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Análise

Entrevista com Camila Poszar (Cah Poszar), quadrinista brasileira

Entrevista com Camila Poszar (Cah Poszar), quadrinista brasileira
15 minutos para leitura

Em 2020, postamos um texto bem bacana aqui na Cúpula que fala sobre mangás brasileiros, e, graças a ele, conseguimos contato com a Camila Cardoso Poszar (que é também conhecida como Cah Poszar), que é ilustradora, designer e quadrinista aqui no Brasil.

Atualmente, ela trabalha na Maurício de Sousa Produções, desenvolvendo guias de marca dos personagens da Turma da Mônica e derivados.

A autora comentou lá no artigo, e a Cúpula resolveu entrar em contato para ver se conseguiria uma chance de conversar com alguém que não só trabalha como quadrinista no Brasil, mas alguém que até mesmo já esteve dentre os 15 melhores mangás brasileiros!

Uma de suas obras, intitulada “A Torre”, conquistou o Top 15 do Brazil Manga Awards da Editora JBC no ano de 2016 e conquistou também a 2ª colocação no Prêmio Literário Nikkei do Bunkyo do mesmo ano.

Aproveitando a chance, a Cúpula convidou a autora para falar um pouco mais sobre ela mesma, sobre sua carreira, sobre suas obras e também sobre o mercado editorial brasileiro!

Ficou muito informativo! Leiam!

Caso ainda não conheça a autora, e quer conhecer um pouco melhor antes de entrar na entrevista, sinta-se à vontade para visitar o site oficial dela clicando aqui!

Sobre Camila Poszar, ou Cah Poszar

1) Primeiro, um pouco sobre a Camila. Você já se envolve com quadrinhos há mais de 12 anos, certo? Como você entrou nesse mundo dos quadrinhos? Quais foram suas inspirações?

Cah: Isso! Eu participo de feiras de quadrinhos com meu trabalho autoral desde muito cedo, quando ainda era adolescente. Eu sempre gostei de desenhar na verdade, aí então com a chegada em peso dos mangás no Brasil nos anos 2000 foi paixão à primeira vista, e logo passei a criar meus próprios mangás também.

Como qualquer criança que cresceu na época, minhas principais influências foram Sakura Card Captors, Samurai X, Fullmetal Alchemist e similares.

2) Hoje você trabalha como designer, na Mauricio de Sousa Produções, fazendo guias de marca dos personagens da Turma da Mônica. Poderia explicar com mais detalhes o que é feito, para podermos entender melhor seu trabalho?

Cah: Sempre que um produto da Turma da Mônica é lançado ou produzido, ele precisa de ilustrações e outros elementos que o deixe interessante, além de seguir as diretrizes dos personagens e da marca, e é isso o que um Style Guide (ou guia de marca) é, um conjunto de elementos como ilustrações, backgrounds, paleta de cores, ícones e estampas, produzidos especialmente para aqueles produtos ou ações, sempre seguindo as diretrizes da marca e também as tendências fashion de mercado no momento.

Todos os anos são lançados vários guides diferentes, cada um para suprir uma necessidade diferente dos clientes ou ainda seguindo as tendências de mercado. Posteriormente esse guides são aplicados em todos os tipos de produtos, como brinquedos, roupas, material escolar, roupa de casa, beleza e até alimentos.

Entrando na parte “quadrinista“…

3) Você é, além de designer, quadrinista. Para você, como é ser quadrinista aqui no Brasil? Quais as principais dificuldades? Como é o apoio das editoras para as autoras e autores?

Cah: Os quadrinhos, pra mim, sempre foram como um segundo emprego, ainda não é viável viver apenas da produção de quadrinhos autorais aqui, mas é sim possível ter uma boa renda complementar. Além disso, quadrinhos são uma paixão minha, mais do que apenas trabalho.

Na realidade eu gosto demais da área de licenciamento de personagens, e acho que os quadrinhos, ou o ato de contar histórias é diretamente complementar a isso, eu meio que não saberia viver sem uma coisa ou outra. A principal dificuldade hoje com certeza é encontrar um equilíbrio de tempo de produção, conseguir trabalhar no emprego fixo e ainda ter forças pra tratar dos meus projetos pessoais no fim do dia.

As editoras têm demonstrado um particular interesse por obras nacionais no último ano, o que é realmente fantástico, o mercado formal está finalmente olhando para os artistas do Brasil e vendo seu potencial, tanto criativo quanto mercadológico. É a primeira vez em muito tempo que isso acontece e que outros fatores também estão colaborando para o interesse em material interno.

