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Análise

Entrevista com Fernando Huega, mangaká brasileiro, autor de RHAZEN

Entrevista com Fernando Huega, mangaká brasileiro que já esteve em editoras japonesas, autor de RHAZEN
16 minutos para leitura

Além de ler essa entrevista, ouça nosso podcast com o autor Fernando Huega com ainda mais detalhes dessa jornada.

Mais uma entrevista aqui da Cúpula do Trovão! Dessa vez com Fernando Huega, autor do mangá RHAZEN que já esteve dentro de diversas editoras no Japão e é ouvinte do CúpulaCast! Pois é! Ele nos chamou pelo email, simplesmente elogiando nosso trabalho e comentando que é mangaká. Mas nós, obviamente, ficamos super felizes ao saber que temos um mangaká real que escuta e curte nosso cast. E, também obviamente, resolvemos chamar ele para conversar um pouquinho… Afinal, quem em sã consciência não gostaria de saber mais sobre o mercado editorial Japonês!?

Gravaremos um podcast com o Fernando assim que possível, porém, por hora, fiquem com esse artigo-entrevista para conhecer ele um pouco melhor e entender como foi a jornada dele até lançar oficialmente RHAZEN.

Deixem qualquer pergunta aí nos comentários que traremos as melhores para o podcast!

1) Segundo o site butantagibicon, você começou sua carreira vendendo fanzines em eventos pelo Brasil. Pode nos contar um pouco mais sobre essa fase da sua vida?

R: Eu tinha por volta de 15 anos de idade nesta época. O único mangá que tinha e havia lido até o momento era o volume 5 de Evangelion em japonês. Aquilo tinha me deixado alucinado para criar meu próprio mangá.

Vi o anúncio em uma revista que haveria um evento de fanzineiros em uma cidade próxima a minha, então eu criei a história e desenhei em 2 semanas e levei para esse evento. Eu era o desenhista mais novo no local, e fui o único e esgotar todos os volumes que levei, não sobrando nem a minha própria cópia, isso foi uma experiência muito marcante.

2) Imagino que você já sabia faz um tempo que mangás eram sua paixão. Mas qual foi o gatilho que levou você a querer trabalhar com isso?

R: Desde os 8 anos de idade eu já sabia que queria ser mangaká. O primeiro mangá que eu vi e peguei na mão foi Evangelion volume 5 em japonês como comentei antes, que foi a primeira coisa que comprei com o dinheiro do meu salário na vida, aos 14 anos.

Porém o real gatilho foi voltando para o Brasil depois da primeira vez que fui ao Japão.

Estava dentro do avião, minutos depois de decolar, meu coração estava em chamas, a minha boca doía, pois eu não conseguia parar de sorrir. Naquele momento eu ficava repetindo na minha cabeça: “eu nasci pra isso, eu preciso ser um mangaká de verdade”.

3) Ainda no site butantagibicon, está descrito que seu mangá “chamou a atenção das editoras japonesas”. Pode nos contar com mais detalhes como foi esse acontecido?

R: Eu já havia ido ao Japão duas vezes, tinha alguns contatos em algumas editoras. Sempre que eu fazia algum novo trabalho enviava para eles. Quando eu lancei meu mais recente trabalho, RHAZEN, no Brasil, enviei para eles uma prévia em Japonês, e fui convidado por 6 editoras para apresentar o projeto lá.

Aproveitando que eu teria que visitar essas 6 editoras, acabei marcando uma reunião com outras 6, assim consegui mostrar meu trabalho nas maiores editoras do mundo.

Fiz a tradução do volume todo e de vários detalhes do projeto, contratei uma intérprete em Tokyo, preparei vários materiais de apoio para as apresentações, usei o dinheiro da venda do lançamento do RHAZEN e investimentos feitos por amigos muito queridos e fui para o Japão, ficando lá de dezembro de 2019 até março de 2021. (Ao chegar na China eu descobri sobre o coronavírus e o tempo todo que estive no Japão, foi extremamente tenso com o início da pandemia. Muitas aventuras e tretas auhauhauh).

4) Nos fale um pouco mais sobre seu mangá, RHAZEN. Se importaria em nos contar um pouco sobre a história?

R: Resumindo bastante: Takuto Horaiji é um rapaz que após uma série de incidentes bizarros, descobre ter dentro de sua mente um grande guerreiro de outra dimensão, chamado Rhazen. Como se isso não fosse incrédulo o suficiente, Takuto precisa se infiltrar em um torneio de lutas até a morte chamado Black Market e encontrar Hao, o homem que colocou Rhazen injustamente na prisão. 

