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A Sign of Affection (Yubisaki to Renren) chamou a minha atenção já em mangá. Em tradução livre, “Um Sinal de Afeto”, o mangá de Morishita tinha elementos que normalmente chamam a minha atenção: protagonista com deficiência e romance adulto.
Quanto ao romance adulto, é porque eu provavelmente sou adulta. Contudo, não sou PcD (pessoa com deficiência), mas acho fascinante ler histórias que apresentam outros pontos de vista.
Inclusive, já comentei aqui sobre Ranking of Kings (sucesso total, que tem um protagonista surdo que quer ser rei), sou uma grande fã de Koe no Katachi (que tem uma protagonista surda), e me apaixonei pela personagem Woo Young-Woo (a advogada extraordinária com TEA – transtorno do espectro autista).
Todas essas histórias me cativaram muito. E nem é sobre romantização das dificuldades (não fazemos isso aqui!), mas sobre mostrar o mundo de maneiras diferentes. Quando eu era criança, tinha o costume de, por vezes, entrar no banheiro de olhos fechados para tomar banho. Eu queria sentir como era a vida de alguém que era cego e como meus outros sentidos iriam me ajudar a fazer as atividades diárias.
Hoje, adulta, ainda sinto a mesma curiosidade de ver o mundo pelos olhos alheios. E foi isso o que me cativou instantaneamente em A Sign of Affection, cuja protagonista, Yuki, uma estudante universitária surda, descobre o amor pela primeira vez. Fazendo esse paralelo com as demais obras, precisamos citar semelhanças e diferenças, e abordar o que você pode esperar com o anime. Vamos às primeiras impressões?
- Gêneros: Romance
- Estúdio: Aija-Do (Kemono Jihen, Kakushigoto)
- Material fonte: Mangá
- Onde assistir: Crunchyroll
- Novos episódios: Sábado
Como é se relacionar para uma pessoa surda?
Isso é simples: é o mesmo que ocorre com todos os que são ouvintes. Temos medo da rejeição, de declarar nosso amor e de como os outros vão nos olhar. É basicamente a mesma experiência, só que sem ouvir.
E isso é muito claro em A Sign Of Affection, desde o primeiro episódio. Yuki é uma jovem adulta incrivelmente amorosa, gentil e entusiasmada. Ela quer conhecer outras pessoas e explorar o mundo, mesmo que ela diga várias vezes que o mundo dela é pequeno.
Nesse entusiasmo de início da vida adulta, Yuki conhece, no trem, um colega de faculdade que faz o mesmo clube que sua amiga. Ele a ajuda enquanto um estrangeiro tentava conversar com ela (sem sucesso). Ao primeiro encontro, ambos já parecem nutrir um sentimento de afeição e admiração um pelo outro.
O nosso protagonista, Itsuomi, é bonitão (é claro). Mas ele também é um mochileiro poliglota, que gosta muito de viajar, e tem uma personalidade super blasé. É o famoso cara gato, frio e distante. Nada contra o estereótipo, mas eu preciso te avisar o que o anime entrega.
Antes de começarmos efetivamente aos elogios e às críticas mais endurecidas, gostaria de dizer que o resumo é basicamente este: dois jovens adultos se conhecendo e entrando no mundo um do outro. Obviamente, a surdez dela é um ponto central na história, mas tirando isso, é um romance como qualquer outro!
A Sign of Affection NÃO é um drama
Isso, para mim, não era uma questão, até porque eu cheguei a ler parte do mangá, e já sabia que não iria me encontrar com um dramalhão de novela mexicana. É importante ressaltar esse ponto, até porque na nossa reunião das Regrasde3, o André comentou sobre uma possível semelhança com Koe no Katachi (The Shape of Voice), indicando que os dois são extremamente diferentes.
E são! Pessoalmente, gosto muito dos dois, mas a vibe é diferente demais. Em The Shape of Voice, o drama é o foco, junto com o desenvolvimento pessoal dos personagens. O romance, apesar de estar ali, fica em segundo plano.
A Sign of Affection é ROMANCE! Daqueles raiz mesmo, em que o gênero é o principal. Então, não espere histórias extremamente profundas com relação aos personagens. Apesar de serem jovens adultos, a Yuki não tem qualquer experiência com relacionamentos, o que acaba “infantilizando” esta jornada no recorte do espectador.