Posso dizer que estamos vendo o começo de um movimento muito interessantes aqui no Brasil com a JBC, a Conrad e também a Dark Side e etc. Estou bastante otimista.

Sobre a “Shoujo Bomb”, projeto com colegas quadrinistas…

4) Aprofundando um pouco em um dos seus projetos envolvendo quadrinhos, temos a Shoujo Bomb, que é um quadrinho shoujo de destaque no Brasil. Gostaríamos de saber como você conheceu as garotas envolvidas nessa coletânea. Como o projeto se iniciou?

Cah: Todas as integrantes do projeto meio que já se conheciam ou eram amigas, algumas de longa data, outras de momentos mais recentes, todas frequentamos os mesmos espaços, sejam físicos ou virtuais voltados a quadrinhos, a ideia de fazer algo em conjunto sempre foi bastante interessante, até que durante uma CCXP, alguém finalmente resolveu dizer “Por quê não?”. E assim nasceu a Shoujo Bomb.

logo do projeto shoujo bomb de camila poszar

5) Ainda sobre a Shoujo Bomb. Este projeto superou bastante a meta prevista por vocês, né? Bateram 150% da meta, alcançando aproximadamente 20 mil reais. Incrível! Como foi ver um projeto de autoria sua (com suas amigas) ser tão amado e apoiados por fãs pelo Brasil inteiro?

Cah: Foi incrível!! O primeiro projeto do gênero a ir tão longe, e fazer parte disso foi fantástico!! No entanto eu acredito que isso só aconteceu por causa da união de todas as autoras, cada uma de nós movimentou a sua fanbase individual para atingir esse objetivo em comum, sem isso, sem o trabalho em equipe, nada teria acontecido e não teríamos ido tão longe.

shoujo bomb capa com diversas meninas

Veja a Shoujo Bomb no Catar.se!

Sobre as obras da Cah Poszar…

6) Agora, mais sobre a Camila! Sua obra, “A Torre”, ficou no TOP 15 no Mangá Brasil Awards. Como funciona esse concurso, poderia explicar? E como foi a sensação de estar com sua obra dentre os 15 melhores títulos do país?

capa do mangá brasileiro a torre de cah poszar

Cah: Esse é um concurso organizado pela Editora JBC a cada período de tempo, onde artistas brasileiros podem mandar suas obras de capítulo único para serem julgadas, dentro das diretrizes daquela edição do concurso, claro, e no fim as melhores são publicadas em um livro. É um concurso muito legal, principalmente como porta de entrada pro mercado.

Foi muito legal participar desse concurso e com certeza me abriu muitas portas na época!

A opinião da Cah Poszar sobre mangás digitais…

7) Você trabalha com publicação de quadrinhos físicos, mas também de digitais! Qual seu pensamento sobre a digitalização dessa mídia aqui no Brasil por parte das editoras? Acredita que o formato seguirá o de mangá, ou será algo mais para webtoon (no que tange às características de estrutura e paginação)?

Acho que é a oportunidade perfeita de atingir ainda mais pessoas, pois com o digital não se tem mais a barreira de ter que ir até um lugar específico fazer a compra ou esperar o produto ser entregue na sua casa, você tem acesso ao acervo durante 24 horas por dia, 7 dias por semana, além disso com o digital acaba não se tento a necessidade de diversos processos que encarecem o material, o que o torna ainda mais acessível em questão de preço também, assim ele acaba muito mais barato que um quadrinho físico.

No caso dos mangás é como se os digitais fossem hoje o que os antigos “meio tanko” foram, aqueles mangás pequenos, com menos páginas e baratinhos. Hoje é completamente inviável voltar a esse formato, mas com o digital, temos a chance de criar um material bastante acessível e barato!

Em questão de formato, no sentido de leitura mais parecida com uma página de quadrinhos padrão ou um webtoon, eu acredito que iremos ter as duas coisas, uma não invalida a outra e vai depender apenas do que o autor espera dizer com a sua obra.

Os dois formatos podem ser explorados dependendo do objetivo do projeto. Inclusive, é bastante natural que um formato seja usado para gerar o outro caso exista uma necessidade de adaptação de projeto, o que é extremamente viável e até esperado, e na realidade, tem acontecido bastante atualmente.

Sobre o mercado editorial brasileiro…

8) É evidente que ainda é muito presente na comunidade otaku o constante debate sobre “mangá ser caro” aqui no Brasil. Nós aqui da Cúpula concordamos, em partes, com essa afirmação do povo.

