, posso tirar melhores conclusões a respeito, porque gosto de gêneros variados. Ultimamente, não tenho estado muito feliz com algumas produções da Netflix (tipo Yasuke, que não vi mas os meninos não curtiram), mas a gente engole algumas e deixa passar. Felizmente, Terror in Resonance não foi só para engolir – foi divertido, mesmo. Tem alguns erros, e vamos falar sobre eles aqui, mas tem uma produção muito boa e cenas de ação muito legais!
Para você que ainda não assistiu, essa é uma boa pedida. Além disso, também acho que é um ótimo anime para iniciantes, porque traz uma narrativa um pouco mais parecida com o jeito ocidental de se fazer história. É pensando nisso que me desfaço dos meus ansiados spoilers. Vou pegar leve hoje, porque acho que merece ser visto (ou não, depende de como você interpretar a minha análise).
- Gênero: Mistério, psicológico, suspense
- Estúdio: MAPPA
- Material fonte: Original
- Episódios: 11
- Página do anime no MAL
Terror in Resonance começa bem, tão bem que eu diria perfeito!
A história é a seguinte: começamos com a Lisa Mishima, uma menina que sofre bullying na escola e aparentemente tem uma vida horrível, se envolvendo com dois caras estranhos e aleatórios.
Só que, (que dedo podre!) os caras parecem estar envolvidos com algum tipo de conspiração muito grande. Lisa, apesar de não morrer, quase é pega em uma grande explosão orquestrada pelos dois. Um deles, o Twelve (ou 12, como queira), salva a Lisa da explosão que eles mesmos criaram. O nome do outro é Nine.
Meu Deus, que lindo (Nine) Twelve
Apesar de, à primeira vista, parecerem inofensivos, estes dois jovens de cerca de dezessete anos são terroristas (uau, senhora óbvia, está no título!). E você acha que depois de Lisa presenciar a cena, sairia incólume? Não, e isso também é óbvio. Eles a chamam para fazer parte dessa bagunça toda.
Ela não sabe o que está acontecendo, e nem a gente, e isso é ótimo: nos primeiros cinco episódios, as informações vão sendo colocadas pouco a pouco, para que você possa juntar todas as peças. Nada é jogado e esfregado na sua cara, o que torna o suspense muito mais gostoso. Afinal, quem são esses garotos? Por que são terroristas?
E é aí que entra o bônus desse começo lindo!
Em uma das últimas críticas que fiz aqui, falando sobre algumas questões que gostei (e que não gostei) em Zetsuen no Tempest, fiz um breve comentário sobre o uso pontual de mitologias e filosofias em obras. Ademais, citei como um exemplo positivo (e acho que grande parte das pessoas concorda) Fullmetal Alchemist. Bem, esse começo de Terror in Resonance também incorpora isso para valer!
Os garotos começam a enviar vídeos antes de explodirem as bombas, e se chamam de Esfinge (guarda esse nome aí)! Só que os vídeos não são simples ameaças: são vídeos com charadas. E adivinha? As charadas são baseadas em mitologias, a fim de que, com o resultado, descubra-se o lugar das bombas.
Alguma vez você já ouviu a charada: “qual é o animal que anda em quatro pernas de dia, duas de tarde e três à noite?”
É o homem! Tã-dã, você acertou! Mil reais! É isso aí, eles usam charadas. O diferencial, no caso, está na interpretação delas, que é ligada a uma questão filosófica-mitológica. No caso do primeiro vídeo, eles modificaram essa charada aí de cima, ligando-a à história de Édipo e da Esfinge.
Se você não se lembra do Édipo, é aquele cara que ficou apaixonado pela mãe (sem saber que era mãe), e matou o pai (sem saber que era o pai). E, ao se encontrar com a esfinge na cidade de Tebas, Édipo recebe uma charada, que foi essa aí de cima. Eles utilizam isso no anime, e, cara, fica muito legal.
Nem todos os aspectos são flores…
Eu esperava que fossem. Afinal, fui surpreendida positivamente pelo começo. Venho percebendo que a grande dificuldade de todo mundo é como fechar os questionamentos. Conversamos sobre isso no cast de Shingeki no Kyojin, falando sobre como é difícil fechar uma obra e segurar toda a marimba que você jogou no começo.
Se essa obra tem 700, 800, 1000 capítulos, a gente entende. Mas esta aqui tem 11 episódios, e, fora isso, é uma obra original; ou seja, feita inteiramente como anime, sem sair de nenhuma outra fonte.
Eu não sou roteirista, e imagino que seja difícil. Meu ponto aqui é que algumas situações pareceram fora do lugar, e um pouco aquém do que havia sido mostrado bem no comecinho. Para começar, como exemplo, posso falar do que apresentei, sobre a mitologia: no meio, eles se desligam um pouco daquela linha lógica, e buscam outros caminhos. Este foi o MESMO problema que encontrei em Zetsuen no Tempest, que descarrilhou um pouquinho mais rápido que Terror in Resonance.
É possível que estivessem sem ideias dentro do tema “Édipo”, e passaram a outros, como “Atena”. Foi uma saída ok? Foi. Mas poderia ser melhor. Sinto como se, no meio da trama, eles tivessem pensado: bem, poderíamos fazer isso agora, não é? Dependendo do gênero e da demografia, uma mudança brusca de posições, de temática ou de cenário podem custar caro.
Os personagens da trama de Terror in Resonance
Então, os personagens: Twelve e Nine (os dois que movem a trama e os ataques terroristas) são muito interessantes.