A princípio, A Sign of Affection se parece muito com outros romances. O estereótipo do cara bonitão e calado, e a menina super fofa. De fato, não foge muito de outros animes que você provavelmente já viu. O fato de serem um pouco mais velhos não muda muita coisa, também, justamente porque a protagonista é inexperiente (parece um romance adolescente).
Então, por que A Sign of Affection fez sucesso no mangá e tem tido sucesso também agora em anime? O que pode ser um ponto de diferença para quem quer assistir, e ainda não tem certeza?
A Sign of Affection pode ser um momento de conforto para você
Sabe quando você assiste algo fofo e se pega sorrindo sozinho? Isso acontece bastante comigo. Desde vídeos de gatos até vídeos de bebês, tudo o que é fofo me deixa com um sorriso besta. Eu defino A Sign of Affection assim.
Como diz um dos mais renomados poetas brasileiros, Fernando Pessoa, aqui em seu pseudônimo Álvaro de Campos:
Todas as cartas de amor são Ridículas. Não seriam cartas de amor se não fossem Ridículas. (...) As cartas de amor, se há amor, Têm de ser Ridículas. Mas, afinal, Só as criaturas que nunca escreveram Cartas de amor É que são Ridículas.
É refrescante, depois de um dia extremamente cansativo, deitar na sua cama e assistir a uma jovem Yuki cheia de energia para descobrir um novo amor. Olhar o mundo de outras formas é o que resume a vida de Yuki e Itsuomi, e também deve ser o mesmo conosco.
É também acolhedor ver como relatam a personagem de Yuki com carinho, dando atenção principalmente aos momentos em que ela faz a língua de sinais, focando em suas mãos com delicadeza e esmero. Para efeito de curiosidade, cada país possui a sua própria língua de sinais. Assim como não temos uma língua oral comum entre os países, também não há uma língua comum de signos. Assim, aqui no Brasil temos a LIBRAS, enquanto nos Estados Unidos tem a ASL e por aí vai.
O meu ponto é: acredito que A Sign of Affection teve toda essa repercussão apenas por conseguir transmitir sentimentos que são difíceis de se explicar. A ansiedade de um novo amor, a descoberta de novos mundos e as frustrações de expectativas possivelmente não cumpridas. Ser humano define a personagem da Yuki, e é incrivelmente fofo.
Devo assistir A Sign of Affection?
Se você quer assistir a um romance fofo, sim! Se você também quer saber como pessoas surdas podem se relacionar, também! Há diversos momentos em que Yuki não sabe muito bem como expressar seus sentimentos, e os envia pelas mãos ou pela escrita. A sensibilidade em colocar isso na tela é imensa! Afinal, tudo o que é mais importante no mundo sequer precisa ser dito.
Apesar de se colocar como um romance mais adulto, com personagens que estão na faculdade, não deixa de ser algo “bobo”. Ou, ainda, “ridículo”. Mas é, sim, ridiculamente bobo. É divertido e você nem vai ver o tempo passar.
E, consequentemente, também vai aprender sobre pessoas surdas. Há o costume por aí de se pensar que surdos são mudos, quando isso não é verdade! Yuki, por exemplo, nasceu surda, o que dificulta (MUITO) a oralização. Como você vai falar se você nunca ouviu sons? Contudo, há pessoas com surdez congênita que conseguem fazer terapia e falar, apesar de nunca terem ouvido a voz de ninguém. Não é incrível?
Para quem teve dúvida, como o meu irmão e a minha mãe: por que a Yuki usa aparelho se ela é totalmente surda? Além de identificá-la como uma pessoa surda, o uso de aparelhos auditivos pode ampliar os sons e auxiliar em situações de emergência, permitindo que a pessoa surda ouça barulhos em frequências mais altas.
Todas as vezes que assisto a algo assim, fico com a enorme vontade de aprender a me comunicar em LIBRAS. O nosso mundo é pequeno, e aprender algo a mais para entrar no mundo de alguém sempre é bem-vindo.
O amor, para Yuki (e para mim) é isso! Fazer parte do mundo de alguém. Que tal tentar esse anime para expandir o seu mundo?