Porém, assim como a maioria das pessoas, nós desconhecemos o processo editorial como um todo. Não fazemos ideia do quão burocrático ou custoso é fazer quadrinhos aqui, tanto digital quanto fisicamente. Qual seria o fator, na sua opinião, que mais “encarece” essa mídia por aqui?

Cah: E é aqui que posso aproveitar e dizer que os quadrinhos digitais estão vindo para resolver muitas questões no sentido de preço, mas voltando a pergunta original, existem vários pontos que precisamos compreender da cadeia de produção editorial para responder a essa pergunta, uma das principais é o fato do Brasil quase não produzir papel, somos sim um dos maiores produtores de celulose, mas esse material é todo exportado, e transformado em papel fora do país, e então posteriormente vendido de volta para nós, já transformado em papel, ou seja, pagamos em dólar por papel, e sobre preço de dólar, acho que nem preciso comentar.

Toda a parte de licenciamento de histórias, de personagens, etc também é negociado em moeda estrangeira, o que ajuda a aumentar os custos. Além disso, todos os integrantes dessa cadeia precisam ter um retorno, então aí temos ainda a gráfica, o distribuidor, a loja que vende o produto final para o consumidor, todos esses também precisam de uma fatia do valor de capa do quadrinho.

E não para por aí a situação do editorial brasileiro…

E para piorar tudo, estamos no meio de uma crise de distribuição de material, que por sua vez gerou uma crise editorial. Pois caso não saibam, a distribuição de material físico no Brasil é feita por um monopólio. Olhando a cadeia toda, fica fácil identificar a questão.

Voltando ao digital, isso também não quer dizer que ele será gratuito, ainda existem os custos da editora, licenciamento, adaptação e etc, mas com certeza são custos muito menores que o de um quadrinho físico.

Voltando para as obras da Camila…

9) Imaginamos que seus 3 quadrinhos sejam quase como filhos, mas você conseguiria eleger um deles como seu favorito? Ainda, qual deles, na sua opinião, gerou em você maior evolução profissional nessa área?

Cah: Em questão de favorito, para os artistas em geral, o filho mais novo é sempre o favorito, no meu caso o mangá que criei para a Shoujo Bomb, The Moon Witch.

página solta do mangá moon witch
Página de The Moon Witch

No entanto o que mais me trouxe evolução profissional foi sem sombra de dúvida Teerra & Windy, que também tem um lugar muito especial no meu coração.

Outra obra dela abaixo!

the little good wolf de cah poszar

10) Existe uma previsão para Teerra & Windy estar saindo digitalmente pela JBC? Além disso, está trabalhando em algum novo quadrinho hoje em dia? Caso sim, se importaria em nos dar um spoilerzinho do que está para vir?

Cah: A previsão de lançamento da versão digital de Teerra & Windy é para o mês de Agosto agora, inclusive na última live do JBC Bits, foi confirmado isso.

Nesse momento estou trabalhando em vários outros projetos, mas o que posso contar é que teremos muitas outras novidades inéditas de Teerra & Windy!

11) Por fim, onde o pessoal pode te encontrar, Camila? Redes sociais e tal. E também, claro, onde e como podem encontrar e comprar suas produções (e co-produções)?

Por causa da pandemia, esse ano infelizmente não estarei participando presencialmente de eventos, mas vocês podem me encontrar nos seguintes links:

Site oficial da Camila: clique aqui!

Facebook da Camila: clique aqui!

Instagram da Camila: clique aqui!

Os meus quadrinhos vocês encontram na minha loja online!

Finalizando a entrevista com a Camila Poszar (Cah Poszar)

Foi uma honra poder entrevistar uma renomada quadrinista brasileira. A ideia aqui na Cúpula é, e sempre será, dar o maior espaço possível para autores nacionais poderem se apresentar e falar sobre seus trabalhos.

Aqui queremos fomentar uma comunidade com orgulho de suas raízes, e também, queremos mostrar para os brasileiros que temos sim bons mangás brasileiros!

Deixamos aqui também nosso agradecimento à Camila Poszar por nos dar essa chance, e também por ter sido tão aberta e simpática. Obrigado!

Por fim, fiquem ligados que teremos mais uma coisinha especial saindo com a participação da Camila (se é que já não saiu, vai saber).

Ademais, o que você achou dessa entrevista?

Comenta aí em baixo o que achou!

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Escrito por

Cúpula

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