5) Quais são as histórias nas quais você mais se inspirou para criar RHAZEN?

R: Sempre adorei “shonen de porrada e torneios”. Yu Yu Hakusho, por exemplo. Mas todos eles me decepcionavam pela falta de seriedade e sensação de perigo, pois todos os personagens venciam, sobreviviam ou eram revividos, e principalmente tiravam superpoderes do nada e depois de estarem além dos limites.

Isso sempre me irritava muito, sempre me questionava quando iriamos ver um mangá/anime de lutas e torneios mas que fosse sério e assustador. Já que a resposta nunca veio, eu resolvi fazer com minhas próprias mãos.

6) E os autores? Quais são suas maiores inspirações para RHAZEN?

R: Ogure Ito “Oh Great “ (Air Gear), Inio Asano (Oyasumi Punpun), Yoshiyuki Sadamoto (Evangelion) e Tite Kubo (Bleach).

7) Num vídeo do canal butantagibicon, você descreve como foi ótimo o começo do projeto, e como tudo dava certo. Porém, vocês tiveram um período complexo não muito depois de o projeto começar. O que exatamente aconteceu? Poderia compartilhar conosco?

R: Resumindo bastante, uma das pessoas do time não estava fazendo seu trabalho, não cumpria com o combinado. Enquanto todos davam o sangue, esta pessoa estava praticamente brincando, e atrasando nosso trabalho.

O estresse e ansiedade causados por essa pessoa fizeram com que tudo atrasasse e o projeto saísse do trilho. Como estávamos trabalhando com dinheiro de investidores privados, eu tinha um valor pequeno e zero margem de erro para trabalhar. A melhor solução foi ‘demitir’ todos os contratados, e tocar tudo sozinho.

O problema é que na demissão usei o dinheiro que seria para imprimir o mangá para pagar os assistentes. Isso me deixou sem dinheiro para o projeto e sem nenhum dinheiro para os gastos diários.

Nessa época eu me dedicava 24hs por dia ao mangá e não estava mais trabalhando. Assim iniciou a queda em série de dominós, primeiro fiquei sem nenhum dinheiro, depois as contas atrasavam, nome sujo, cartões bloqueados, depois começou a faltar o básico, eu comia muito pouco e depois passava dias sem comer.

Perdi mais de 20kg muito rápido. Não queria ser um fardo para ninguém, e acabei escondendo isso de todo mundo, ficando trancado dentro do estúdio.

8) Todavia, no fim, você deu a volta por cima, e conseguiu um investimento que viabilizou o lançamento do projeto. Nos conte mais dessa parte da jornada.

R: No dia mais escuro de todos, eu não consegui dormir por conta da fome, sabia que não tinha nada na cozinha e a geladeira ficava até desligada, mas mesmo assim eu levantei para dar uma olhada. Quando cruzei o estúdio indo em direção a cozinha, eu caí de joelhos.

Assim que eu caí, percebi que estava fraco por conta da fome, juntei aos mãos e comecei a conversar com Deus, chorando. Não sou religioso, não sigo nenhuma religião, mas acredito em Deus. Comecei a pedir forças, só queria ficar forte para continuar o mangá, ficava repetindo a mesma frase: ‘Deus me ajuda por favor, Deus me ajuda por favor’, acabei dormindo no chão, sem perceber.

Quando acordei, liguei para minha irmã, contei pra ela o que estava acontecendo e pedi ajuda. Ela ficou chocada ao ver como eu estava, me emprestou um cartão e fui imediatamente comprar comida. Dois dias depois um dos meus melhores amigos no mundo, chamado Kan, me ligou. Ele perguntou sobre o mangá, e perguntou porque eu ainda não havia lançado, tentei dar uma desculpa mas ele me convenceu a explicar direito o acontecido.

Ele disse que ia falar com um outro amigo nosso chamado Teppei e horas depois do Kan ter falado com o Teppei, Kan mandou uma mensagem e perguntou:

“Quanto você precisa para realizar o seu sonho?”.

Não entendi na hora o que aquilo queria dizer, ele disse que eles iriam me ajudar, mas eu não imaginava como, pois eu devia 37 mil reais ao investidores, precisava de 26 mil para a impressão do mangá e transporte, estava devendo horrores no banco, contas atrasadas e prestes a ter meu apartamento tomado pelo banco. Juntando tudo, na época, o valor aproximado era de 80 mil reais. Como iriam me ajudar?

