Pandora Hearts, obra de autoria de Jun Mochizuki, é um título certamente distante de qualquer história que você já tenha lido.
Com os gêneros mistério, ação, comédia e romance, a obra chegou a ganhar um anime de 25 episódios no ano de 2009.
O anime, dirigido por Takao Kato, e do estúdio XEBEC, infelizmente contou com pouquíssimos episódios, e, além disso, teve um final aberto e uma animação bem mediana. Ele adaptou 8 dos 24 volumes da série.
Se você já viu o anime e não saiu correndo para ir ler o mangá, vou te apresentar bons motivos para dar uma chance a essa obra.
Se você ainda não viu nenhum dos dois, recomendo assistir o anime antes, porque, na minha opinião a soundtrack, feita por Yuki Kajiura, é insanamente perfeita, e depois que você viciar na história, certamente vai desejar ter visto o anime original primeiro (FMA feelings).
Inclusive, que tal ouvi-la enquanto seguimos com essa crítica?
O começo de Pandora Hearts
Oz Vessalius, nosso personagem principal em Pandora Hearts, é herdeiro de uma das quatro casas nobres, e ao completar 15 anos, durante sua festa de introdução à sociedade, é lançado no Abismo. Não, não o de Made in Abyss.
Lá, ele se encontra com uma “Chain” chamada Alice. Após fazer um contrato com ela, Oz consegue sair do Abismo, mas logo descobre que já se passaram 10 anos desde a sua partida.
A trama continua com nossos personagens tentando descobrir os mistérios por trás de Alice, do Abismo e de uma organização chamada “Pandora”.
O buraco é bem mais em baixo em Pandora Hearts
Apesar da sinopse a princípio não apresentar nada de especial e nem de “novo”, quem já leu essa obra sabe que ela é um verdadeiro iceberg. A sinopse supracitada, comumente encontrada em sites de animes e na própria Wikipédia, na verdade não diz absolutamente nada de nada.
O próprio anime em questão levanta muitos mistérios e conflitos a serem resolvidos, porém limita-se a não responder nenhum deles.
A obra vai tão mais a fundo, que acho possível compará-la com cautela à Attack on Titan. Absolutamente todos os 25 episódios que você ver no anime vão apenas servir de base para a verdadeira história por trás que você acompanhará ao ler o mangá.
Confesso que a princípio li o mangá apenas por que de alguma maneira eu realmente gostei da história simplória e sem sal do anime. A verdade é que a acabei descobrindo um verdadeiro tesouro enterrado com a leitura de Pandora Hearts.
Clichê que não é clichê
Oz, nosso amado protagonista, desde muito pequeno ouve histórias sobre o Abismo, uma dimensão habitada por monstros, ou “Chains”, que distorce o tempo e realiza desejos.
Desde o começo da trama é apresentado ao espectador um herói de 100 anos atrás, que impediu a chamada “Tragédia de Sablier”. Jack Vessalius impediu que uma cidade inteira viesse a ser jogada no terrível abismo.
Coincidentemente Oz é exatamente idêntico à Jack (pleonasmo intencional). E esse é um dos primeiros clichês apresentados que te faz falar “ah, já entendi”.
Durante a história de Pandora Hearts, outros diversos acontecimentos vão te dando pistas e te levando a criar uma certa crença a respeito do que irá acontecer, já que se trata de uma obra de mistério, e eu acho que a minha parte favorita nesse anime é o elemento “surprise motherfucker”.
Além disso, vou te dar uma dica: a autora Jun Mochizuki não escreve UMA palavra em vão. Nenhuminha sequer.
Elenco de personagens bem desenvolvido
Certamente Pandora Hearts não é o tipo de história que joga personagem secundário na sua cara.
O mangá conta com diversos personagens e tenta ao máximo desenvolver suas histórias. Agregar contexto. Quando não consegue, deixa bem claro as suas personalidades, pelo menos.
O elemento inocência X malícia é muito bem trabalhado, e não se limita a tabelar um personagem como do BEM ou do MAL.
Para mim, a autora tenta na verdade demonstrar como cada um tem as suas verdades e mentiras internas, e monstra que ser humano é muito mais do que isso.
Acho esse aspecto muito legal, pois, em shounens num geral (SIM PANDORA HEARTS É SHOUNEN), a história tende a ter os mocinhos e os bandidos bem definidos, e para mim Pandora vai muito além disto.
A história se torna interessante justamente devido ao desenvolvimento que ela dá aos personagens, e te faz analisar se a história de quem supostamente “está errado” faz sentido ou não.
Quero já de cara esclarecer que apesar de Pandora Hearts ser um shounen diferente, ela não sai perdendo para os outros, não no quesito porrada. Você vai encontrar lutas e mortes neste título, esteja avisado(a).
Inclusive já te adianto que nenhum personagem ganha com o poder da amizade ou ressuscita magicamente.
Apesar do mangá ser bem fictício, as lutas internas dos personagens são reais e humanas. Além disso, se eu pudesse adicionar um gênero a essa obra, certamente seria tragédia.
Tudo está interligado em Pandora
Eu acho simplesmente sensacional quando o mangaká traz elementos do começo da história lá para o final, isso dá a sensação de que a história não foi simplesmente inventada até um ponto e depois foi tudo no improviso.
No caso de Pandora você não precisa se preocupar.
A história que é introduzida no começo do anime/mangá trata-se de algo que aconteceu 100 anos depois da Tragédia de Sablier. Nesse ponto, acho que a autora sacou uma carta de mestre ao apresentar a história contando ela primeiramente pela metade.
Para te explicar melhor, é como no filme do Star Wars: primeiro foram lançados os episódios 4, 5 e 6. Depois disso, George Lucas nos esclareceu o que aconteceu antes, com os episódios 1, 2 e 3.
Isso serve não apenas para novamente estreitar nossos laços com os queridos personagens e entender o porquê de tudo que está acontecendo, mas dá também a impressão de que a autora já tinha decidido como seria a história desde o começo.
Claro, não posso te afirmar isso, afinal eu não sou amiga íntima dela (risos). Mas você encontrará tudo interligado do começo ao fim em Pandora Hearts. Então, não precisa se preocupar com pontas soltas.
Gostaria de já te avisar que tramas que giram em torno dessa história espetacular não são meras justificativas, pois nesse mangá tudo tem um “por trás”.
Inclusive, confesso que em alguns momentos a explicação pode inclusive ser bem confusa. Então, leia tudo com atenção! Caso contrário vai vir aqui dizer que não entendeu nada….
Eu já disse que a autoria não escreve uma fala em vão?
Finalizando…
Ademais, se você já leu o mangá inteiro, minha dica é que leia ele de novo, porque você vai entender muito melhor a história.
Em suma, Pandora Hearts é sem sombra de dúvida uma joia enterrada.
Se você já for um(a) fã da série, recomendo procurar por mv’s (music vídeos) do mangá no Youtube para matar a saudade; existem milhares. A grande maioria é de alta qualidade, porém com spoilers.
Faz parecer que é o jeito que os fãs, que sofreram e gritaram com a trama, encontraram para sanar os seus corações que imploram por um remake digno no anime, com novas aberturas e endings para chorar quando a saudade bater.
E quanto ao final da história não se preocupe, não vai te decepcionar.
Por fim, recomendo muitíssimo a leitura. Mas claro, não temos todos os mesmos gostos, mas sem sombra de dúvidas vale a pena.
Além disso, apesar da série ser antiga, o último volume do mangá foi publicado pela editora Panini no Brasil agora, em março de 2020, no mesmo ano de publicação desta crítica.