Vemos que existe um passado traumático escondido ali, e que, de algum jeito, tem a ver com os ataques que eles estão realizando. No entanto, apesar de eu entender que são personagens planos, acho que foram mal explicados ao longo da história.
Ainda mais posso dizer com relação a Lisa! Achei que, como ela tinha uma vivência diferente dos dois, poderia contribuir ativamente para mudar a concepção dos dois sobre vida, confiança e esperança.
Tentaram trazer isso, mas a figura dela foi inexpressiva para o fechamento dos temas abertos desde o começo. O que, em termos mais simples, significa que a personagem dela não serviu para nada além de passar perigo (novamente a dificuldade de escrever personagem feminina direito, nada de novo sob o sol).
Ainda, para adicionar, temos a antagonista, que surge lá pelo episódio seis ou sete, cujas motivações eu simplesmente NÃO CONSEGUI ENTENDER. Se você assistiu, e quer me convencer, manda brasa aí nos comentários e deixa tua defesa. Entretanto, a mulher só surgiu para ser um estereótipo vilanesco sem qualquer aprofundamento, o que não combina com a proposta do anime.
Sempre deixando claro: não existe problema na construção de arquétipos nas obras. A questão não é essa! Afinal, temos obras como Akudama Drive, que se baseia e se funda nos arquétipos, e ainda assim entrega algo de muita qualidade.
Neste caso, de Zankyou no Terror, estou falando de um anime que entregou, de cara, um suspense de alta qualidade misturado a uma promessa de desenvolvimento individual e lógico dos personagens.
The man of the match
Quem, de fato, movimentou a trama foi esse cara aí: Shibazaki Kenjirou. O cara simplesmente personifica o ideal de um detetive, sendo muito mais relacionável (queria usar relatable, porque não encontro palavra igual em português) do que todos os demais personagens.
Shibazaki é inteligente, mas sua inteligência é compreensível; sua linha de raciocínio, ainda que muito rápida, faz todo o sentido para a trama; seu background talvez tenha sido mais desenvolvido que os demais personagens. E, apesar de ser o detetive na história, para descobrir quem de fato são as Esfinges e entender o que ocorre, ele não é o centro.
Se tornou, assim, um desses casos em que a gente gosta mais do personagem secundário que do principal, mas justamente porque o secundário tem motivações mais palpáveis, mais explicadas.
Não me entenda mal: não significa que os dois personagens principais não tiveram uma certa explicação a respeito de seu passado. Só que, pessoalmente, não acho que foi suficiente, principalmente considerando o final.
Um breve comentário sobre o final (sem entregar nada)
Existe muita expectativa que nós, espectadores, colocamos no final. Apesar de nos acharmos muitas vezes, burros (e é o caso, porque não conseguimos descobrir o que vem a seguir), também conseguimos formular algumas futuras possibilidades dentro de uma trama. E, em alguns casos, formulamos uma melhor possibilidade em detrimento de outras.
A tentativa de roteiro de chocar o espectador é, em muitas vezes, bem-sucedida. Usar de um recurso não esperado ou quebrar uma certa esperança pode causar o sentimento certo, na hora certa. Contudo, não sei bem se o final me agradou, apesar de ser uma escolha ousada e com intencionalidade de “chocar” o espectador. Tudo acontece tão rápido nos finalmentes que não dá tempo de entender as motivações, as necessidades ou aspirações dos personagens.
Vi, na internet, muita gente questionando sobre uma segunda temporada. Sinceramente, eu não acho que precise. Tudo terminou, e terminou fechado. Só que nem sempre terminar fechado é uma coisa boa. Depois de tantas explicações detalhadas a respeito do método realizado nos ataques “terroristas”, deixar pontas soltas no final destoa um tanto do que se propõe primeiramente.
Não, não foi ruim; só não disse tudo. Ao fim, alguns personagens parecem não fazer sentido, e não entendemos o porquê de estarem onde estiveram e de tudo acontecer como aconteceu. Dissipa-se, então, o forte sentimento de conexão dos primeiros episódios, em detrimento de cenas para “chocar” o espectador.
Não me senti chocada; na verdade, não senti nada.
Finalizando a crítica de Terror in Resonance
É bom? É. Apesar de tudo o que eu falei, Terror in Resonance é lindo, tem cenas de ação muito bem trabalhadas e um suspense que vai te prender. É ótimo para maratonar! E por que as críticas? Bem, o meu trabalho aqui é criticar! Terror in Resonance tem pontos bons e pontos ruins, basta que você escolha para quais olhar.
Assim, um dos pontos mais positivos aqui, a meu ver, é a animação, que tem muitos sakugas lindos! Adoro o trabalho de character design também. Para você, que não conhece sakuga, falo de um momento específico no qual a animação desponta e podemos ver o trabalho de movimento mais fluido. Você pode ver alguns sakugas de Zankyou no Terror no site Sakuga Booru.
E, ainda que tenha um final não tão satisfatório, vale a pena assistir! É bem pequeno e com certeza vai valer o seu tempo. Em uma tarde de sábado, juntando com um pessoal legal, dá uma boa diversão, e com certeza um suorzinho na mão em um episódio ou outro. Eles deixam alguns cliffhangers que te fazem querer continuar assistindo!
Além disso, apesar de todos os pontos que comentei, há uma mensagem deixada ao final, que é muito clara: tenha esperança. Talvez não seja a mesma para você, mas tudo é questão de interpretação. No geral, vale a pena assistir. Então vai lá e depois me diz o que achou aqui! Para finalizar, vou deixar uma das coisas mais lindas desse anime: a música da ending, cantada ao vivasso pela Aimer. Lindo!