Dois, três, dez, nada disso poderia me ajudar. Estava em um buraco sem fim. Dias depois, Kan e Teppei me mandam mensagem dizendo:

Nós vamos enviar 2 milhões de yens para vc.

Eu li essa mensagem umas cinquenta vezes, e não entendia, então e-mails de bancos internacionais começaram a surgir na minha caixa postal dizendo que haviam ‘remessas internacionais de dinheiro vindo para minha conta, no valor de 80 mil reais’. Era muito surreal.

Quando todo dinheiro chegou na conta, por mais grato e feliz que eu estava, não me gerava nenhum alívio, afinal o mangá não estava pronto, nem impresso, nem lançado. Mas após quitar todas as minhas dividas, ter deixado tudo pago e certo eu havia me tornado o ser humano mais forte e implacável do mundo.

O grito de vitória e alívio só vieram meses depois, quando eu lancei o mangá em um evento no Sesc em Catanduva, mais de mil pessoas entre familiares, amigos, alunos e o público. Das 2 mil cópias que eu imprimi, vendi mais de 500 no dia, além de camisetas e adesivos que esgotaram.

Sucesso!

O evento foi lindo, haviam cosplayers vestidos de personagens do RHAZEN, haviam jogos interativos para apresentar o universo RHAZEN para os leitores. A banda Wasabi tocando hits de músicas japonesas, e muitas outras atrações, mas o grande momento foi o meu discurso na frente de todos.

Antes de subir no palco, um grupo de Taiko (tambores japoneses) se apresentou para criar o clima para minha entrada. Quando eu subi no palco, segurando as lágrimas, eu me conectei com o meu eu de 8 anos que iniciou o sonho de ser mangaká, o meu eu de 14 anos que juntou moedas trabalhando para comprar seu primeiro mangá, ao meu eu de 16 anos que lançou e esgotou seu fanzine, o meu eu de 25 anos que colocou todos nos trilhos voltando do Japão. Todos eram um só, e eu estava lá, vendo a maioria das pessoas que eu mais amo no mundo de pé, e chorando, batendo palmas para mim.

Eu fiz um breve discurso, pois não havia mais forças por ter passado vários dias sem dormir seguidos, mas no fim, após agradecer, eu fiz uma reverência, em agradecimento a Deus e a todos que me ajudaram, e enquanto estava lá, abaixado fazendo minha reverencia, ouvindo todos gritando e vibrando, eu respirei fundo, completamente arrepiado e disse em voz alta para mim: ‘Você conseguiu!’

9) Tendo em vista que a criação de um mangá requer uma esforço tremendo para captar o público, onde você procura inspiração em momentos de indecisão, tanto pela parte da historia quanto para criação de personagens?

R: Sei que é bem bizarro e surreal, mas nunca tive problemas ou bloqueio em criar, é sempre tudo muito fluido, natural, visceral e rápido. 

10) Quais novidades podemos esperar sobre RHAZEN (ou de qualquer projeto que Fernando Huega esteja envolvido)?

R: Estou trabalhando em um projeto para uma editora do Japão, e paralelo a isso o volume 2 de RHAZEN.

11) Caso alguém queira adquirir RHAZEN, onde essa pessoa deveria ir?

R: No site oficial: www.rhazen-official.com, ou chamando no inbox do instagram no @rhazen_official.

volumes de rhazen empilhados para venda numa mesa
Acessa lá e garante agora mesmo o seu!

12) E onde o pessoal pode acompanhar você e seu trabalho?

R: @rhazen_official.

diversos personagens de rhazen com protagonista centralizado
Imagem promocional do mangá RHAZEN

Finalizando a entrevista com Fernando Huega, autor de RHAZEN

Uau. Me emocionei real lendo a resposta da pergunta número 8. Na verdade, eu juro que chorei. Obrigado por compartilhar isso comigo e com os leitores, Fernando. Não deve ter sido fácil, mas que bom que hoje estamos aqui, todos juntos e RHAZEN publicado!

Mas, enfim, era isso gente. Espero que tenham curtido conhecer um pouco mais do trabalho do Fernando. Eu mesmo já tive a chance de ler o volume 1 da história dele, e achei bastante interessante. Tô empolgado para ver o restante dessa história (ainda mais por ser um mangá brasileiro!).

Fiquem ligados para quando sair nosso episódio do CúpulaCast com o Fernando. Será irado demais.

Abraços!







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Escrito por

André Uggioni

Co-Fundador

Host do CúpulaCast

Criciúma - SC

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